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Vaticano acompanha julgamento de padres acusados de pedofilia em Arapiraca (AL)

Aliny Gama

Especial para o UOL Notícias<br>Em Maceió

08/07/2011 18h20

Dois representantes do Vaticano estão acompanhando nesta sexta-feira (8) o julgamento dos padres Edilson Duarte, 43, Luiz Marques Barbosa, 84, e Raimundo Gomes, 50, acusados de pedofilia pelos ex-coroinhas Anderson Farias, 22, Cícero Flávio, 23, e Fabiano Ferreira, 22, em Arapiraca (AL).

Além do processo judicial, os três padres enfrentam um processo canônico, baseado nas normas do Direito Eclesiástico, que decidirá se eles serão expulsos das atividades religiosas. Os agora padres Luiz Marques Barbosa e Raimundo Gomes já perderam o título de monsenhor.

Responsáveis pelo processo canônico dos três religiosos, os padres Daniel do Nascimento e João Neto, da Diocese de Penedo, dizem que estão representando o Vaticano e acompanham toda a sessão. Nascimento explicou que todas as provas já foram enviadas para Roma desde o início do ano e que o “processo canônico ainda está correndo na Santa Sé.”

Segundo ele, o Vaticano deverá divulgar o resultado do julgamento em até seis meses, independentemente do veredito da Justiça. Nascimento explicou que os padres poderão ser absolvidos na Justiça e condenados pelo Vaticano ou vice-versa.

Julgamento

O julgamento desta sexta-feira ocorre na 1ª Vara de Infância e da Juventude de Arapiraca e começou às 9 horas. Devido à grande quantidade de testemunhas, o julgamento não tem hora para terminar, além do debate entre a promotoria do Ministério Público e os advogados de defesa dos religiosos. Ao todo, 26 pessoas serão ouvidas, e os depoimentos devem prosseguir em audiência na próxima semana.

As supostas vítimas Anderson Farias, Cícero Flávio e Fabiano Ferreira já prestaram depoimento e aguardam o resultado em casa. O UOL Notícias conversou com os três ex-coroinhas após prestarem depoimento. Eles disseram estar confiantes na condenação dos padres, mas também esperam um resultado do Vaticano.

Para o ex-coroinha Fabiano Ferreira, “independentemente do resultado desta sexta-feira, a próxima batalha nossa é que retomem o julgamento do processo canônico”. “Esses homens não podem continuar suas atividades na Igreja, usando do poderio sacerdotal e coagir menores para aliciá-los. Éramos crianças e estávamos sempre recebendo pressão com ameaças de mortes”, disse Ferreira.

Já Anderson Farias reclamou da omissão da Igreja Católica, pois “em nenhum momento veio ninguém conversar conosco, nem para oferecer auxilio espiritual”. “Espero que a Igreja seja firme no posicionamento porque será uma decepção muito grande caso não haja nenhuma punição. Não sabemos em que pé está esse processo canônico, e essa espera é o que mais nos angustia”, afirmou Farias.

O jovem Cícero Flávio se mostrou o mais revoltando com a situação e disse que o sentimento negativo não é com a Igreja, mas sim com “seus dirigentes”. “Esse processo canônico está guardado num guarda-roupa e ninguém fala nada. Sentimos que há corporativismo nisso e estão acobertando o caso”, denunciou.

Sentença será em outro dia

Segundo o juiz João Luiz de Azevedo, o veredito não deverá ser dado nesta sexta-feira devido à complexidade dos autos. “Esse é o primeiro julgamento de padres acusados de exploração sexual de menores no Brasil. Tenho 25 anos de carreira e nunca peguei um caso tão complexo. O julgamento será longo e é provável que eu marque outro momento para dar o veredicto”, informou Azevedo.

De acordo com o juiz, a Justiça só se fará Justiça se ela for justa, com a absolvição ou a condenação dos acusados. “Depois que colher todos os depoimentos dos envolvidos, preciso de mais um tempo para analisar todo o conteúdo e certamente marcarei outro dia para o veredito”, afirmou ele, antes de iniciar os trabalhos.

A imprensa não foi autorizada a acompanhar o julgamento, que está acontecendo em uma sala reservada, por se tratar de denúncia quando as vítimas eram menores de 18 anos. Devido à acusação de pedofilia, o processo corre em segredo de Justiça.

A reportagem do UOL Notícias tentou contato com o bispo da Diocese de Penedo, à qual está ligada a cidade Arapiraca, dom Valério Brêda, mas não conseguiu. Na entrada para o julgamento, os padres também se recusaram a conversar com os jornalistas presentes ao local.