Topo

Polícia ouve hoje pais de adolescente morta no Hopi Hari sobre suposto erro em perícia

Janaina Garcia

Do UOL, em Campinas (SP)

29/03/2012 14h45Atualizada em 29/03/2012 15h08

A Corregedoria da Polícia Civil de Campinas toma na tarde desta quinta-feira (29) o depoimento dos pais da adolescente Gabriela Nichimura, 14, morta no fim do mês passado em um acidente no brinquedo La Tour Eiffel, no parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo (SP). O casal depõe no inquérito para apurar se houve erro dos peritos do Instituto de Criminalística de Campinas na primeira perícia feita no brinquedo. O procedimento foi realizado em uma cadeira diferente da ocupada pela adolescente.

Uma nova perícia foi realizada dias depois, graças à divulgação de uma foto pela família, na qual Gabriela aparecia sentada em um assento diferente do examinado. Para o advogado da família, Ademar Gomes, a perícia errada “atrapalhou muito o resultado das investigações”. “Quero que esclareçam se erraram ou foram induzidos ao erro, bem como qual funcionário do parque indicou a eles a cadeira errada”, declarou.

No mesmo inquérito, a defesa ainda quer a apuração da divulgação de fotos do corpo da adolescente em blogs. Na opinião de Gomes, as fotos podem ter saído de integrantes do IC (Instituto de Criminalística) ou da ambulância que atendeu a vítima.

Os pais chegaram pouco depois das 14h à corregedoria da Polícia Civil, no centro de Campinas, e não falaram com a imprensa. Segundo o advogado, o casal --que passava férias no Brasil quando ocorreu o acidente-- retorna neste sábado (31) para a cidade de Iwata, no Japão, onde vive há 19 anos. Eles acompanharão de lá o andamento das investigações.

Entenda o caso

A adolescente Gabriela Nichimura, 14, morreu ao cair do brinquedo La Tour Eiffel. Ela usou uma cadeira que estava desativada há dez anos, mas sem sinalização. A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu e morreu por traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

Depois do acidente, a polícia ouviu funcionários, visitantes e familiares da garota. Após a mãe da adolescente mostrar fotos tiradas minutos antes do acidente, verificou-se que a primeira inspeção havia sido feita no assento errado. A perícia na cadeira efetivamente usada por Gabriela constatou que a trava abria quando o brinquedo era colocado em atividade.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes, no município de Vinhedo (SP). O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do Hopi Hari.

Na nota, a assessoria do parque afirmou que avaliações preliminares apontam que sucessivas falhas humanas podem ter sido a causa da tragédia. O parque disse ainda que "cumprirá com suas responsabilidades perante a família, a Justiça e as autoridades técnicas".
 


Reabertura

O parque foi autorizado a reabrir após assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da administração do Hopi Hari com o Ministério Público. O acordo determina que os brinquedos West River Hotel e Simulakron, que ainda dependem de adequações, segundo o MP, ficarão interditados. Já o La Tour Eiffel está interditado por tempo indeterminado enquanto corre o inquérito policial sobre o caso.

“Nos últimos 20 dias, foram realizadas vistorias técnicas em todos os brinquedos do parque que, pelo novo TAC, se compromete a adotar uma série de providências recomendadas pelos órgãos técnicos para garantir total segurança aos usuários”, diz nota do órgão.

O West River Hotel precisará ser adequado às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o Simulakron precisará ter instalado um sistema de monitoramento por meio de câmera infravermelha, com operador exclusivo, diz o MP. 

“Em 30 dias, o parque deverá buscar junto ao fabricante do Simulakron a possibilidade de implementação de dispositivo que não permita o início ou a continuação da operação caso o cinto de segurança não esteja devidamente posicionado”, alega o órgão.

Já as atrações Montezum e Vurang deverão receber, de imediato, procedimento de duplo controle do fechamento das travas de segurança na operação.

O parque também terá de aprimorar a orientação ao usuário, de forma a chamar a sua atenção para o efetivo fechamento das travas. A implantação dessas melhorias deverá ser comprovada em sete dias. 

Os fabricantes desses dois últimos brinquedos serão consultados sobre a possibilidade de implementação de dispositivo que impeça o início da operação, caso as travas de segurança não estejam corretamente posicionadas. 

O parque ainda deve consultar o fabricante da atração Vula Viking sobre a possibilidade de colocar uma "espuma injetada" na proteção de colo do usuário.

Pelo acordo, o Hopi Hari deverá comprovar ainda, no prazo de 30 dias, a contratação de serviço de consultoria, a ser realizada por "empresa de notória especialização", para realização de diagnóstico do sistema de qualidade, segurança, riscos e saúde do parque. Concluídos esses trabalhos, o parque deverá implementar todas as recomendações constantes do plano de implementação e, ao final do processo, apresentar o Certificado de Qualidade do Sistema de Gestão.

Ainda segundo o MP, o termo acordado também estabelece a obrigação do Hopi Hari executar, em até 60 dias, uma série de adequações e melhorias apontadas pelos pareceres técnicos emitidos pelo Centro de Apoio Operacional à Execução do Ministério Público após as vistorias realizadas em 13 atrações do parque.

O MP afirma ainda que o parque se comprometeu a não colocar em funcionamento qualquer brinquedo que apresente defeito conhecido que possa colocar em risco a segurança do usuário. Além disso, deverá implantar sinalização clara e objetiva acerca da impossibilidade de uso de determinado assento integrante de atração em operação.

O Hopi Hari também deverá substituir todo aviso ou comunicação visual dirigida aos técnicos de manutenção e operação, que esteja em língua estrangeira, por outro sinal ou aviso em português. E, no prazo de 12 meses, providenciará a tradução para a língua portuguesa de todos os manuais das atrações do parque. Também deve garantir o contínuo treinamento dos funcionários, afirma o MP. 

O TAC, assinado pela promotora de Justiça Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, prevê multa diária de R$ 95 mil para o caso de descumprimento de quaisquer das cláusulas.