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Mapeamento de comunidades chega a Rocinha e Mangueira, no Rio, e a dois bairros na zona sul de São Paulo

Felipe Martins

Do UOL, no Rio de Janeiro

29/11/2012 16h01

Jovens da Rocinha e Mangueira, no Rio de Janeiro, e do Capão Redondo e Parque Santo Antônio, na zona sul de São Paulo, vão tornar acessíveis na internet a localização de ruas, hospitais, escolas, estabelecimentos comerciais, culturais, e de ações sociais de onde vivem.

O projeto Wikimapa já foi concluído em quatro comunidades do Rio: Pavão-Pavãozinho, Santa Marta, Complexo do Alemão e Complexo da Penha, cujo mapeamento ainda não está disponível, mas foi finalizado na última semana. Além disso, o mapa será ampliado também nas comunidades da Maré e Cidade de Deus, na capital fluminense.

Os 60 jovens, dez em cada região, serão selecionados em instituições locais e pela internet, cuja inscrição já está disponível. Chamados de wikirrepórteres, receberão uma ajuda de custo de R$ 300 mensal durante os seis meses de mapeamento das áreas.  

Equipados com smartphones com GPS e internet de alta velocidade, eles vão catalogar lugares que são referência, por meio de fotos e vídeos. As imagens vão criar um novo mapa da região, disponível para o acesso na internet.

O estudante Raull Santiago, 23, morador da favela da Grota, no Complexo do Alemão, participou do projeto como wikirrepórter quando o mapeamento foi feito na comunidade da zona norte. “Fiquei sabendo do projeto de mapeamento pelo boca a boca no Alemão. A ideia foi mostrar a comunidade para quem não fosse daqui. Uma praça bem movimentada, um bar legal, igrejas, ONGs”, contou.

Ele agora ocupa o cargo de coordenador de equipe e fala com orgulho do trabalho retratando a comunidade.  “A gente mostra, por exemplo, o Bar do China, o primeiro a vender yakisoba no Alemão, fugindo daquela coisa de só salgado e refrigerante. É uma coisa diferente dentro da favela”, afirmou.

  • Wikirrepórteres mostram smartphones usados no mapeamento de serviços no Complexo do Alemão

De acordo com o jovem, a identificação com a comunidade é a principal recompensa do trabalho. “Participar das atividades na comunidade me tocou bastante. Nessas caminhadas pelas ruas e becos, você acaba criando laços mais fortes com a comunidade, conhecendo a realidade das pessoas. Eu conheci a favela em alma”, definiu.

Um dos pontos centrais, segundo a diretora estratégica do projeto, Patrícia Azevedo, é a recuperação da autoestima dos jovens. “Uma das meninas que participou do projeto não dizia que morava no Santa Marta, dizia que morava em Botafogo [bairro da zona sul onde fica a comunidade]. Depois que ela começou a mapear a comunidade, a pesquisar, ela começou a dizer com orgulho que mora lá”, afirmou. “Antes, só se fazia mapa de favela para mostrar áreas dominadas pelo tráfico. Esse projeto apresenta essas comunidades inteiramente para toda a sociedade.”

O projeto, de iniciativa da Rede Jovem, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) em parceria com a iniciativa privada, começou em 2009. A nova etapa começa em março, juntamente com a ampliação na Cidade de Deus, zona oeste, e Complexo da Maré, na zona norte.

  • Mapa mostra marcações catalogadas pelos wikirrepórteres no Complexo do Alemão