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Líder indígena foi morta enquanto vendia maconha plantada em tribo no MA, diz polícia

Índios guajajaras protestam contra instalação de torre de eletricidade no Maranhão - Elisangela Souza
Índios guajajaras protestam contra instalação de torre de eletricidade no Maranhão Imagem: Elisangela Souza

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

03/05/2012 13h55

A líder indígena Maria Amélia Pereira Guajajaras, 52, morta com dois tiros na cabeça no último sábado (28), estava vendendo drogas com o marido no momento do crime. A informação foi repassada pela Polícia Civil do Maranhão. Maria Amélia era cacique da aldeia Coquinho 2, pertencente aos povos indígenas Awá-Guajajara, que tem cerca de dez aldeias localizadas na terra indígena Canabrava, no centro-sul do Maranhão.

A aldeia que Maria Amélia liderava fica localizada entre os municípios de Barra do Corda (437 km de São Luis) e Jenipapo dos Vieiras (a 499 km de São Luis). As terras são cortadas por 222 quilômetros de extensão dos 556 km da BR-226. Segundo a polícia, devido ao número de lombadas ao longo da rodovia, assaltantes atuam na região para roubar cargas.

Segundo o depoimento do marido dela, o índio Deoclides Gabriel Guajajaras, 42, prestado à polícia na última segunda-feira (30), o casal havia vendido dois cigarros de maconha por R$ 10 a dois homens não-indígenas. Guajajaras contou que os assassinos teriam se apresentado como vendedores ambulantes e fumaram os cigarros comprados ao casal. Depois, a cacique liberou que os supostos ambulantes entrassem deles na aldeia para “vender alguns objetos”.

Deoclides contou à polícia que os dois homens retornaram das supostas vendas e perguntaram se havia mais maconha para ser comercializada à líder da aldeia. Segundo a polícia, os homens deram R$ 50 ao marido de Maria Amélia para adquirirem mais maconha e, quando Deoclides entrou para na residência pegar a droga, os homens “efetuaram dois disparos à queima-roupa na cabeça da cacique.”

No depoimento, o marido da índia contou que, devido ao barulho dos disparos dos tiros, correu para ver o que tinha ocorrido e encontrou a mulher caída no chão. Segundo ele, suspeitos já haviam fugido do local em uma moto”, disse o delegado regional do município de Barra do Corda, Alexsandro de Oliveira Passos Dias, que colheu os primeiros depoimentos das testemunhas do caso.

Maconha liberada

O delegado afirmou que o cultivo de maconha é liberado nas terras indígenas, mas apenas para uso entre os índios durante os rituais indígenas. De acordo com ele, é um costume milenar de os índios usarem várias plantas, inclusive a maconha, durante rituais nas aldeias.

“O cultivo e o consumo são liberados somente para esta finalidade, mas, infelizmente, algumas lideranças se aproveitam do poder para cultivar a maconha em excesso para vender para homens brancos.”

Dias destacou ainda que a Polícia Civil enfrenta problemas em combater o tráfico de drogas na região devido à restrição de acesso às terras. “A venda de maconha tornou-se meio de geração de renda muito comum nas aldeias, feitas principalmente por lideranças, que se aproveitam do poder para cultivar a maconha, guardar o excesso e vender para ‘homens brancos’.”

Três linhas de investigação

O delegado afirmou ainda que a polícia trabalha com três linhas de investigação sobre o motivo da morte da cacique, mas apenas duas estão mais evidentes. A primeira hipótese trabalhava pelos investigadores é que Maria Amélia foi morta devido ao suposta briga entre lideranças indígenas para comandar o tráfico de drogas.

A segunda hipótese é relativa à venda irregular de madeira, que, segundo a polícia, a índia era uma autoridade atuante no combate ilegal de extração de madeiras e organizava movimentos contra a ação de fazendeiros, posseiros e madeireiros nas terras indígenas Canabrava

Já a terceira linha é que o crime teria sido praticado por um homem branco que vive na aldeia com uma índia e usa o conhecimento dentro das terras indígenas para praticar assaltos na BR-226.

“Esta última hipótese quase descartada, o marido da vítima não reconheceu nenhuma das fotos mostradas a ele dos suspeitos de assaltar caminhões na estrada, nem também da foto de um homem conhecido por ‘Tuntum’, apontando inicialmente pelos índios como um dos participantes no crime”, informou o delegado.

A região da aldeia Coquinho 2 fica dentro das terras indígenas Canabrava, ao centro-sul do Maranhão, e é marcada por conflitos entre índios, madeireiros, fazendeiros e posseiros.

“Os índios contaram que Maria Pereira estava se organizando com outras lideranças das demais aldeias para expulsar quem morava nas terras indígenas, e era ‘homem branco’, pois eles estavam se aproveitando dos índios para praticar assaltos na BR-226. No início cogitamos essa hipótese, mas está quase descartada, pois, mesmo com a proteção dada pela Funai [Fundação Nacional do Índio], os índios se fecharam e não contam mais nada”, disse o Dias, afirmando que é costume do povo Awá-Guajajara se isolar mesmo que seja para ser ajudado pelo homem branco.

“Estamos indo pelos lados periféricos. Estamos colhendo depoimentos de pessoas que conviviam com os índios, como assistentes sociais, enfermeiros, médicos, que sabem da rotina dos índios e dos problemas que eles enfrentam para podermos conseguir fechar uma única linha de investigação”, destacou o delegado de Barra do Corda.

PF também investiga

Apesar da PF (Polícia Federal) ter iniciado investigações sobre o assassinato de Maria Amélia nesta terça-feira (1º), o delegado informou que a Polícia Civil dará prosseguimento às investigações iniciadas em paralelo para ajudar na elucidação do caso. As delegacias regionais de Barra do Corda (a 437 km de São Luis) e de Grajaú (a 555 km de São Luís).