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Por falta de provas, Cepollina é absolvida da acusação de matar o coronel Ubiratan em São Paulo

Débora Melo

Do UOL, em São Paulo

07/11/2012 19h17Atualizada em 02/10/2013 16h12

A advogada Carla Cepollina, 47, foi absolvida nesta quarta-feira (7) da acusação de assassinar seu namorado, o coronel da reserva da Polícia Militar e deputado estadual Ubiratan Guimarães.

Ubiratan foi baleado em seu apartamento nos Jardins (zona oeste de São Paulo) no dia 9 de setembro de 2006. Ele ficou famoso por ter sido o comandante da operação que ficou conhecida como massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 presos em 1992.

O júri, formado por seis homens e uma mulher, acolheu a argumentação da defesa de que não havia provas suficientes para a condenação. O placar foi 4 a 0 pela absolvição --a contagem dos votos foi interrompida assim que a decisão majoritária foi alcançada, não sendo necessária a leitura dos outros três votos.

O julgamento começou na segunda-feira (5) e foi realizado no Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

No primeiro dia, Cepollina chegou a dizer que a acusação não tinha provas contra ela e que os jurados tinham percebido isso. "Eles não têm nenhuma evidência científica, absolutamente nada contra mim. Eu confio na Justiça", disse aos jornalistas na saída do plenário.

Promotor diz que não vai recorrer

Após a divulgação da sentença, o promotor do caso, João Carlos Calsavara, afirmou que a ré foi absolvida porque "quem foi julgado foi o coronel Ubiratan".

"Quem foi julgado aqui hoje foi o coronel Ubiratan. O coronel é um homem estigmatizado, é um ícone de uma de uma década que foi julgado aqui", disse Calsavara.

O promotor disse ainda que a absolvição representa "o momento do país" e disse que não vai recorrer da decisão.

"Não vou recorrer porque entendo que é o momento da vida do país, é o momento da impunidade. Eu acho que isso reflete um pensamento de que a polícia é um órgão que não é tão considerado a ponto de que policiais que são mortos a sangue frio", disse.

Defesa contesta hora da morte

Hoje, um dos advogados de Cepollina encerrou o debate da defesa com um tom agressivo. Gritando bastante, o advogado Eugenio Malavasi tentou convencer os jurados de que não havia provas contra a ré e contestou a hora da morte de Ubiratan.

As investigações apontam que o coronel morreu entre as 19h05 e as 20h26 da noite do dia 9 de setembro de 2006. Para a defesa, porém, Ubiratan morreu na manhã do dia 10.

A estratégia da defesa era provocar dúvida nos jurados com base no horário em que foi feita a necropsia --o laudo emitido não contém essa informação, apenas informa que a morte teria ocorrido no mínimo 18 horas antes da realização do exame.

“O laudo não revela a hora a hora da necropsia. Façamos, então, um exercício matemático da hora da morte do coronel”, disse Malavasi.

O corpo, que só foi encontrado na noite do dia 10, foi retirado às 2h17 da madrugada do dia 11 do apartamento do coronel e, de acordo com o advogado Malavasi, a necropsia só foi feita a partir desse horário, por volta das 4h.

Dessa forma, ainda segundo ele, o coronel pode ter morrido às 10h do dia 10 --e não na noite do dia 9.

Com isso, a defesa tentou mostrar que Cepollina não estava mais no apartamento quando o coronel foi morto, já que ela foi vista saindo do prédio na noite do dia 9.

Antes da argumentação de Malavasi, a mãe e também advogada de Cepollina, Liliana Prinzivalli, tentou descontruir a imagem de arrogante da ré e disse que “ela é apenas uma menina que estudou”.

“Eles [acusação] querem que os senhores antipatizem com ela por causa da diferença de classe”, disse, dirigindo-se aos jurados.

O caso

Cepollina era acusada de homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e sem chance de defesa). Segundo o Ministério Público, ela matou o namorado com um tiro no abdome disparado por uma das armas da própria vítima --um revólver calibre 38 que jamais foi encontrado.

De acordo com a acusação, Cepollina teria disparado contra o policial depois de uma discussão motivada por ciúme. Ela teria atendido um telefonema feminino na casa do namorado e atirou, conforme a denúncia, por ele ter rompido o relacionamento com ela.

O corpo da vítima foi localizado por assessores dele no dia 10 de setembro de 2006.