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Corpos de ambientalistas assassinados são enterrados no Pará

Funeral do casal de extrativistas morto no Pará é marcado por emoção e protestos - Tarso Sarraf/AE
Funeral do casal de extrativistas morto no Pará é marcado por emoção e protestos Imagem: Tarso Sarraf/AE

Alessandra Gonçalves

Especial para o UOL Notícias<br>Em Marabá (PA)

26/05/2011 15h09

Os corpos do casal de ambientalistas Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro, assassinados na última terça-feira (24) em Nova Ipixuna, foram enterrados na manhã desta quinta-feira (26), no Cemitério da Saudade, em Marabá.

O enterro, que aconteceu pouco antes do meio-dia, foi precedido de um cortejo pelas ruas da cidade, acompanhado por cerca de 5.000 pessoas. Além dos familiares do casal, havia muitas pessoas ligadas aos movimentos sociais.

Pouco antes do amanhecer, os militantes fecharam a ponte sobre o rio Itacaiúnas, que dá acesso à zona urbana de Marabá. A Polícia Militar foi acionada e interveio na liberação de uma das pistas. Durante o cortejo, foi rezada uma missa de ação de graças em memória dos extrativistas assassinados.

Maria Joel Dias da Costa, esposa do sindicalista José Dutra da Costa, o Dezinho, assassinado em 2000 em Rondon do Pará, no sudeste do Pará, também participou do protesto. Ela, que é coordenadora regional da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), atribui a morte de Maria do Espírito Santo e José Claudio à omissão do Estado.

“Eles faziam parte da lista de marcados para morrer e que o próprio Estado diz que é uma lista que não existe. Então, prova é que a gente chora e homenageia a morte do casal, que assim se foram como o caso do Dezinho e outros companheiros que foram assassinados”, disse.

José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da Terra, lamentou a morte dos ambientalistas. “Infelizmente, é uma perda muito grande, o Estado, não conseguiu dar a segurança necessária para essas pessoas continuarem fazendo a defesa da reforma agrária, da floresta e acima de tudo da vida”, disse.

Ameaças anteriores

Depoimento de Zé Cláudio no TED x Amazônia

Charles Trocate, coordenador estadual do MST, disse que as mortes nada mais são do que um histórico de impunidade que se confirma a cada dia que passa, que permite que a prática de violência, de eliminação física de pessoas, possa continuar a acontecer no Estado, o qual tem tanto espaço para fazer assentamentos de reforma agrária.

“Quinze anos após o massacre de Eldorado do Carajás, o índice de trabalhadores presos e assassinados não diminuiu nada, pelo contrário, ganhou mais densidade e tem crescido imensamente”, disse.

Roberto Ricardo Vizentin, secretário do Ministério do Meio Ambiente e representante da ministra Izabela Teixeira, informou que sua presença no enterro foi de solidariedade para renovar compromissos, uma vez que para ele um crime como esse não pode ficar impune.

O secretário do Ministério do Meio Ambiente lembrou ainda que a morte de José Claudio e Maria do Espírito Santo tem uma relação histórica com a luta que eles fizeram em defesa do meio ambiente, da reforma agrária e de um pedaço de terra para viver.

“Desde a origem desse assentamento, mesmo antes de ser um assentamento, o Ministério do Meio Ambiente já compreendia e apoiava a luta desses trabalhadores e não será agora, portanto, que faltará o apoio do Ministério e nessa hora difícil”.               

Corpos

Às 11h em ponto, o grupo de militantes e familiares dos extrativistas chegou ao cemitério. Os corpos de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo baixaram aos túmulos, cercados pela emoção dos familiares, exatamente às 11h50.