Delator do PCC desconfiou que estava sendo seguido em Alagoas, diz namorada

O delator do PCC morto no aeroporto de Guarulhos viu durante a viagem um homem parecido com um indivíduo que o ameaçava, de acordo com depoimento da namorada horas depois do ocorrido.

O que aconteceu

Vinicius Gritzbach desconfiou de uma pessoa que estava em um restaurante enquanto jantava com a namorada. De acordo com depoimento de Maria Helena Paiva Antunes, eles estavam em um jantar, na quarta-feira (6), em São Miguel dos Milagres, Alagoas, quando avistaram o homem.

De acordo com a namorada, Gritzbach comentou que viu um homem no restaurante que era "parecido" com alguém que o ameaçava. A informação foi passada em depoimento para a polícia na madrugada de sábado (9).

Gritzbach comentou que a única diferença era que o homem no restaurante não estava fumando, enquanto a pessoa que o ameaçava "fumava demasiadamente". A ausência do cigarro deixou o empresário com dúvidas. Não há informações suficientes sobre quem seria o fumante em questão, tampouco sobre a identidade do homem visto no restaurante em Alagoas.

O depoimento

À polícia, a namorada de Gritzbach deu detalhes sobre a viagem para Alagoas. Ela contou sobre joias cobradas por uma dívida e a atuação dos seguranças do empresário durante o trajeto entre Maceió e a capital paulista.

Durante o relacionamento, Maria Helena disse que presenciou Gritzbach confessar que era ameaçado de morte por mensagens. Ambos haviam se conhecido há cerca de um ano por meio de uma rede social.

O empresário mandou seguranças buscarem joias em Maceió. De acordo com Maria Helena, a encomenda era fruto do pagamento de uma dívida cobrada por Gritzbach. Ela não soube dizer quem seria a pessoa cobrada. Os seguranças que acompanhavam o casal ficaram encarregados de buscar das joias.

As joias em questão, avaliadas em um milhão de reais, foram entregues para a polícia.

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Em São Paulo, dois policiais que atuavam como seguranças iriam aguardar o casal. Maria Helena explica que outros seguranças de Gritzbach estariam os esperando em uma Amarok.

O veículo Amarok era o mais utilizado pelo casal, segundo depoimento. De acordo com a namorada, o carro em questão tinha uma blindagem de nível 5, mais eficiente que a Trailblazer, que também compunha a frota do delator e que tinha blindagem de nível 3.

Ao pousar no aeroporto de Gurulhos, a namorada viu o delator falar com alguém no telefone, que o informara sobre um problema mecânico no Amarok. Após isso, os quatro foram retirar as malas e seguiram ao desembarque do Terminal 2.

Namorada viu Gritzbach cair após os disparos. Ela narra que estava a "poucos passos" do empresário e deu passos para trás sem conseguir enxergar de onde vinham os disparos.

Após os disparos, a namorada encontrou Samuel e ambos voltaram para dentro do aeroporto. No relato, a mulher afirma que o segurança ficou cinco minutos dentro de um mercado enquanto ela aguardava e depois ambos retornaram para o lado de fora.

"Sobrinho" da vítima aparece com mochila preta. Em outro trecho do relato, a mulher diz que uma pessoa que não conhecia, que se identificou como sobrinho de Gritzbach, apareceu após o ocorrido e deixou uma mochila preta ao seu lado. Maria Helena conclui explicando que o segurança "pegou a mochila e colocou junto com as demais bagagens" do casal.
Maria Helena e segurança pegaram um táxi no piso superior do desembarque do aeroporto. No caminho até a residência de Gritzbach, no Tatuapé, a mulher narra que recebeu uma ligação da ex-mulher do delator pedindo para que ambos os encontrassem na casa de um antigo amigo da família. Não há informações sobre o que foi discutido no lugar. Na sequência, a namorada do empresário foi chamada para prestar depoimento no DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa).

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Como foi o crime

Gritzbach voltava de Maceió. O empresário deixou Alagoas rumo a São Paulo e desembarcou no aeroporto de Guarulhos após voltar de uma viagem com a namorada e o motorista particular dele na tarde de sexta-feira (8).

Suposto problema em um dos carros da escolta do empresário. A segurança era feita por quatro policiais militares contratados por Gritzbach e que foram afastados do serviço após o assassinato. Segundo a Polícia Civil, o Volkswagen Amarok apresentou uma falha e foi deixado em um posto de combustível sem acessar a área de desembarque. A investigação irá apurar se houve mesmo falha mecânica ou se episódio pode estar relacionado com o crime.

Filho e amigo de Gritzbach foram levados do local pelos seguranças particulares do empresário. Eles chegaram ao terminal 2 no veículo Trailblazer, o outro veículo da escolta.

Assim que deixou o saguão do aeroporto, o empresário foi assassinado por dois homens encapuzados com fuzis. Os atiradores entraram em um Gol preto e fugiram do local. Gritzbach foi atingido por dez tiros.

As imagens mostram, no meio do tiroteio, passageiros correndo com suas malas e funcionários tentando escapar.

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Namorada do empresário deixou o local antes da chegada da polícia. Ela foi embora com um dos PMs que integrava a escolta do empresário, foi ouvida pelas autoridades e teve o celular apreendido.

O veículo que teria sido no crime foi abandonado nas imediações do aeroporto ainda na sexta-feira (8). Dentro dele, havia munição de fuzil e um colete à prova de balas.

PMs que faziam a escolta do empresário morto prestaram depoimento e tiveram os seus celulares apreendidos. Os agentes foram identificados como Leandro Ortiz, 39, Adolfo Oliveira Chagas, 34, Jefferson Silva Marques de Sousa, 29, e Romarks César Ferreira de Lima, 35. Eles não foram localizados para pedido de posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

A polícia investiga se a vítima foi assassinada a mando do PCC. Mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.

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