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Ministro e forças federais são enviados à Bahia; policiais civis não aderem à greve

Heliana Frazão

Do UOL, em Salvador

03/02/2012 18h39

A secretaria de comunicação do governo da Bahia afirmou no final da tarde desta sexta-feira (3) que as Forças Armadas e a Força Nacional disponibilizaram cerca de 3.000 militares para ajudar a garantir a segurança em Salvador e principais cidades do interior baiano por conta da greve de parte dos policiais militares. A madrugada de hoje foi a mais violenta desde o começo da paralisação, no começo da semana. Ainda segundo o governo estadual, já estão no Estado 2.350 homens das forças estaduais e, no sábado (4), desembarcarão mais 600 militares.

As tropas deslocadas para a Bahia são provenientes dos Estados de Sergipe, Alagoas, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Por determinação da presidente Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, e a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, chegam a Salvador para acompanhar o trabalho das Forças Armadas.

Policiais civis resolvem não aderir

Reunidos em assembleia na tarde desta sexta-feira (3), os policiais civis decidiram não aderir à greve parcial deflagrada no último dia 31 por cerca de 10 mil dos 31 mil policiais militares da Bahia. Quem informa é Carlos Lima, diretor do Sindicato dos Policias Civis da Bahia (Sindpoc).

"Encaminharemos nossas reivindicações para o governo logo após o Carnaval”, disse, acrescentando que, embora rejeite a hipótese de também cruzar os braços neste momento, a categoria não condena a iniciativa dos colegas militares.

Entre outros itens, os policiais civis pedem aumento do piso salarial para dez salários mínimos, cerca de R$ 6.000. “Em Sergipe, um Estado muito menor que a Bahia, companheiros já iniciam com esse valor”, diz Bernardino Gayoso, do Sindpoc. Segundo ele, atualmente o piso na Bahia é de pouco mais de R$ 2.500.
"Se não houver negociação e o governo não aprovar nenhuma das nossas propostas, vamos fazer paralisações e até greve se for preciso, mas não agora. Temos o Carnaval pela frente", finalizou.

Manifestantes invadem ônibus para bloquear avenida na Bahia

Madrugada violenta

Esta foi a madrugada mais violenta em Salvador desde o começo da greve, que começou no início da semana. Do início da madrugada (00h12) até o começo da manhã (06h41), 18 pessoas foram assassinadas na cidade, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Como base de comparação, na última sexta-feira (27), foram registradas 13 mortes entre 06h04 e 23h20. Lojas e supermercados também foram alvo de criminosos durante a madrugada, sendo arrombados e saqueados.

A população tenta retomar a rotina nesta sexta-feira, mas, no centro da cidade, vendedores e ambulantes reclamam que as vendas caíram em média 70% devido à falta de público, apesar de já ser possível verificar a presença dos policiais da Força Nacional, que circulam em grupos de cerca de cinco ou seis homens. As calçadas da avenida Sete de Setembro, que em dias normais são quase intransitáveis por causa dos camelôs, hoje estão praticamente livres.

“Vamos continuar dialogando com quem quer dialogar, mas a via da força e da afronta é um caminho muito perigoso”, disse, na manhã de hoje, o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Telles. Nesta manhã ele se reuniu com representantes de associações representativas da corporação, à exceção da Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra), que lidera o movimento.

A onda de violência se verifica em diferentes regiões da cidade. Na avenida Jorge Amado, no bairro da Boca do Rio, orla da capital, quatro corpos, supostamente de moradores de rua, foram encontrados com marcas de tiro. A polícia ainda não os identificou. São três homens e uma mulher.

Outra vítima foi o percussionista da banda Olodum, Denilton Souza Cerqueira, de 34 anos, morto a tiros na porta de casa, durante a madrugada, no bairro periférico da Mata Escura. Dois homens armados, em uma motocicleta, teriam abordado o músico e feito os disparos.

Um policial militar também foi baleado na manhã desta sexta-feira no bairro do Cabula, em Salvador, no conjunto Recanto Verde, onde mora. Rogério Fernando de Aquino, 47, saía de casa para o trabalho quando foi abordado por cinco homens armados. Os demais crimes ocorreram em bairros periféricos.

No bairro da Liberdade, um dos mais populosos da cidade, pelo menos cinco grandes lojas de eletrodomésticos tiveram as portas arrombadas e os produtos saqueados por grupos armados. O mesmo aconteceu na região das Sete Portas, centro velho da capital. Em vários bairros lojas foram saqueadas.

Câmeras de uma joalheria, no bairro da Calçada, mostram a ação ousada de um grupo de criminosos, que invadiu a loja com um veículo. Eles roubaram tudo e fugiram, abandonando o carro no local. A ação durou cerca de 40 minutos.

Assustado, o sindicato dos motoristas de ônibus quer suspender os trabalhos às 18 horas, caso o clima de insegurança permaneça, mas o sindicato patronal não concorda. “Estamos sem nenhuma segurança. Só Deus nos protege”, disse o motorista Jair Silveira de Lima.  Os bancários, principalmente do interior, também reivindicam o fechamento das agências. A Febraban ainda não se manifestou a respeito do pleito.

A greve

Na manhã de ontem, a Justiça decretou a ilegalidade da greve e o retorno imediato ao trabalho, mas os grevistas não acataram a determinação judicial. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, caso seja necessário, os agentes federais permanecerão até o Carnaval de Salvador, que começa no próximo dia 16 de fevereiro, ou seja, em 12 dias. A Bahia tem 31 mil policiais. A estimativa de Telles é a de que um terço deles esteja em greve.

Boa parte dos grevistas, estimados pelo sindicato como 500 pessoas, está acampada no prédio da Assembleia Legislativa. “Nós só sairemos de lá quando o governo voltar a sentar à mesa de negociação. O movimento está forte”, disse na última quarta-feira o soldado Marcos Prisco, presidente da Aspra.

Para justificar a greve, a Aspra reivindica o pagamento da GAPV (gratificação por atividade policial), a regulamentação do pagamento de auxílio acidente e adicionais de periculosidade e insalubridade, entre outros itens.

O comandante-geral da PM, Alfredo Castro, reconhece a existência de defasagens salariais, mas alega que o governo vem paulatinamente recuperando as perdas.

(Com Agência Brasil)