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Primeiro desligamento de energia deve durar 12h em Campos (RJ); polícia promete segurança

Rodrigo Teixeira

Do UOL, em Campos dos Goytacazes (RJ)

06/01/2012 18h37Atualizada em 06/01/2012 19h55

Segundo a Ampla, concessionária de energia elétrica em Campos dos Goytacazes (RJ), o primeiro corte no fornecimento de luz na região do bairro de Três Vendas deve durar 12 horas e, passado o período, haverá uma avaliação do religamento. "As pessoas correm risco de morte porque os relógios estão submersos e a força precisa ser desligada", reforçou o gerente operacional da empresa, Leandro Peres.

Os moradores do local se recusam a aceitar o corte de energia do município e chegaram a impedir que um funcionário da concessionária de energia acessasse o transformador de uma das entradas do bairro para desligar a luz.

A área foi completamente alagada depois que um trecho da rodovia BR-356, que serve como barragem para conter as águas do rio Muriaé, se rompeu, criando uma cratera de aproximadamente 20 metros. Cerca de 1.000 famílias moram na região.

Localização do dique rompido em Campos

  • Arte UOL

Cerca de 32 policiais chegaram ao bairro para garantir o desligamento da energia. De acordo com o tenente-coronel Lúcio Flávio de Souza, do 8º BPM em Campos, a Polícia Militar vai garantir a segurança da região e a integridade dos moradores.

Segundo Souza, dois carros da polícia farão patrulha na área durante 24 horas por dia. A PM vai trabalhar em conjunto com a Guarda Civil Municipal, e rondas do Corpo de Bombeiros também acontecerão durante à noite.

A Defesa Civil Municipal afirmou que o corte é necessário para evitar acidentes com a rede elétrica, mas o secretário da Defesa Civil de Campos, Henrique Oliveira, chegou a dizer que a luz será cortada na região de Três Vendas para forçar a saída de cerca de 500 famílias que se recusam a deixar o local.

O presidente da associação de moradores, Willis Martins Ferreira, afirmou que as autoridades não querem entender o lado do moradores. "E quem que vai pagar o nosso prejuízo?", disse.

Os moradores querem manter a energia e ficar em suas casas por temerem saques. “Na última enchente, em 2008, (as autoridades) nem ligaram para Três Vendas. Se cortarem a energia, aí que os ladrões poderão saquear nossas casas”, diz o comerciante Cláudio Guimarães.

O secretário municipal de Defesa Civil de Campos disse que o trabalho de convencer os 2.000 moradores do bairro de Três Vendas, que se recusam a sair de suas casas, vai continuar durante todo o fim de semana.

“O trabalho está muito difícil. Nós temos que fazer o trabalho de convencimento das famílias de deixarem as casas. Nós queremos garantir o melhor atendimento possível para as famílias”, disse o secretário.

Ainda de acordo com Henrique Oliveira, não se pode afirmar quando o nível da água vai baixar. Segundo ele, é possível que a região fique alagada até o mês de fevereiro. Entretanto, a previsão da Defesa Civil é de que o mês de janeiro seja de muita chuva, alagando ainda mais a localidade.

O subsecretário de Defesa Civil municipal, major Edson Pessanha, diz que a prioridade é levar as famílias para abrigos. “É importante que as pessoas deixem suas casas, lá poderão ser melhor atendidas. Estamos fazendo a vacinação da antitetânica e contra a hepatite em um posto montado na parte alta de Três Vendas e em alguns abrigos”, afirma o major. As famílias retiradas se encontram temporariamente em duas escolas municipais e em acampamentos. Ontem (5), cerca de 450 ônibus foram utilizados para levar os moradores de Três Vendas para locais considerados seguros.

“Há previsão de mais chuva durante todo o verão e as estruturas das casas podem não aguentar. Vamos de casa em casa de barco, com assistentes sociais, tentar convencer as pessoas sobre os perigos de doenças como a dengue, a leptospirose e explicar que essa situação deve se manter durante muitos dias ainda”, disse o secretário da Defesa Civil municipal, Henrique Oliveira, à Agência Brasil. "O trecho destruído da estrada só poderá ser reconstruído depois que o rio baixar. Por isso, é difícil ter uma previsão de quanto tempo vai levar para os moradores poderem voltar às suas casas”, disse Oliveira.

Ele lembrou que em 2007, o rio Muriaé já havia destruído parte da BR-356 e alagado Três Vendas. Os moradores ficaram quatro meses com suas casas sob as águas e perderam tudo. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) fez os reparos em 2008, o que não impediu uma nova tragédia.

Campos de Goytacazes não está na lista dos 251 municípios em áreas de risco (veja a lista em PDF) no mapeamento  feito pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O levantamento inclui as áreas mais propensas a sofrer algum tipo de desastre natural. Reportagem publicada pelo site Contas Abertas mostra que, desses 251 municípios, apenas 23 receberam recursos em 2011.

A moradora Bruna da Rocha, 28, comerciante, diz que a enchente é um problema recorrente no local e as autoridades não tomam providência. “Eu não entendo de obra, mas há três anos isso aconteceu aqui. É tragédia anunciada, a prefeitura deveria fazer alguma coisa.”
    
Seguido de perto por sua cachorra, o estudante Jeferson Ribeiro, 20, que teve que atravessar a enchente para ir ao encontro de sua mulher que está prestes a ganhar o primeiro filho do casal, estava desolado por ter perdido seus pertences. “Vou embora deste lugar, vou para a casa da minha sogra, onde está minha mulher que vai ganhar neném. Essa cheia foi a pior, esse lugar não dá mais, acabou para mim.”

Pescadores aproveitam vazão do Muriaé

Na localidade de Sapucaia, que antecede o bairro de Três Vendas, alguns moradores aproveitam a vazão do rio Muriaé para pescar.

“Estou aproveitando a fartura de peixes, estou de férias, bom mesmo é pescar, aqui está dando curimatá, conhecido como papa-terra e também o bagre africano, hoje vamos comer peixe assado”, diz o auxiliar de serviços gerais Tiago Silva.

Enquanto isso, o agricultor Manoel Santos passa com sua canoa pelo rio. “Estou aqui no meu barco, ontem isso era uma estrada , hoje uma rio, é a força da natureza”, finaliza. (Com Agência Brasil)

Situação no Estado

De acordo com o último boletim divulgado pelo governo do Rio, são quase 10.000 pessoas desalojadas (na casa de parentes ou amigos) e desabrigadas (em abrigos públicos) na região norte do Estado.

Estão em situação de emergência sete municípios: Aperibé, Laje do Muriaé, Santo Antônio de Pádua, Itaperuna, Italva, Cardoso Moreira e Miracema. Campos de Goytacazes ainda não decretou o estado de emergência.

Na cidade de Itaperuna, os desalojados somam 2.000 e os desabrigados, 106. Em Italva, o número de desalojados é de 620 e o de desabrigados, 120. Campos de Goytacazes tinha cerca de 1.600 desalojados e 1.200 desabrigados e São Fidélis, 283 desalojados e 92 desabrigados. Santo Antônio de Pádua somava 72 desabrigados.

Já em Laje de Muriaé, são 1.000 desalojados e 50 desabrigados --a cidade contabiliza um morto. No município de Aperibé há 600 desalojados e 60 desabrigados. Cambuci soma 25 desabrigados. Em Cardoso Moreira, que tem 90% de sua área alagada, segundo o secretário municipal de Defesa Civil, Juarez Noé, são 1.235 pessoas desalojadas e outras 619, desabrigadas.

(Com Agência Brasil)