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Novos confrontos são registrados nos arredores de área reintegrada em São José dos Campos

Guilherme Balza

Do UOL, em São José dos Campos (SP)

23/01/2012 19h31Atualizada em 23/01/2012 19h52

O clima tenso após a reintegração de posse realizada no domingo na comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (97 km de São Paulo), parece longe de terminar. No começo da noite desta segunda-feira (23), novos confrontos foram registrados.

Manifestantes colocaram fogo em um sofá e fecharam uma das pistas da avenida dos Evangélicos, no Campos dos Alemães, bairro próximo da comunidade. Depois disso, vários carros da Força Tática da Polícia Militar começaram a jogar bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo na tentativa de conter os protestos. As bombas chegaram a ser jogadas perto de um veículo do jornal “O Globo”.


Os moradores ficaram assustados e algumas pessoas se esconderam em suas casas. Aparentemente não há feridos no episódio.

No final da tarde, um caminhão e uma biblioteca foram incendiados também nos arredores da comunidade do Pinheirinho. O caminhão ficou completamente destruído. Já a biblioteca foi parcialmente danificada. Ninguém ficou ferido e os responsáveis não foram localizados. Outros nove veículos foram incendiados entre ontem e hoje.

Segundo o coronel da Polícia Militar Manoel Messias Mello, que comandou a operação de reintegração, 34 pessoas foram presas na comunidade e arredores desde ontem –18 só nesta segunda-feira. Outros quatro menores foram detidos após tentarem incendiar uma padaria de madrugada.

Entre os detidos estão quatro procurados pela Justiça. Outros quatro foram presos por serem flagrados portando algemas. Há detidos também por porte de drogas e de armas. A maior parte dos presos já foi liberada, segundo Mello, que qualificou os detidos de “vândalos anônimos”.

Ontem, a polícia usou bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra os moradores que resistiram em sair. A operação foi criticada por parlamentares, como o senador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Ivan Valente, do PSOL, que viram abuso de autoridade e excesso de violência por parte da PM.

O comandante da PM diz não ter presenciado ou ter recebido informações de casos de violência e abuso. “Usamos armas não letais. Fizemos o necessário para conter a pressão”, afirmou. O policial disse que foi empregado elevado número de PMS na ação (2.000) para diminuir a possibilidade de confronto. “Quando se põe muita gente é para desestimular um confronto forte. É uma medida preventiva. Sabemos que isso foi perfeitamente favorável.”

O policial afirmou que não há mortos na reintegração –a informação é contestada por um representante da Ordem dos Advogados do Brasil de São José dos Campos, que também é advogado dos moradores. Já a prefeitura da cidade informou que 20 moradores se feriram, sendo um com mais gravidade.

A tensão diminuiu nas ruas do entorno do Pinheirinho, se comparada a ontem, mas o clima entre os moradores é de revolta e desolação por conta da reintegração de posse, ordenada pela juíza Márcia Loureiro, da 6ª Vara Cível de São Paulo.

Os moradores voltaram a enfrentar os policias na manhã de hoje, mas ninguém ficou ferido. A confusão começou logo após o início da retirada dos móveis das residências do assentamento. Segundo os moradores, algumas pessoas não foram permitidas a acompanhar a retirada dos pertences, o que provocou o confronto. Também houve confusão na fila do centro de triagem. Para dispersar os moradores, a polícia jogou bombas de efeito moral.

Mais de 6.000 pessoas moravam na comunidade há cerca de oito anos. O terreno pertence à massa falida da Selecta, que era de propriedade de Naji Nahas, preso na operação Satiagraha. Cerca de 3.000 moradores estão abrigados em dois ginásios cedidos pela prefeitura e em uma igreja.

Desde a manhã, os moradores estão retirando os pertences de suas casas acompanhados por 40 oficiais de justiça e policiais. Muitos reclamam da demora no processo. A PM estima que a reintegração se conclua até amanhã, com a destruição das casas e a liberação do terreno.

Cadastro social

Área é desocupada pela PM
em São José dos Campos (SP)

  • Arte/UOL

Moradores estão sendo atendidos pelas equipes de assistência social da prefeitura e centenas de pessoas aguardam passar pelo cadastro social.

“Estou na fila há quatro horas e até agora não consegui ser atendida. No meu barraco moravam sete pessoas. Estou abalada e triste com o que está acontecendo. Perdi minhas coisas e agora não sei para onde irei. Só tenho um número, só sou um número. É este aqui (mostrando o papel com a senha recebida enquanto desocupava a área ontem à tarde)”, disse a dona de casa Eliane Borges Figueira, 30, ao UOL.

Erdilei Alves, 24, e a mulher Ana Lúcia Alves, 24, foram alguns dos desabrigados que dormiram em uma igreja que serve de abrigo público. Eles ouviram uma suposta bomba que teria sido jogada durante a madrugada. “Estávamos deitados no chão quando vimos a explosão. Quase acertou uma equipe da assistente social que estava próximo da gente”, conta Ana Lúcia, que relatou ter passado a noite deitada no chão frio. “Não tinha colchão, não tinha nada no chão. Só o gelado”, completa.

Segundo a prefeitura afirmou no começo da tarde, foram cadastradas cerca de mil famílias e a grande maioria está preferindo ir para casa de amigos e familiares. Na rede de saúde, foram atendidas 20 pessoas com ferimentos leves, todas medicadas e liberadas. Apenas uma pessoa permanece internada –um homem que foi atingido por um tiro na manhã de domingo (22).


*Com colaboração de Rodrigo Machado, em São José dos Campos, e informações das agências Brasil e Estado