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Primo de Bruno se "emocionou" ao descrever em detalhes a morte de Eliza Samudio, diz delegada

Guilherme Balza

Do UOL, em Contagem (MG)

20/11/2012 13h42

A delegada Ana Maria Santos, que depôs nesta terça-feira (20) como testemunha no júri do caso Eliza Samudio, afirmou que Jorge Rosa, primo do goleiro Bruno, se emocionou ao narrar como a vítima foi morta. Menor à época dos fatos, Rosa confessou pelo menos em dois depoimentos, à Polícia Civil e à Justiça, ter participado da morte de Eliza, a qual descreveu com detalhes.

Dias depois, ele voltou atrás e negou o que tinha relatado. Afirmou, na época, ter feito a confissão sob pressão. Questionada hoje pelo promotor Henry Castro, a delegada, que participava das investigações do caso e colheu o depoimento de Rosa em junho de 2010, disse que a versão narrada por ele tinha “bastante credibilidade”.

“Sem dúvida nenhuma [tinha credibilidade]. Pela riqueza de detalhes, pelo tanto que ele se emocionou ao fazer a narrativa. Aquilo, inclusive, nos atingiu durante o depoimento”, disse. “Me passou bastante credibilidade.”

De acordo com a versão de Rosa, Eliza e o filho foram levados na Land Rover de Bruno do Rio de Janeiro para Minas Gerais, acompanhada por Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Sérgio Rosa Salles, primo de Bruno, além dele próprio.

No caminho, se encontraram com um homem –que para a acusação é Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em uma moto roxa, que os levou até um sítio. No local, Macarrão teria segurado as mãos da vítima, e o homem teria a estrangulado até a morte.

“Ele me disse: ‘olha, doutora, o homem com cabelo grisalho, com problema no dente, pegou na mão dela [Eliza], perguntou se ela usava droga e pediu a Macarrão que amarrasse a mão dela. Macarrão fez e, segundo ele, a chutou, e estando ela com as mãos amarradas, aquele senhor deu uma volta nela dando uma gravata. Ele falou que esse momento em que ela era apertada --ele dizia que era horrível lembrar daquilo--, ela foi perdendo fôlego, começou a arregalar os olhos, e os olhos ficarem vermelho de sangue, a língua saiu para fora, começou a sair espuma da boca e ela caiu ao chão morta.’”

O primo teria dito ainda que tanto Macarrão, quando Sérgio Rosa Salles ficaram assustados com a violência da morte. Horas depois, Bola teria dito para que todos ficassem tranquilos que ele daria um fim nos restos mortais de Eliza. Em seguida, ele teria jogado uma mão humana em direção aos cães rotweiller.

Segundo a delegada, o jovem lhe disse, durante o depoimento, que “aquelas lembranças perturbavam seu sono e o seu dia”. “Ele deu sinais de estar perturbado. Chegou a segurar na minha mão durante o depoimento.”


Primeiro dia

O primeiro dia do julgamento do caso Eliza Samudio, no acanhado Fórum Pedro Aleixo, em Contagem (Grande Belo Horizonte), foi marcado por tumulto, abandono de defesa por parte dos advogados de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Arrolado pela acusação, Cleiton foi a primeira e única testemunha a depor.

Logo no início do julgamento, os advogados de Bruno, Rui Pimenta, e de Bola, Ércio Quaresma brigaram por causa de um lugar no plenário do júri. Quaresma chegou a dar tapinhas dos ombros de Pimenta, que revidou com um leve empurrão.

Em seguida, Quaresma implicou com a falta de estrutura do Fórum de Contagem, reclamando não haver extensões suficientes para ligar os computadores e não ter espaço para os familiares dos réus acompanharem o júri.

Durante o sorteio dos jurados, a juíza dispensou sete jurados que participaram de outro júri de Marcos Aparecido, ocorrido no início do mês, no qual ele foi inocentado pela morte de um agente penitenciário. A decisão irritou Quaresma, que só se conformou após os próprios jurados pedirem dispensa do julgamento.

O defensor também questionou o fato de, segundo ele, não ter tido acesso às gravações de interrogatórios das testemunhas.

Após Quaresma rebater seus argumentos, a juíza Marixa Fabiane se irritou e disse que o advogado de Bola poderia ter feito os questionamentos quanto ao acesso às mídias anteriormente. "Tem dois anos que esse processo está em curso", disse. "Não é o juiz que vai determinar a hora que vou examinar as provas", respondeu Quaresma. "A palavra do senhor está cassada", replicou a magistrada.

