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Pecuarista é o principal suspeito de encomendar morte de ambientalistas no Pará

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

08/06/2011 17h36

As investigações da Polícia Civil do Pará apontam um pecuarista como o principal suspeito de ter encomendado a morte do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, assassinados em Nova Ipixuna (PA). A polícia ainda não pediu a prisão preventiva do fazendeiro, apesar de o crime ter ocorrido há mais de duas semanas.

Segundo investigação da Polícia Civil, o homem é proprietário de uma extensa área vizinha ao assentamento Praialta/Piranheira, onde o casal vivia. Recentemente, para aumentar sua propriedade, o pecuarista adquiriu dois lotes de dois assentados, o que é não é permitido.

Ao saber da irregularidade, José Cláudio impediu os assentados de sairem dos lotes e denunciou o caso ao Incra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária). Após a ação, o pecuarista teria começado a fazer ameaças ao extrativista e teria encomendado o crime, ainda segundo a investigação.

Os laudos do IML (Instituto Médico Legal) sobre os crimes foram concluídos na tarde desta quarta-feira. O instituto realizou exames de necropsia e balística. A conclusão é que Maria foi morta antes do que José Cláudio. Ambos foram alvejados por balas de chumbo, disparadas por armas de caça. No total, quatro tiros foram disparados pelos pistoleiros.

Retratos falados

Ontem, a Polícia Civil do Pará divulgou os retratos falados de dois suspeitos que seriam autores dos disparos. Segundo o delegado agrário José Humberto de Melo Júnior, os retratos foram desenhados por peritos da Polícia Civil a partir de depoimentos das testemunhas que disseram ter visto a movimentação dos suspeitos antes e depois dos crimes.

De acordo com os retratos, um dos suspeitos seria branco e teria altura entre 1,60 m e 1,65 m, rosto arredondado e cabelos lisos castanhos. Já o segundo homem seria negro, com olhos médios, nariz chato e cabelos curtos escuros, compleição forte e altura aproximada de 1,70 m. A polícia do Pará já tem a identidade dos dois principais suspeitos, mas não irá divulgá-la antes que as prisões ocorram.

PROCURADOS

  • Divulgação/Polícia Civil

    Retratos falados dos principais suspeitos pelas mortes em Nova Ipixuna (PA)

A rota de fuga dos dois suspeitos, segundo a polícia, foi o rio Tocantins. Testemunhas teriam relatado que os dois homens foram vistos às 5h30 do dia do crime seguindo para o assentamento e às 8h30 fazendo o caminho inverso em direção ao rio.

Onda de mortes

Cinco camponeses foram mortos na região norte em menos de dez dias, quatro deles no sudeste paraense. O última morte foi de Marcos Gomes da Silva, 33, natural do Maranhão, assassinado em Eldorado dos Carajás no quarta-feira (1º).

Na semana retrasada, três mortes ocorreram em Nova Ipixuna, também no sudeste do Pará: o casal de castanheiros José Cláudio Ribeiro da Silva, 52, e Maria do Espírito Santo da Silva, 50, ativistas que denunciavam a ação ilegal de madeireiros, foi executado na terça-feira (24); no domingo (29), foi encontrado o corpo de Eremilton Pereira dos Santos, 25, que morava no mesmo assentamento do casal.

Na sexta-feira (27), a vítima foi Adelino Ramos, o Dinho, liderança do Movimento Camponês Corumbiara (MCC), assassinado enquanto vendia verduras em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO). Dinho foi um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara --ocorrido em agosto de 1995, no qual pelo menos 12 pessoas morreram nas mãos de pistoleiros e PMs-- e também denunciava a atuação de madeireiros.

Ninguém foi preso pelos crimes ocorridos no Pará. Em Rondônia, o suspeito Ozias Vicente, que atuava na extração ilegal de madeira, foi detido na segunda-feira (30). A polícia investiga a participação de outras pessoas no crime.