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No Rio, funcionário de concessionária da BMW é acusado de racismo contra menino de 7 anos

Do UOL, no Rio

23/01/2013 15h35

Um funcionário da Autokraft, revendedora autorizada da BMW, é acusado de ter cometido atitude racista contra um menino de apenas sete anos, no último sábado (12), na loja situada na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Em nota enviada ao UOL, a BMW Group afirmou ter tomado conhecimento dos fatos, mas argumentou que "nenhum funcionário seu esteve presente na data do acontecimento", uma vez que o acusado é vinculado à concessionária. Os representantes da Autokraft não foram localizados.

PROTESTO

  • Reprodução/Facebook

    Página criada por Ronald Munk e Priscilla Celeste no Facebook já foi "curtida" por 7.190 pessoas

Na versão dos pais adotivos do menor, Ronald Munk e Priscilla Celeste --criadores da página "Preconceito racial não é mal-entendido"--, a vítima teria sido confundida com uma criança de rua ao se aproximar do casal. Na condição de clientes, ambos conversavam com o acusado a respeito do interesse na compra de um automóvel.

"Eu e meu marido somos brancos e nosso filho é um menino negro de sete anos. (...) Enquanto olhávamos os automóveis aguardando atendimento, nosso filho assistia TV sentado no sofá. O gerente de vendas da concessionária veio nos atender. Estávamos conversando com ele, quando nosso filho se aproximou de nós. O gerente voltou-se imediatamente para ele e, sem pestanejar, mandou que ele se retirasse da loja, dizendo que ali não era lugar para ele", afirmou Celeste.

"'Você não pode ficar aqui dentro. Aqui não é lugar para você. Saia da loja'", teria dito o gerente de vendas, segundo a mãe da vítima.

Em face do espanto do menor, que, de acordo com o relato do casal, permaneceu em silêncio, o funcionário teria insistido em expulsá-lo da loja. Questionado por Munk a respeito da suposta atitude racista, ele teria respondido: "(...) Porque eles pedem dinheiro, incomodam os clientes. Tem que tirar esses meninos da loja". Ao ser informado de que o menor era, na verdade, filho dos clientes que estavam à sua frente, o gerente teria ficado "completamente sem ação", segundo Celeste.

"[Ele ficou] gaguejando desculpas atrás de nós enquanto saíamos indignados da concessionária. Nosso filho perguntou porque eles não aceitavam crianças naquela loja e porque tinham uma TV passando desenhos animados se não gostavam de crianças".

Como não houve retratação por parte da empresa nos dias que sucederam o fato, o casal enviou um e-mail para a BMW no qual não só relatava o caráter preconceituoso da atitude do gerente, mas também citava um trecho da Lei 7.716, que regulamenta os crimes de discriminação e preconceito racial.

A empresa respondeu ao e-mail com um pedido de desculpas, prometendo que a concessionária seria notificada e "isentando-se de responsabilidade", na versão de Celeste.

A BMW teria argumentado não estar legalmente autorizada "a exercer qualquer ingerência, influência ou participação nas atividades diárias de qualquer concessionária da rede BMW, quer seja em razão de a BMW do Brasil e as concessionárias serem pessoas jurídicas distintas, quer seja em razão de o artigo 16, da Lei n. 6.729/79 expressamente proibir a BMW do Brasil de adotar qualquer postura que influencie a gestão administrativa dos negócios de suas concessionárias”.

Após uma semana, Munk e Celeste receberam um novo e-mail, assinado, segundo eles, pelo dono da concessionária, reforçando o pedido de desculpas e classificando a suposta atitude racista como "mal-entendido". Os pais do menor ficaram ainda mais indignados e resolveram criar uma página no Facebook com o intuito de debater e refletir sobre o preconceito racial.

Até as 13h21 desta quarta-feira (23), 7.190 pessoas já haviam curtido a página "Preconceito racial não é mal-entendido".

Em nota, o BMW Group afirmou ter tomado conhecimento dos fatos através de um e-mail enviado pelo pais da vítima, no dia 16 de janeiro, e disse ter solicitado esclarecimentos à concessionária Autokraft através de uma notificação entregue na mesma data.

"O BMW Group informa ainda que nenhum funcionário seu esteve presente na data do acontecimento narrado, não podendo dessa forma atestar a veracidade dos fatos relatados por parte dos clientes, tão pouco da concessionária", informa a nota.

A empresa confirmou ainda que, "apesar de não ter conhecimento dos fatos, em respeito aos seus clientes, enviou mensagem aos mesmos, desculpando-se pelo ocorrido e explicando a sua relação jurídica e comercial com a concessionária".

Ainda segundo a BMW, a legislação proíbe que a multinacional possa "adotar qualquer postura que influencie a gestão administrativa da concessionária e desautoriza a empresa a intervir ou influenciar nas atividades diárias de seus concessionários".