Um ano depois, Agudo (RS) ainda contabiliza danos com desabamento de ponte
Um ano depois da sua maior tragédia, a cidade de Agudo (RS) ainda esconde as marcas da queda de um trecho de cem metros da ponte que liga o município a Restinga Seca, na RS-287, ocorrida em 5 de janeiro de 2010. Cinco pessoas morreram no acidente.
A chuva intensa daquela manhã elevou o nível das águas do rio Jacuí e levou dezenas de curiosos a se aglomerarem nas imediações da ponte para ver a correnteza. A estrutura, com mais de 50 anos de uso, não resistiu e desabou por volta das 9h.
Queda de ponte abalou cidade do RS
Trecho de cem metros da ponte sobre o rio Jacuí, na RS-287, na divisa entre os municípios gaúchos de Agudo e Restinga Seca, desabou em 5 de janeiro
“Por mais que se tente, é difícil esquecer. A cidade é pequena e perdeu pessoas queridas para a comunidade”, relembra o prefeito Ari da Anunciação, que estava perto do local na hora do acidente vistoriando a cheia do Jacuí.
O então vice-prefeito de Agudo, Hilberto Boeck, morreu no acidente. As outras vítimas foram Lori e Denizi Dumke, Nelo Jair dos Santos e Renato Camargo. Todos eram moradores da região.
A cidade ficou quase um ano sem ligação rodoviária com o centro do Estado, especialmente com Santa Maria. Até o mês passado, a ligação era feita por balsa, numa travessia que podia durar três horas.
No dia 3 de dezembro, a ex-governadora Yeda Crusius inaugurou a nova ponte – a obra havia sido prometida para setembro de 2010. A reforma custou R$ 40 milhões e foi batizada com o nome do vice-prefeito morto no acidente.
O prefeito de Agudo informou que apenas em dezembro foram concluídas as reformas em galerias pluviais e nas estradas da região, destruídas pela cheia de 2010. Quatro novas pontes tiveram de ser construídas em estradas municipais.
A cidade recebeu R$ 1,6 milhão do governo federal e R$ 100 mil do Estado para as obras de recuperação. Segundo Anunciação, a economia municipal só deverá se recuperar em 2012. “Muitos agricultores ainda não conseguiram saldar completamente as dívidas geradas pela cheia”, disse.
Vidas
“Já esqueci o prejuízo. Dinheiro a gente recupera. Mas e os clientes que vinham fazer compras aqui e morreram no acidente? Esses não voltam”, lamenta a empresária Lisane Friederich, dona do Super Lis – o único supermercado da cidade.
Durante uma semana logo após o acidente, a loja ficou sem comunicação com a matriz, em Santa Maria, e deixou de abastecer Agudo de produtos perecíveis, como carne e hortaliças. O movimento só começou a se normalizar quando um desvio pela RS-348 foi aberto, quatro dias depois do acidente.
O dono de um restaurante que fica ao lado da rodoviária disse na época à reportagem do UOL Notícias que levaria três anos para se recuperar do prejuízo. Ildo Kluge, no entanto, não apostou na volta do movimento e vendeu a churrascaria em agosto do ano passado. Com a redução no movimento de ônibus, o estabelecimento teve reduzido pela metade o movimento de clientes.
O agricultor Ildo Ilvo Dumke também tenta superar o trauma. Ele estava sobre a ponte no instante do desabamento e, até hoje, não consegue caminhar normalmente porque sofreu uma fratura na perna esquerda ao se bater contra o concreto. A mulher Lori e a filha Denizi estavam entre as vítimas do acidente. O noivo da filha, Nelo Jair dos Santos, também morreu.
“Não tem como esquecer. Às vezes, vejo gente se queixando que perdeu a colheita ou que está com dívida. Mas isso se recupera. Perder uma família inteira é que não tem volta”, disse o agricultor, por telefone.
Durante quatro meses, Ildo foi auxiliado pela irmã Ilda – ela deixou Paraíso do Sul, vizinha a Agudo, para viver com o agricultor.
Os pais de Nelo, que moravam em Paraíso do Sul, também não conseguem esquecer a tragédia. Arlindo ficou à espera do corpo do filho na RS-287 durante os dez dias de busca. “Fui na inauguração [da nova ponte], mas não consegui atravessar. Não pretendo voltar lá”, relatou ele à rádio Agudo.
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