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Vítimas enfrentam segundo recomeço em 10 meses após novas enchentes no Nordeste

Carlos Madeiro

Especial para o UOL Notícias<br>Em Alagoas e Pernambuco

08/05/2011 14h34

Se recomeçar a vida após perder tudo é uma tarefa difícil, recomeçar a vida 10 meses depois de outro recomeço é uma tarefa que desafia os moradores da zona da mata de Pernambuco e de Alagoas.

Em Palmares (PE), o último sábado (7) foi de limpeza das ruas do centro, inundadas pelo rio Una. “Foi uma tragédia. No ano passado perdi tudo, e este ano tive prejuízo também. É um sofrimento isso”, contou Ana Maria, que limpava sua loja –ocupada pela lama--, ao lado de funcionários.

Nas ruas de Água Preta (PE), o sentimento de desolação tomou conta dos moradores após as águas atingirem 1.900 casas. Na rua Maria Betânia Barros, no bairro do Forrozão, moradores contavam com apoio de amigos e parentes para tirarem a lama de dentro das casas, que ficaram completamente submersas na quinta-feira (5).

Ilda Maria da Silva, 32, vende guloseimas na porta de casa e, nesse sábado, mesmo com a casa cheia de lama, voltou a vender seus produtos. “Vivo disso, não posso parar porque não terei dinheiro. Meu marido só trabalha no fim de semana e ganha pouco”, disse.


Segundo ela, ao contrário da cheia de 2010, que ocorreu durante o período da tarde, na última quinta-feira eles acordaram por volta das 2h da madrugada. “Foi uma agonia. A gente saiu com o que pode, pelo meio da água, mas não dá para salvar tudo; sempre perdemos alguma coisa”, disse.

Aline Ferreira da Silva, 28, assegura que uma casa nova foi prometida a todos os moradores da rua, mas a esperança parece longe do semblante dos moradores do local. “A gente tem que ter força para recomeçar, apesar de saber que podemos ser vítima a qualquer momento. O que posso fazer, se não temos para onde ir?”, lamentou.

A espera por casas em Água Preta vai demorar mais que nas demais cidades pernambucanas. Segundo a prefeitura, problemas burocráticos na terraplanagem dos terrenos fizeram com que as obras atrasassem. “Não temos um tijolo ainda colocado. Temos 2.159 casas contratadas pela Caixa Econômica, e esperamos que pelo menos 500 sejam entregues até dezembro”, explicou o secretário de Administração da cidade, Francisco de Assis.

Em Barreiros (PE), onde 2.569 pessoas estão desabrigadas, os moradores reclamam da falta de informações e da consequente incerteza do futuro. “Fui cadastrado em 2010, depois daquela cheia, mas a verdade é que ninguém sabe de nada. Nunca vieram dizer nada”, disse Jaílson Henrique da Silva, 45.

Nesse sábado, ele e amigos se reuniram na rua do Carrapicho, onde bebiam cachaça com siriguela. “É para distrair, porque senão a gente endoida”, contou Edeilson Castanha, 20, que reclama da falta de assistência dos órgãos públicos. “Não temos água potável desde terça”, disse.

Depois de quatro dias dormindo em acampamento, Zaquel José da Silva, 52, voltou nesse sábado a sua casa, alagada entre terça e sexta-feira. Mas a ideia não é ficar. “Vim mesmo para olhar como estão as coisas, pois se a gente vacilar, a turma leva tudo. Foi só para ajustar as coisas”, disse.

Questionado sobre o recomeço e esperança do futuro, ele desabafa: não tenho para onde ir, não tenho opção”. Segundo Zaquel, durante todo o inverno será difícil dormir sossegado. “Vamos ficar nessa vida: se o rio subir, a gente corre”.

Em São Luiz do Quitunde (AL), onde mais de 2,1 mil pessoas ficaram desalojadas, muitos moradores também começaram a contabilizar o prejuízo após o nível do rio Santo Antônio baixar. “Ninguém nos avisou nada que o rio ia encher. É difícil aguentar viver em um lugar assim, mas só resta esperar darem um casa em outro lugar. Até lá, tenho que ficar aqui”, lamentou Maria José de Albuquerque, 60.