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"Água não tem, mas conta chega todo mês", reclamam moradores de Poço Redondo (SE)

Carlos Madeiro

Do UOL, em Poço Redondo (SE)

20/05/2012 06h01

A falta de água já é um problema grave durante a seca no Nordeste, mas comunidades da cidade de Poço Redondo (SE) estão tendo que conviver com a escassez do produto nas torneiras há mais de um ano.

Na comunidade São José, onde vivem cerca de 70 famílias, apesar da suspensão do fornecimento, as contas com as cobranças continuam chegando regularmente, apesar das medições apontarem que não há consumo.

Sem receber a água encanada, os moradores são obrigados a comprar água dos carros-pipa. “Água não tem, mas minha conta chega todo mês. Agora em abril veio R$ 46. Há dois anos não recebo água. Pago R$ 100 por carrada [equivale a um caminhão 3.500 litros] por mês. Tenho raiva demais desse problema. É muito revoltante uma pessoa, nessa idade que estou, passar por essa situação. Queria muito que resolvessem. Outro dia acabei brigando com o rapaz da Deso [Companhia de Saneamento de Sergipe]”, diz a aposentada Zélia Bezerra da Silva, 66.

O vizinho de Zélia, Jânio Matos Oliveira, 28, também recebe as contas mensalmente e reclama que o serviço não é prestado como deveria. “Usamos a água que a prefeitura nos manda [3.000 litros/mês]. Se não fosse isso, ninguém morava mais aqui --e seria uma tragédia maior ainda. Mas essa água só dá mesmo para o consumo de casa, não dá para os animais, por exemplo.”

Já a moradora Edniede Maria de Barros, 28, foi mais radical. Ela afirmou que não suportou a frustração da falta de água e arrancou o registro do contador da casa. “Eu era criança quando chegava água aqui. A pessoa ter os canos, não ter a água e ainda pagar conta era demais. Por isso, um dia quando o funcionário da Deso veio, arranquei o contador e mandei ele levar embora. Não vou ser roubada todo mês”, diz, indignada.

O coordenador da Defesa Civil Municipal de Poço Redondo, José Carlos Aragão, disse ao UOL que já houve vários pedidos oficiais para que a Deso resolvesse o problema, mas nunca foi apresentada solução. “Já houve protesto da comunidade, mas não resolveram o problema. Em épocas de muita chuva, a água até chega alguns dias. Mas agora, quando os moradores mais precisam, não chega nada”, alega.

Outro lado

Em nota, a Deso confirma que existem dificuldades no abastecimento de comunidades do município. Segundo o gestor da Unidade Negócios Sertão da Deso, Carlos Anderson Pedreira, na comunidade São José é necessário viabilizar um reforço de rede para garantir o abastecimento.

"Depois do aumento da oferta com a adutora do Semiárido, que já foi realizada, será possível atender de forma satisfatória a região. Com relação às contas geradas, o consumidor tem o direito de pedir o cancelamento dos serviços prestados pela empresa sem nenhum custo. É só se dirigir a algum posto de atendimento da Deso e apontar o mês em que não houve o fornecimento dos serviços e solicitar a exclusão destas faturas", afirma.

A Deso informou ainda que muitas comunidades rurais já tiveram soluções e hoje não sofrem mais com a falta de água. De acordo com a empresa, o fornecimento foi regularizado após investimentos de R$ 150 mil na rede, que fechou o "anel de abastecimento" do município. Outros investimentos ainda estão sendo realizados pela companhia para melhorar o fornecimento de água em todo o semiárido sergipano.

Mapa mostra as cidades visitadas pelo UOL em quatro Estados

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