Um mês após atropelamento de ciclistas, ativistas tomam as ruas de Porto Alegre
Cerca de 400 ciclistas organizados pelo movimento Massa Crítica saíram pelas ruas da parte central de Porto Alegre, na noite desta sexta-feira (25), para a tradicional pedalada que acontece na última sexta-feira do mês. Os ativistas aproveitaram para lembrar um mês do atropelamento de um grupo de ciclistas na capital gaúcha.
A repercussão do acidente –quando um motorista atropelou 17 pessoas do movimento– mudou a postura dos demais condutores em relação aos ciclistas, afirmou o editor João Carneiro, uma das lideranças dos ciclistas. “A visão da sociedade está mudando. A bicicleta foi colocada na pauta do dia.”
Reveja imagens do atropelamento
O operador de voo Thiago Rempel concorda que o transitar de bicicleta pelas ruas de Porto Alegre está diferente. “Hoje há mais respeito por parte dos motoristas.” No entanto, Rempel estava sem alguns equipamentos de segurança. “Custa R$ 120 [o capacete]. Mas comecei a ter mais cuidado.” Grande parte dos ciclistas presentes não contava com equipamentos de proteção e nem tinham sinalizações luminosas em suas bicicletas.
Ciclista de fim de semana, a aposentada Irena Macarine, 74, reforçou o pedalaço. “Ando de bicicleta só na praia. Mas hoje vim aqui bagunçar com a Massa Crítica.”
O motorista Nielson Grudzien, entretanto, criticou o passeio. “Eles tomam a rua numa sexta-feira na hora do rush e não comunicam a fiscalização. Outro dia buzinei para eles, e um grupo veio para cima de mim”, afirmou.
A Brigada Militar e a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) não foram avisadas do evento. A fiscalização tomou conhecimento do passeio através da internet e, apenas por volta das 19h10, foi informada do trajeto. “O passeio nesse horário acaba causando prejuízo para o trânsito, mas vamos administrando da forma que der”, destacou o Gerente de Fiscalização da EPTC, Carlos Pires.
“A Massa Crítica faz esse passeio toda última sexta-feira do mês. Já o trajeto, decidimos sempre na hora”, explicou João Carneiro.
Relembre o caso
No dia 25 de fevereiro, uma sexta-feira, o funcionário público Ricardo Neis, 47 anos, atropelou um grupo de ciclistas que participava da pedalada mensal do Massa Crítica. Ninguém se feriu gravemente.
Neis, que estava acompanhado do filho adolescente em seu Golf preto, teria discutido com alguns ciclistas, pois tentava passar pelo grupo, que havia tomado a rua José do Patrocínio, na área central de Porto Alegre. Após troca de ofensas, o bancário acelerou o carro, atingindo cerca de 17 pessoas.
Após o atropelamento, Neis deixou o filho na casa da ex-mulher, e abandonou o carro em uma rua do bairro Partenon, zona leste de Porto Alegre. O funcionário do Banco Central se apresentou na segunda-feira, dia 28, acompanhado de seus advogados. em depoimento ele afirmou que agiu em legítima defesa para forçar passagem entre os ciclistas, já que seu filho corria perigo devido a supostas ameaças por parte dos manifestantes.
Na mesma semana, o motorista se internou em um hospital para tratamento psiquiátrico. No dia 1° de março, sua prisão preventiva foi decretada. No entanto, os policiais não puderam levar Neis, pois ele não havia sido liberado pelos médicos.
Nos dias seguintes, a defesa tentou internar o bancário no Instituto Psiquiátrico Forense (IPF). No entanto, um exame médico requerido pela Justiça atestou que o motorista não sofria de doença psiquiátrica. No dia 11, ele foi encaminhado ao Presídio Central, em Porto Alegre, onde permanece preso.
Na última segunda-feira (21), o Ministério Público denunciou Neis por 17 tentativas de homicídio triplamente qualificadas (motivo fútil, mediante meio que resultou em perigo comum e mediante recurso que dificultou a defesa das vítimas). A Justiça aceitou o pedido.
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