Topo

"Meu sonho é voltar a andar", diz sobrevivente do massacre na escola de Realengo

Um ano depois do ataque, Thayane diz não sentir raiva do atirador: "Sinto só pena?. - Fabíola Ortiz/UOL
Um ano depois do ataque, Thayane diz não sentir raiva do atirador: "Sinto só pena?. Imagem: Fabíola Ortiz/UOL

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

06/04/2012 06h00

“O primeiro sonho que eu quero realizar é voltar a andar”, afirma Thayane Tavares Monteiro, 14, sobrevivente do massacre na escola Tasso da Silveira, em Realengo, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, ocorrido há um ano.

A manhã do dia 7 de abril de 2011 era para ser mais um dia normal de aulas na escola municipal, mas aquela quinta-feira ficou marcada por um acontecimento inédito no país: o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, 23, entrou no colégio armado com dois revólveres de calibre 32 e 38, invadiu duas salas de aula, disparou dezenas de vezes contra estudantes matando 12 alunos e deixando outros 12 feridos.

Thayane levou três tiros: no braço, abdômen e costelas. A adolescente estava em uma das salas invadidas pelo atirador e viu quase toda a ação de Wellington. Para sobreviver, fingiu que estava morta.

Hoje, a motivação de voltar a andar ajuda Thayane a enfrentar diariamente uma rotina de sessões de fisioterapia, consultas médicas, dores e a lembrança que permanece na memória “como se tivesse sido ontem”.

A adolescente foi a última estudante a receber alta, dia 14 de junho de 2011, após dois meses e meio de internação no hospital estadual Adão Pereira Nunes com um período de coma induzido.

Ela ainda tenta se acostumar com a cadeira de rodas e consegue executar poucos movimentos, como mexer alguns dedos do pé direito e arrastar a perna esquerda. A recuperação “é um processo bem lento”, admite. Todas as segundas, quartas e sextas-feiras, Thayane tem hora marcada no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) para fisioterapia. “Eles me dizem para ter esperança. Eu tenho”. 

A maior barreira para a adolescente que um dia já fez atletismo e sonhava em ser atleta profissional é ficar presa a uma cadeira de rodas. “Eu nunca vou me adaptar. É difícil andar na calçada, minha casa tem escada, não tem o acesso que eu preciso”.

Volta aos estudos

Depois de ficar afastada das aulas no ano passado, a jovem voltar a estudar este ano na mesma escola. “A escola estava diferente, bonita, mas ficou desse jeito porque aconteceu aquilo tudo. É bom rever os amigos, mas é ruim saber que eu fui ano passado para a escola e estavam todos os meus amigos reunidos e, hoje eu vou, e ficaram só os que restaram”. Nove alunos de sua sala foram vítimas do atirador.

Relembre em vídeo o caso de Realengo

A escola está adaptada para receber Thayane em sua cadeira de rodas, mas, para a adolescente, o maior desafio é prestar atenção às explicações dos professores. “Consigo assistir às aulas, mas não presto direito atenção. É muito barulho, fico com medo. Quando deu tiro, foi muito barulho. Agora, tenho a impressão que está tendo tiro. Eu tenho medo de passar por tudo aquilo de novo”.

Neste sábado Thayane quer participar da carreata marcada para as 15h em frente à escola Tasso da Silveira. “Vou fazer uma homenagem às minhas amigas e amigos que morreram. Vou pedir paz para que nada disso se repita. Mais segurança nas escolas, se tivesse mais segurança isso teria sido evitado e não teria acontecido.”

A estudante não quer apagar da lembrança aquele dia que mudou a sua vida, além da saudade de seus amigos que morreram, Thayane diz não sentir raiva. “Lembro todo dia. Isso eu não quero esquecer. Eu sinto tristeza. Eu o vi (o Wellington), lembro muito bem dele. Mas não o conhecia, não sinto raiva dele não, sinto só pena”.