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Wikirrepórteres do Complexo do Alemão (RJ) já mapearam mais de cem pontos na comunidade

Hanrrikson de Andrade<BR>Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

27/08/2011 07h00

  • Wikirrepórteres mostram smartphones usados no mapeamento de serviços no Complexo do Alemão

Em apenas quinze dias, dez jovens que participam do projeto Wikimapa já catalogaram mais de cem pontos no Complexo do Alemão, entre os quais lojas, restaurantes, escolas, hospitais e instituições religiosas.

Munidos com smartphones que oferecem internet de alta velocidade e GPS, os wikirrepórteres percorrem diariamente as ruas, becos e vielas das 13 comunidades que integram o maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro com o objetivo de divulgar as atrações que poucos conheciam antes da pacificação.

O sucesso do projeto faz com que os jovens sejam reconhecidos pelos moradores, em especial os microempreendedores do Complexo do Alemão, na zona norte. “Os donos de salões de beleza e de restaurantes costumam agradecer pela oportunidade, já que funciona como divulgação para eles. Aqui perto tem um dono de uma loja de roupas que entra todo dia no site para ver o vídeo que fizemos com ele”, disse o estudante Carlos Alberto, 24.

De acordo com o comerciante Inácio Santana, proprietário de um pequeno bar na favela da Grota, o projeto tem potencial para transformar a região em um importante polo comercial e turístico. Ele relata que pessoas de diferentes nacionalidades já passaram pelo seu estabelecimento (no caminho para uma das estações do teleférico) e aguarda ansiosamente pelo mapeamento.

“Isso pode nos ajudar a atrair mais clientes, principalmente as pessoas que hoje olham para o Alemão como um ponto turístico. A gente vê por aqui cada vez mais gringos [estrangeiros]. Também quero ver o meu bar lá nesse site”, afirmou o comerciante. Segundo a estudante Natália Rodrigues, 15, apenas os moradores mais velhos apresentam algum tipo de receio em relação ao trabalho dos jovens.

“Às vezes temos algumas dificuldades para lidar com os idosos. Eles acham que a gente vai cobrar alguma coisa”, disse. “Muitos têm aquele ressentimento em relação ao descaso dos governos, à postura da polícia. Pedem para não tirar foto deles, por exemplo. A comunidade ainda está aprendendo a lidar com a pacificação”, disse Alberto.

  • Mapa mostra marcações catalogadas pelos wikirrepórteres no Complexo do Alemão

Aplicativo é aberto

Mais do que incentivar o comércio e o turismo no Complexo do Alemão, que durante muitos anos foi um dos principais redutos do tráfico de drogas no Rio, o Wikimapa tem como objetivo oferecer oportunidade de inclusão digital para os jovens da comunidade, segundo os coordenadores do projeto.

Quase todos os participantes - que ganham R$ 243 mensais para trabalhar cinco horas por dia - tiveram acesso a um smartphone com internet pela primeira vez. No processo de seleção, os dez wikirrepórteres passaram por oficinas e workshops sobre fotografia digital e gravação de vídeos, entre outras tarefas multimidiáticas. Até o mês que vem, a equipe será reforçada com pelo menos mais seis estudantes que moram no Complexo do Alemão.

O mapa virtual colaborativo é promovido pelo programa Rede Jovem, da organização não governamental Solidaritas, em parceria com duas grandes companhias telefônicas e uma marca esportiva. O projeto já mapeou outras cinco comunidades pacificadas: Cidade de Deus (Jacarepaguá), Santa Marta (Botafogo), Pavão-Pavãozinho (Copacabana), Vila Cruzeiro (Penha) e Complexo da Maré (na zona norte).

O resultado do trabalho dos wikirepórteres pode ser conferido gratuitamente no site do Wikimapa (www.wikimapa.org.br). O aplicativo é aberto e está disponível para qualquer morador das comunidades do Complexo do Alemão que queira adicionar pontos de mapeamento.

As tarefas

A função dos wikirrepórteres consiste em visitar os possíveis locais de mapeamento e explicar para os responsáveis as premissas e a finalidade do projeto. Uma vez autorizados, eles tiram fotos, gravam pequenas entrevistas ou imagens do ambiente, e elaboram breves resenhas sobre os locais visitados.

As atualizações são feitas automaticamente por meio de um aplicativo desenvolvido especificamente para o projeto Wikimapa, e que utiliza a tecnologia Google Maps.

Os horários dos wikirrepórteres são flexíveis e variam de acordo com a disponibilidade de cada um (quem estuda no período da tarde, por exemplo, pode trabalhar pela manhã). De acordo com a assessoria do projeto, ainda não há metas específicas traçadas para os participantes. Eles se reúnem pelo menos uma vez por mês para conversar sobre os resultados.

Mangueira em pauta

Segundo os coordenadores do Wikimapa, já existe um plano de expansão do mapa virtual colaborativo para a favela da Mangueira, na zona norte, que ganhou recentemente uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

No entanto, de acordo com a assessoria da Rede Jovem, a organização não governamental ainda deve esperar pela posição dos patrocinadores do projeto antes de definir os próximos passos. A princípio, o trabalho de mapeamento no Complexo do Alemão vai até o fim deste ano.