Governo de Minas quer "prioridade absoluta" na apuração da morte de integrantes do MLST
O secretário de Estado de Defesa Social (Seds) de Minas Gerais, o procurador de Justiça Rômulo Ferraz, determinou "prioridade absoluta" para a apuração da morte dos três integrantes do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) na manhã do último sábado (24), que está a cargo da Delegacia de Homicídios de Uberlândia.
Foram enviados para a cidade um delegado, três investigadores e um escrivão do Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP) de Belo Horizonte para ajudar nos trabalhos em Uberlândia.
O total de pessoas trabalhando no caso, conforme Samuel Barreto, é de 15. “Por ter sido o primeiro caso registrado na região e por se tratar de um crime bárbaro, o secretário achou por bem enviar mais equipes. Que vão contribuir com o trabalho, por serem especializados no assunto e terem competência para atuar em todo o Estado”, disse.
Sem prestar nenhum esclarecimento sobre autoria ou motivação, o delegado chefe do 9º Departamento de Polícia Civil, Samuel Barreto, disse que a polícia trabalha com duas linhas de investigação, mas que elas estão sendo feitas em caráter de sigilo. “Estamos divulgando o mínimo de informações para não atrapalhar”, disse.
O delegado afirmou que três pessoas do acampamento, entre elas a criança de cinco anos que estava no carro no momento do crime, já foram ouvidas. Segundo Samuel Barreto, a polícia tem prazo de até 30 dias para concluir o inquérito.
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Execução
Uma disputa com proprietários de uma usina de beneficiamento de cana-de-açúcar, em Prata (621 km de Belo Horizonte), pode estar por trás dos assassinatos. Já no boletim de ocorrência consta que três homens teriam sido suspensos do movimento por praticarem crimes com a bandeira do MLST. Essas seriam as supostas linhas investigadas pela polícia. “Só posso afirmar que se trata de execução”, disse Barreto.
O coordenador nacional do MLST, Ismael Costa, informou por telefone que acredita que essa disputa pela área da usina seja a principal causa do crime. Segundo ele, houve uma audiência no dia oito deste mês, quando o filho do proprietário da área disse que os integrantes iriam sair do local. “Para nós essa é a principal linha de investigação”, disse.
Não houve acordo na audiência, e o processo foi enviado para Belo Horizonte para que fosse analisado. Em fevereiro, de acordo com Costa, o proprietário e o filho estiveram na área e tentaram entrar, mas foram impedidos. “Eles estavam bastante alterados e queriam entrar de qualquer forma”, disse. A reportagem do UOL entrou em contato com o Ministério Público em Belo Horizonte, mas ainda não obteve resposta.
O caso
Valdir Dias Ferreira, 40, Milton Santos Nunes e Clestina Leonor Sales Nunes, 52 e 48 anos, foram mortos na manhã de sábado (24) com tiro na cabeça, cada um. Os três estavam na altura do distrito de Miraporanga (40 km de Uberlândia) e haviam saído de carro de Prata, onde o movimento mantém acampamento na fazenda São José dos Cravos, quando foram fechados por um veículo prata.
O autor executou o condutor e o casal com tiros na cabeça. Um menino de cinco anos, neto do casal e sobrinho de Valdir Ferreira, foi poupado do assassino. Os tiros foram mortos à queima-roupa. Milton Nunes foi o único que teve chance de fugir, mas foi baleado a poucos metros do carro. A hipótese de que seja uma execução é reforçada pelo fato de mais de R$ 1.600 das vítimas terem sido deixados no local.
A criança foi levada pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros para o assentamento da fazenda São José dos Cravos, em Prata, lugar onde há cerca de 80 famílias e que foi invadido há aproximadamente quatro meses.
Proteção à criança
Durante o velório de Valdir Dias, em Uberlândia, o superintendente regional do Incra, Carlos Calazans, e o ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, estiveram na cidade e disseram que vão pedir a proteção da criança. Em coletiva de imprensa na manhã deste domingo, o delegado Samuel Barreto informou que ainda não foi feito nenhum pedido.
Segundo Calazans, se o triplo homicídio for confirmado como sendo por conta do conflito agrário, é o primeiro registrado com tamanha gravidade na região do Triângulo Mineiro.
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