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MPF dá 10 dias para Exército dar "sossego" e cessar cornetas e gritos de guerra às 5h em Alagoas

Aliny Gama<br> Especial para o UOL Notícias

Em Maceió

01/07/2011 13h56

Os gritos de guerra e os tradicionais toques de corneta matutinos do Exército Brasileiro estão tirando a paz dos moradores das ruas de Arapiraca (AL). Incomodados com o barulho das atividades diárias do militares logo ao amanhecer do dia, os moradores da rua Sargento Benevides Montes, no bairro Primavera, pediram para que o barulho vindo dos soldados fosse reduzido. Sem sucesso. Foi preciso que o MPF (Ministério Público Federal) entrasse no caso para cobrar a devolução das longas noites de sono aos moradores.

Na terça-feira (28), os promotores encaminharam documento dando um prazo de 10 dias para que o Exército mude a rotina dos treinamentos, que deverão ter início somente a partir das 8h, e não mais às 5h como ocorre hoje. Segundo o MPF, a recomendação foi expedida para garantir a “paz” e o “sossego” dos moradores. Caso contrário, o MPF pode ingressar com uma ação judicial para cobrar uma solução.

O procurador da República José Godoy explicou que a recomendação não serve apenas para os moradores da rua onde o Tiro de Guerra está instalado, mas atinge também outros pontos da cidade, já que os treinamentos externos acontecem em outras ruas de Arapiraca antes das 8h. A cidade, com 200 mil habitantes, é a segunda maior de Alagoas, a 125 km de Maceió.

Segundo o MPF, o barulho da corneta incomoda os vizinhos ao Tiro de Guerra do Exército. Segundo relatos de moradores, os treinos começam com a utilização de instrumentos sonoros, como cornetas e zabumbas, seguidos por cantos e gritos de guerra.

Noites de sono mais longas

A cobrança do MPF trouxe a esperança de dias mais silenciosos aos moradores da rua Sargento Benevides, que já sonham com noites de sono mais longas.

O comerciante José Cícero da Silva, 48, mora ao lado do Tiro de Guerra não esconde a ansiedade em poder dormir até mais tarde. Ele relata que o barulho vindo dos treinos do Exército já causou inúmeros problemas. “É um absurdo a gente não ter direito de acordar a hora que a gente quer. Sei que eles estão no dever deles, mas preferia acordar às 7h para tomar café e ir trabalhar tranquilo. Hoje já acordamos estressados. Nessa rotina, não há nervo que aguente”, contou Silva, que mora a 200 metros do Exército.

A dona de casa Maria José Francisca de Oliveira, 50, também não esconde a reclamação do barulho do Tiro de Guerra que, segundo ela, começa antes do sol nascer. “Tem dia que a zoada já começa às 4h30 da madrugada. A gente tem de se adaptar à rotina dos soldados, como se morasse num quartel, porque ninguém consegue dormir tranquilo com o grande barulho que eles fazem de corneta, de zabumba e com os hinos que eles gritam”, disse.

Francisca relata que há cinco anos mora vizinha ao Tiro de Guerra e jamais iria imaginar que o Exército causasse tanto transtorno aos moradores. “Quando as crianças ficam doentes aqui em casa é que a coisa piora porque nem elas dormem, nem a gente dorme. Fica impossível ter tranquilidade nessa situação”, disse, ressaltando que não teve coragem de ir reclamar do barulho por “serem todos oficiais do Exército”. “Ainda bem que alguém intercedeu por nós.”

Há 31 anos morando em frente ao Tiro de Guerra, a aposentada Cícera Maria da Silva, 67, relata que na sua casa apenas ela não se incomoda com barulho dos treinos. Para a aposentada, que está acostumada em acordar cedo, o maior problema são as crianças que despertam ainda na madrugada devido ao barulho. “A zoada é grande, mas eu não me incomodo porque gosto de acordar cedinho. Mas meus filhos e netos reclamam demais. Digo sempre que prefiro esse barulho a não ter segurança. Pelo menos morando em frente ao Exército, a gente se sente guardada da violência”, afirmou.

Resposta

Nesta sexta-feira (1º), o Exército Brasileiro informou ao UOL Notícias que o Comando da 7ª Região, responsável pelo Tiro de Guerra de Arapiraca, já recebeu a notificação e está analisando o conteúdo da recomendação para decidir quais providências vai tomar.

Segundo o coronel Brandão, responsável pela Sala de Imprensa, o Exército foi notificado na quarta-feira (29) e "dentro do prazo estipulado informaremos que medida iremos adotar".