O auge da confusão ocorreu quando as defesas dos acusados questionaram o tempo, de 20 minutos, concedido pela magistrada para que cada advogado apresentasse os requerimentos preliminares. Após Marixa não ceder mais tempo, Ercio Quaresma anunciou que abandonaria a tribuna, o que fez algumas horas depois, após mais tumulto.

“Não temos a menor condição de trabalhar num julgamento em que prova da defesa é cerceada já no prólogo, que dirá no epílogo”, afirmou Quaresma.

Fernando Diniz, advogado do Luiz Henrique Romão, o Macarrão, também ameaçou abandonar a defesa, mas voltou atrás. Bola não aceitou que um defensor público fosse constituído para a sua defesa, e agora seu julgamento deverá ocorrer em outra data, caso não haja nenhuma reviravolta de seus advogados.

O julgamento prosseguiu com a presença de Bruno, que disse à juíza estar “tranquilo quanto à realização do júri, Dayanne de Souza, ex-mulher do jogador, e Fernanda Castro, ex-amante do atleta, que acompanharam o júri sem algemas. Macarrão alegou não estar se sentindo bem e foi levado de volta ao presídio Nelson Hungria, após ficar alguns minutos no salão do júri.

Sorteio do júri

Também nesta segunda-feira foram definidos os sete jurados que decidirão o futuro dos réus. O corpo de jurados ficou definido com seis mulheres e um homem. Enquanto a defesa procurou, sem sucesso, descartar a maioria das juradas, a acusação tentou evitar a participação de homens no júri.

VEJA O O QUE SERÁ APRESENTADO NO JULGAMENTO DOS ACUSADOS

RÉUACUSAÇÃOO QUE DIZ O MPO QUE DIZ A DEFESA
BRUNOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáverMentor e mandante da morte de Eliza, ameaçou-a de morte durante a gravidez. O goleiro determinou que Eliza fosse sequestrada e levada a sua casa, no Rio de Janeiro. Acompanhou o deslocamento de Eliza, já sequestrada e ferida na cabeça após receber coronhadas, para MinasNega a existência do crime. Eliza não foi morta porque não há corpo. Anteriormente, havia reconhecido a morte de Eliza, mas sem a participação, concordância ou o conhecimento do goleiro. A atribuição do crime havia sido dada a Macarrão, insinuando que o ex-braço direito nutria um “amor homossexual” pelo jogador
MACARRÃOResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado, homicídio triplamente qualificado, e ocultação de cadáverTambém ameaçou Eliza durante a gravidez e foi o responsável pelo sequestro da moça no Rio de Janeiro. Foi o motorista do carro, com Eliza e o filho, na viagem para Minas Gerais. Dirigiu o veículo que transportou a moça até a casa de Bola. Amarrou as mãos de Eliza e desferiu chutes nas pernas da moçaNão existem provas materiais do crime de homicídio. Ele declarou que, Para evitar “especulações”, não adianta detalhes da estratégia de defesa a ser adotada
BOLA*Responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáverExecutor de Eliza, estrangulou a jovem dentro de casa, em Vespasiano. Esquartejou o corpo da mulher e atirou uma das mãos a cães rottweiler. Foi incumbido de desaparecer com o corpoNega as acusações e afirma que apresentará “prova cabal” aos jurados, durante o julgamento, da inocência de Bola
DAYANNEResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado da criançaParticipou da “vigilância” feita sobre Eliza e o filho no sítio do goleiro em Esmeraldas, apontado pela polícia como o cativeiro de Eliza antes de sua morte. Sabia do plano para matar a ex-amante do jogador. Tentou desaparecer com o filho de Eliza, localizado posteriormente pela polícia em Ribeirão das NevesNega que Dayanne soubesse do plano para matar Eliza, ela apenas cuidou da criança depois de um pedido do ex-marido. Sobrevivência do filho de Eliza se deu graças a Dayanne
FERNANDAResponde pelos crimes de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho delaOutra ex-amante de Bruno, auxiliou Macarrão a manter Eliza dentro da casa do goleiro no Rio antes da viagem para Minas. Cuidou do filho de Eliza nesse período e acompanhou Bruno e Macarrão na ida para Minas. Sabia da intenção do grupo de matar ElizaÉ inocente, não sabia de nenhum plano para matar Eliza. Não presenciou um cenário que remetesse ao crime atribuído a ela. A viagem a Minas Gerais com o goleiro havia sido programada um mês antes do crime. Não notou ferimentos em Eliza
  • * Os advogados do acusado abandonaram o julgamento. Como Bola recusou a indicação de um defensor público, ele deverá ser julgado em outro momento