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Defensoria Pública tenta tirar crianças e adolescentes de prédio ocupado por grevistas na Bahia

Janaina Garcia

Do UOL, em Salvador

07/02/2012 13h15

Equipes da Defensoria Pública da Infância e Juventude de Salvador estão neste momento dentro da Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador, tentando convencer mães e parentes de policiais em greve para liberarem as crianças que estão no prédio.

Desde ontem (6) às 21h, segundo o chefe de Comunicação do Exército, tenente-coronel Márcio Cunha, sete crianças e adolescentes deixaram o local.

Mais cedo, foi autorizada a entrada de mantimentos e materiais de higiene para quatro crianças que estão dentro da Assembleia. “[A entrada de comida e material de higiene] foi autorizada pela Secretaria de Segurança Pública em função da evolução nas negociações, e para quatro crianças, o que não significa que haja apenas quatro delas lá. Elas estavam com fome e as tropas do Exército entregaram, até a zona de limite, aos manifestantes”, disse Cunha.

Segundo o líder do movimento grevista, no entanto, Marcos Pristo, entre 30 e 40 crianças e adolescentes --entre os quais, dois bebês ainda lactantes-- estão no interior da Assembleia e “não querem” deixar o local.

“Há também dois idosos, gestantes e mais mulheres, mas a liminar judicial não pode fazer com que obriguemos essas pessoas a saírem. Concordei que saíssem, mas não posso exigir que façam isso senão voluntariamente”, disse Prisco, por telefone, ao UOL.

“Fato é que a notícia ontem de que a Força Nacional ou o Exército poderiam invadir deixou todo mundo [entre os não militares] em pânico, com muita gente chorando --esse efetivo do lado de fora, da União, é muito pesado-- nem na ocupação do Alemão [no Rio, em novembro de 2010] teve tanta gente”, completou.

Bolo e "parabéns"

Instantes depois, o comandante da 6ª Região da PM no Nordeste, general Gonçalves Dias, foi recebido por policiais e familiares dos grevistas, do lado de fora, com a entrega de um bolo e música parabéns, em função de aniversário dele hoje.

Para o general, que atuou na equipe de segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o objetivo é “acabar com isso hoje”. Ele enfatizou que “10% ou 15% de reajuste não valem sangue” e disse que, a despeito de as tropas da Força Nacional serem treinadas para situações como essa e a ocupação de morros cariocas, não há a intenção de um confronto “de militar contra militar”.

Voto de confiança

Na manhã desta terça-feira (7) também foi permitida a entrada de comida, remédios e mantimentos para PMs grevistas e familiares.

"Foi um voto de confiança e demonstração de boa vontade da parte do governo com os grevistas", disse o chefe do setor de comunicações do Exército, o tenente-coronel Márcio Cunha.

A nutricionista Maria José dos Santos, 65 anos, disse que conseguiu que os militares do Exército permitissem que ela enviasse feijão, roupas, analgésico e material de higiene para os grevistas.

Ela é mãe de dois policiais militares que estão dentro da Assembleia. "Minha filha e meu filho estão lá dentro. Trouxe o que eles pediram. Com o cansaço, estão precisando de analgésico. Hoje, eles pretendem fazer um feijão para todos lá dentro", disse Santos.

Ela disse que viveu momentos de muita tensão ontem, com a informação de que o Exército iria invadir o prédio.

"Minha filha me disse que estava um clima muito tenso porque todos eles estavam com medo de uma invasão. Quando os caminhões do Exército passaram para a parte de traz do prédio houve pânico. Hoje estou mais tranquila e ela me disse que lá dentro as coisas também estão mais calmas", disse a nutricionista, que evita ficar muito tempo ao telefone com os filhos para não descarregar as baterias dos celuleres.

Com a energia cortada, os manifestantes estão tendo dificuldade para recarregar os celulares. Além disso, o banho está racionado. Quem toma banho em um dia, não toma no outro.

Entenda

A paralisação na Bahia foi deflagrada na última terça-feira (31) por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, mas apenas um foi cumprido: o soldado Alvin dos Santos foi preso na madrugada de domingo (5) pelo comandante do batalhão, major Nilton Machado, sob a acusação de formação de quadrilha e roubo de veículos da Polícia Militar.

Cerca de 300 policiais militares estão amotinados dentro da Assembleia Legislativa em Salvador, cercados pelas forças federais, que negociam o fim da greve. Marcos Prisco, que é presidente da Aspra,  chegou a afirmar que cerca de 2.000 pessoas já estiveram dentro da Assembleia.
 
Na segunda-feira, soldados lançaram bombas de efeito moral e dispararam balas de borracha contra policias grevistas que estavam do lado de fora e que tentavam entrar no local.

De acordo com Prisco, os grevistas não vão deixar a Assembleia até que sejam revogados os pedidos de prisão de 12 grevistas, além da concessão da anistia irrestrita para os grevistas e o pagamento de gratificações.

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: aulas foram canceladas, assim como shows, a Justiça teve seu trabalho suspenso e os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. O número de homicídios e assaltos também aumentou --até o fim de semana, as mortes já eram superiores ao dobro do registrado no mesmo período na semana anterior à greve