Principais vítimas da violência, jovens usuários de drogas têm "vida curta" em Alagoas
A onda de assassinatos que atormenta Alagoas tem relação direta com a chegada do crack ao Estado, no início do século 21. Segundo estimativa apresentada pelo ex-secretário de Estado da Defesa Social, Paulo Rubim, 90% das mortes dos úlitmos anos estão relacionadas de alguma forma com o uso de drogas – seja por dívidas com traficantes, acerto de contas ou disputa por espaço para venda de narcóticos.
A maioria das vítimas é formada por jovens do sexo masculino entre 15 e 29 anos. Segundo o levantamento “Mapa da Violência 2010”, a taxa de homicídios entre essa população chega a 214,8 para cada 100 mil habitantes - quase nove vezes maior que a taxa geral de homicídios no Brasil, de 25,2. A pesquisa leva em conta os dados de 2007.
Em 2010, Alagoas alcançou a maior taxa de homicídios que um Estado registrou em todos os tempos. Segundo a Secretaria de Estado da Defesa Social, foram 2.226 assassinatos, o que resulta em uma taxa de 71,3 mortes para cada 100 mil habitantes – taxa sete vezes maior que a registrada por São Paulo em 2010, que foi de 10,47, segundo a Secretaria de Segurança paulista.
Nos últimos anos, Alagoas registrou um aumento assustador no número de homicídios. Em 1999, por exemplo, o Estado teve 552 homicídios. Onze anos depois, o crescimento foi de 303%. Nos últimos cinco anos foram mortas quase 10.000 pessoas.
Efeito do crack
Para o promotor do Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual, a chegada do crack tem ligação direta com o crescimento no número de mortes em Alagoas na última década. “Essa droga é relativamente nova e extremamente nociva. O Estado estava muito pouco preparado para a chegada do crack e não havia opções para tratamento do vício”, afirmou.
Para ele, é preciso investir em vagas para tratamento de dependentes químicos. “Hoje temos uma situação onde um jovem ingressa no mundo das drogas e, se ele for filho de rico, vai furtar dentro de casa, vai furtar familiares. Mas se for pobre, vai entrar na criminalidade para sustentar o vício. E isso é um caminho sem volta”, disse.
Segundo o governo, o Estado mantém um programa de tratamento que atende atualmente 500 jovens nas 16 casas de acolhimento de Alagoas. As vagas, porém, só foram criadas em 2010. Neste ano o número de instituições deve chegar a 30, ampliando para 1.000 o número de dependentes químicos atendidos.
Histórias tristes
Não são poucas as histórias de famílias que sofrem com a perda de parentes após problemas com drogas. Todos os relatos à reportagem do UOL Notícias têm uma semelhança: os familiares sempre alertaram, tomaram medidas e lutaram, sem sucesso, para evitar as mortes.
“Eu fiz de tudo. Meu filho começou usando potenay [anabolizante de animais, usado por alguns jovens para ganhar músculos], depois passou para maconha, crack. Descobri porque um amigo me disse e fiz de tudo para que ele largasse o vício. Ele estudava em escola particular, coloquei em pública após ser reprovado. Ou seja, fiz tudo que podia ser feito, mas não consegui”, conta o pai de Jailson Nascimento Vasconcelos Filho, assassinado aos 22 anos, dentro do presídio Cyridião Durval, no dia 1° de fevereiro.
Jailson não esconde que o filho foi preso por conta da participação em um assalto a um posto de combustível, mas não se conforma com o fato de o Estado não ter oferecido uma vaga para tratar o jovem. “Quem matou meu filho foi o Estado. Se ele tivesse tratamento, não iria ficar nessa vida de drogas”, lamentou.
A história de Jadeon Oliveira dos Santos, assassinado aos 23 anos, no bairro do Vergel do Lago, é parecida. “Nós descobrimos que ele usava drogas quando ele tinha 15 anos. Até os 18 anos nós pagávamos as dívidas dele. Depois dos 18 anos, deixamos de pagar para ver o que acontecia. E ele começou a furtar dentro de casas, as pessoas nas ruas. Ele foi preso várias vezes, foi para o programa Desafio Jovem, onde passou quatro meses, mas não adiantou e ele seguiu nessa vida”, contou o irmão de Jadeon, Jamerson Oliveira dos Santos.
Ele conta que, desde a morte de Jadeon, sua mãe está em estado de choque e não gosta de comentar sobre a perda. “Nós chegamos a interná-lo na Bahia, mas com dois dias ele fugiu. Quando voltou, já estávamos preparados para o pior. Cheguei a dizer a ele que, ou ele encontrava Deus, ou sabia o caminho que ia ter. E foi o que aconteceu em junho do ano passado”, explicou.
A mãe de Aílton Ferreira da Silva, morto a tiros aos 19 anos no Conjunto Virgem dos Pobres, em janeiro de 2010, conta uma história similar às duas anteriores. “Chegamos a acorrentar ele na cama por três vezes, porque ele mesmo disse que estava ameaçado de morte, que devia aos traficantes. Mas não tem como amarrar para sempre. No dia que foi solto, morreu”, conta Maria Aparecida da Silva.
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