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Com inundação, moradores de Campos (RJ) ficam em casa para evitar saques e criticam autoridades

Rodrigo Teixeira

Do UOL, em Campos dos Goytacazes (RJ)

06/01/2012 13h05Atualizada em 06/01/2012 14h54

Um dia após o rompimento de um dique na cidade de Campos de Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro, os moradores da localidade de Três Vendas, na zona rural, insistem em ficar em casa nesta sexta-feira (6).  A área foi completamente alagada depois que um trecho da rodovia BR-356, que serve como barragem para conter as águas do rio Muriaé, se rompeu, criando uma cratera de aproximadamente 20 metros. Cerca de 1.000 famílias moram na região.


O diretor da associação de moradores de Três Vendas, André Guedes, afirma que metade da população ainda está no local. “Muitos moradores ainda estão aqui, o medo é de serem roubados, gente que construiu isso tudo em uma vida corre o risco de ser roubada. Permanecem em suas casas aqueles que têm um pavimento acima”, conta o líder comunitário.

A reportagem do UOL não viu nenhuma patrulha policial fazendo a segurança do local.

Localização do dique rompido em Campos

  • Arte UOL

O governo decidiu cortar o fornecimento de luz na região. A Defesa Civil Municipal alega que o corte é necessário para evitar acidentes com a rede elétrica, mas o secretário da Defesa Civil, Henrique Oliveira, chegou a dizer que a luz seria cortada para forçar a saída das famílias restantes.

O subsecretário de Defesa Civil municipal, major Edson Pessanha, diz que o serviço deve ser interrompido até o final da tarde de hoje e que a prioridade é levar as famílias para abrigos.

“É importante que as pessoas deixem suas casas, lá poderão ser melhor atendidas. Estamos fazendo a vacinação da antitetânica e contra a hepatite em um posto montado na parte alta de Três Vendas e em alguns abrigos”, afirma o major.

Durante todo o dia, a Secretaria da Defesa Civil realiza operação para tentar convencer as famílias a saírem do segundo andar de suas casas. As famílias retiradas se encontram temporariamente em duas escolas municipais e em acampamentos. Ontem (5), cerca de 450 ônibus foram utilizados para levar os moradores de Três Vendas para locais considerados seguros.


“Há previsão de mais chuva durante todo o verão e as estruturas das casas podem não aguentar. Vamos de casa em casa de barco, com assistentes sociais, tentar convencer as pessoas sobre os perigos de doenças como a dengue, a leptospirose e explicar que essa situação deve se manter durante muitos dias ainda”, disse o secretário da Defesa Civil municipal, Henrique Oliveira, à Agência Brasil. "O trecho destruído da estrada só poderá ser reconstruído depois que o rio baixar. Por isso, é difícil ter uma previsão de quanto tempo vai levar para os moradores poderem voltar às suas casas”, disse Oliveira.

Ele lembrou que em 2007, o rio Muriaé já havia destruído parte da BR-356 e alagado Três Vendas. Os moradores ficaram quatro meses com suas casas sob as águas e perderam tudo. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes fez os reparos em 2008, o que não impediu uma nova tragédia.

Campos de Goytacazes não está na lista dos 251 municípios em áreas de risco (veja a lista em PDF) no mapeamento  feito pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O levantamento inclui as áreas mais propensas a sofrer algum tipo de desastre natural. Reportagem publicada pelo site Contas Abertas mostra que, desses 251 municípios, apenas 23 receberam recursos em 2011.

A moradora Bruna da Rocha, 28, comerciante, diz que a enchente é um problema recorrente no local e as autoridades não tomam providência. “Eu não entendo de obra, mas há três anos isso aconteceu aqui. É tragédia anunciada, a prefeitura deveria fazer alguma coisa.”
    
Seguido de perto por sua cachorra, o estudante Jeferson Ribeiro, 20, que teve que atravessar a enchente para ir ao encontro de sua mulher que está prestes a ganhar o primeiro filho do casal, estava desolado por ter perdido seus pertences. “Vou embora deste lugar, vou para a casa da minha sogra, onde está minha mulher que vai ganhar neném. Essa cheia foi a pior, esse lugar não dá mais, acabou para mim.”

Pescadores aproveitam vazão do Muriaé

Na localidade de Sapucaia, que antecede o bairro de Três Vendas, alguns moradores aproveitam a vazão do rio Muriaé para pescar.

“Estou aproveitando a fartura de peixes, estou de férias, bom mesmo é pescar, aqui está dando curimatá, conhecido como papa-terra e também o bagre africano, hoje vamos comer peixe assado”, diz o auxiliar de serviços gerais Tiago Silva.

Enquanto isso, o agricultor Manoel Santos passa com sua canoa pelo rio. “Estou aqui no meu barco, ontem isso era uma estrada , hoje uma rio, é a força da natureza”, finaliza.


Situação no Estado

De acordo com o último boletim divulgado pelo governo do Rio, já são mais de 34 mil pessoas desalojadas (na casa de parentes ou amigos) e desabrigadas (em abrigos públicos) na região norte do Estado.

Continuam em situação de emergência seis municípios: Laje do Muriaé, Santo Antônio de Pádua, Itaperuna, Italva, Cardoso Moreira e Miracema. Campos de Goytacazes ainda não decretou o estado de emergência.

Na cidade de Itaperuna, os desalojados soman 7.000 e os desabrigados, 120. Em Italva, o número de desalojados é de 6.000 e o de desabrigados, 90. Campos de Goytacazes tinha cerca de 3.000 desalojados e 592 desabrigados e São Fidélis, 283 desalojados e 52 desabrigados.

Santo Antônio de Pádua somava 12 mil desalojados e 300 desabrigados. Já em Laje de Muriaé, são 2.500 desalojados e 100 desabrigados --a cidade contabiliza um morto. No município de Aperibé há 600 desalojados e apenas nove desabrigados. Cambuci soma 310 desalojados e 80 desabrigados.

Em Cardoso Moreira, que tem 90% de sua área alagada, segundo o secretário municipal de Defesa Civil, Juarez Noé, são 1.235  pessoas desalojadas e outras 619, desabrigadas.

Mapa mostra as cidades afetadas pela chuva no norte do Rio de Janeiro

(Com Agência Brasil)