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Diretores de hospital são detidos em operação da PF em Campo Grande

Celso Bejarano

Do UOL, em Campo Grande

19/03/2013 19h30

Três servidores federais e dois diretores ligados a dois hospitais custeados com recursos públicos, em Campo Grande (MS), um deles o diretor-geral do Hospital do Câncer, o médico oncologista Adalberto Abrão Siufi, foram detidos, na manhã desta terça-feira (19), por suposto envolvimento em um esquema de superfaturamento, fraude em licitação, formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva e também por pagamento de propina.

Cem homens da PF (Polícia Federal) cumpriram 19 mandados de busca e apreensão, confiscaram documentos, computadores e R$ 200 mil, durante a operação Sangue Frio, desencadeada nesta terça. A operação tinha como alvos o Hospital Universitário, administrado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e o Hospital do Câncer, gerenciado pela Fundação Carmen Prudente. Os dois hospitais figuram em inquéritos propostos pelo MPE (Ministério Público Estadual), pelo MPF (Ministério Público Federal) e também pela CGU (Controladoria-Geral da União) que apura indícios de corrupção.

O superintendente da PF (Polícia Federal) em Mato Grosso do Sul, Edgar Paulo Marcon, disse que a prioridade da operação é apurar o desvio de recursos públicos. Ele disse, sem detalhar a apuração, que os papéis apreendidos são fortes indícios que podem incriminar os envolvidos em irregularidades descobertas no setor do Hospital Universitário que cuida de doentes com câncer.

Marcon afirmou também que a PF usou escutas telefônicas para produzir provas.

Fundação

Segundo apuração do MPE, o Hospital do Câncer recebeu do SUS (Sistema Único de Saúde) para pagar por tratamentos de pacientes mortos. O MPE moveu, na semana passada,  ação judicial em que pede o afastamento dos três diretores do hospital. O trio é dono de empresas que prestam serviço à Fundação Carmem Prudente, o que fere resolução da Procuradoria Geral de Justiça. Pela regra, diretores do hospital não poderiam, por meio de suas empresas, fazer qualquer tipo de negócio com o hospital.

Adalberto Abrão Siufi, diretor-geral do Hospital do Câncer, é dono da Neorad, que prestam serviço de radiologia e quimioterapia à unidade. Ele e o sócio, Issamir Saffar, também oncologista, atuam no Hospital do Câncer desde a década de 1990. Os dois recebiam, segundo o MPE, em torno de R$ 3,1 milhões por ano com o negócio. Blener Zan, diretor-presidente do Hospital Câncer, e Wagner Miranda, diretor-financeiro, são sócios da Elétrica Zan, que também presta serviço ao hospital. O MPE pede a saída dos três de seus cargos.

Siufi foi um dos detidos na operação, não por envolvimento nas supostas irregularidades administrativas, mas por porte ilegal de arma. Ele pagou fiança de R$ 30,5 mil e já foi solto. Blener Zan também foi detido por porte ilegal de arma. Ele foi libertado depois de pagar fiança de R$ 6.000.

Universitário

Adalberto Siufi era o diretor-clínico do Hospital Universitário até dois anos atrás. Sua atuação na unidade também é alvo de investigação. Ele
negou que teria vantagens financeiras com com contratos de sua empresa com os dois hospitais. “Recebo pelo que faço”, disse ele. O diretor também é questionado pelo MPE por empregar no Hospital do Câncer a filha, irmã, filho  e sogro do filho. “Minha família conta com seis médicos que recebem pelo trabalho que exercem, nada de errado nisso”, afirmou o médico, que disse ainda já ter devolvido R$ 8.000 ao SUS por um tratamento de paciente já morto.

O Hospital do Câncer recebe em torno de R$ 1,3 milhão por mês do SUS.

Blener Zan, o diretor-presidente da Fundação Carmen Prudente, mantenedora do Hospital do Câncer, disse que, no ano passado, sua empresa, Elétrica Zan, negociou em torno de R$ 20 mil com o hospital. “Isso não significa nem 0,0001% da receita da empresa. Negociamos com o hospital porque nossos preços são menores”, disse Zan.

Os demais citados na investigação não foram localizados.