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Risco de Taser matar pessoa sob efeito de álcool e drogas é maior, apontam especialistas

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

16/04/2012 06h00

Em expansão pelo Brasil, as armas de choque elétrico --a mais comum, a do tipo Taser --podem provocar a morte não apenas de cardíacos, mas de qualquer pessoa que seja atingida mais de uma vez. O alerta é de médicos consultados pelo UOL, segundo os quais as chances de letalidade são ainda maiores se os choques forem disparados contra pessoas sob efeito de drogas ou de álcool.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou nota após as recentes mortes de brasileiros abordados com o Taser, na Austrália e em Porto Alegre (RS), na qual critica as pesquisas que comprovam a suposta segurança da arma. Segundo a entidade, a maior parte desses estudos é bancada pelo próprio fabricante da arma ou por profissionais ligados ao fabricante.

“Quem usa essa arma tem que saber que ela pode matar. Só nos Estados Unidos, onde foi criada na década de 60, foram cerca de 500 mortes”, alerta o diretor do Centro de Treinamento em Emergências da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), Agnaldo Píspico.

De acordo com o especialista, o choque do Taser gera uma descarga de baixa amplitude que causa uma contratura muscular e faz com que o abordado caia. “A ação é no sistema nervoso central e pode interferir na musculatura respiratória --quando é disparado uma única vez, a pausa [respiratória] é curta. Se for repetido, pode acarretar danos maiores, interferir no ritmo cardíaco, causar uma arritmia e levar a pessoa à morte”, disse.

Mas o médico faz um alerta: se a pessoa atingida pela descarga estiver sob efeito de álcool ou drogas, retornar ao ritmo cardíaco pode ser ainda mais difícil. “Porque o álcool tem efeito depressor; a cocaína, estimulante. Com o choque, a condição de irritabilidade do coração dessa pessoa pode desencadear arritmia --e o mais absurdo é que os estudos não foram feitos em vítimas que consumiam drogas”.

O tamanho do tórax e o peso da vítima também podem ser determinantes em uma atuação desastrosa com o Taser, já que, explica o médico, essas são condições que vão influenciar o caminho percorrido pelo choque.

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Médico: não sei se é pior levar tiro ou choque de Taser

O médico Sergio Seibel, membro do Cradot (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), da Secretaria Estadual de Saúde de SP, também foi enfático ao apontar os riscos de morte para pessoas sob efeito de drogas ou em situação de alcoolismo agudo.

“Cocaína e crack são drogas que agem como fortes estimulantes cardíacos. Se ambas podem, sozinhas, provocar riscos como infarto do miocárdio, arritmias e até AVCs [acidente vascular cerebral], estimuladas por um choque elétrico o risco de letalidade é muito maior”, definiu.

Seibel também questiona a qualidade do debate entre as autoridades de segurança e setores médicos sobre os riscos de uma arma já usada em praticamente todo o território nacional.

“Essa é uma política de segurança, mas que, acredito, deveria abranger discussões em várias áreas --sobretudo a médica. Isso não está acontecendo e deveria ser revisto, já que os estudos sobre essa arma ainda são muito restritos”, disse Seibel, que comparou: “Se me perguntassem hoje se seria pior eu receber um tiro de bala ou levar um choque de pistola Taser, juro que não saberia o que responder”.