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Justiça absolve policial do Bope que matou inocente ao confundir furadeira com arma

Comandante do Bope mostra imagens de furadeira e metralhadora para justificar confusão - Marcelo Theobald / Agencia O Globo
Comandante do Bope mostra imagens de furadeira e metralhadora para justificar confusão Imagem: Marcelo Theobald / Agencia O Globo

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/01/2012 12h06

O cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Leonardo Albarello, acusado de matar um homem que segurava uma furadeira durante operação policial realizada na zona norte do Rio de Janeiro em maio de 2010, foi absolvido sumariamente na última quinta-feira (12) e, dessa forma, não irá a júri popular.

Segundo o Tribunal de Justiça, a inocência do policial foi defendida pelo próprio Ministério Público.

A vítima --o supervisor de supermercado Hélio Barreira Ribeiro, 47-- utilizava uma furadeira na varanda de sua casa no morro do Andaraí, na zona norte da cidade, no exato momento em que o Bope subia a favela para combater o tráfico de drogas.

Relembre: cabo confude furadeira com arma e mata um

O cabo alegou que confundiu o objeto com uma submetralhadora e atirou em Ribeiro, que teve o pulmão perfurado por uma bala de fuzil e chegou a ser atendido no hospital da região, porém não resistiu.

De acordo com o TJ, os representantes da família da vítima ainda podem decorrer da decisão, que foi assinada pelo juiz da 3ª Vara Criminal da Capital, Murilo Kieling Pereira.

O magistrado entendeu que "a distância, a influência dos raios solares e a presença de vasos do tipo xaxim pendurados no terraço não permitiam que o acusado tivesse certeza na identificação do objeto que Hélio segurava".

O cabo Albarello, que atua na divisão de elite da Polícia Militar há dez anos, foi indiciado por homicídio doloso em ocorrência registrada na 20ª Delegacia de Polícia (Vila Isabel). Ele responde ao crime em liberdade.

Entenda o caso

A operação no morro do Andaraí ocorreu no dia 19 de maio de 2010 com o objetivo de localizar traficantes refugiados de uma comunidade vizinha -- atualmente, as favelas da região da grande Tijuca (incluindo a do Andaraí), na zona norte, possuem UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

Ribeiro estava na companhia da mulher, identificada como Regina, na varanda de casa no momento em que foi atingido.

Antes de morrer, ele fora alertado pela esposa a respeito do perigo de utilizar uma furadeira no exato momento em que policiais trocavam tiros com traficantes. O supervisor de supermercado instalava uma lona no local.

Na época, as versões apresentadas pela família da vítima e pela Polícia Militar foram conflitantes. De acordo com os parentes, os agentes do Bope não só atiraram contra a vítima, mas também invadiram a sua residência e desrespeitaram a mulher de Hélio.

Nesse momento, os PMs da divisão de elite teriam identificado a ação equivocada e encaminhado Ribeiro para o hospital da região.

Na época, o comandante do Bope, coronel Paulo Henrique Moraes, afirmou que os agentes do Bope gritaram para o suspeito solicitando que ele largasse o objeto.

Porém, segundo o oficial, Ribeiro teria realizado um movimento brusco, o que motivou a "ação consciente" (pois, em tese, poderia configurar uma situação de risco para a tropa) do cabo Albarello.

O coronel, contudo, admitiu que houve erro por parte do policial.