Unilever contradiz Anvisa e afirma que avisou autoridades sobre contaminação de AdeS
Em nota divulgada na tarde desta quarta-feira (27), a Unilever Brasil, fabricante do suco AdeS, afirmou que “informou oficialmente às autoridades competentes” sobre a contaminação de 96 unidades do suco com solução de limpeza composta de soda cáustica.
“A Unilever reforça que, imediatamente após tomar conhecimento do problema, alertou a população. No dia 14.mar.2013, anunciou o recall do produto e informou oficialmente as autoridades competentes; e deu todo o atendimento necessário aos consumidores afetados que entraram em contato com a empresa”, afirma a empresa na nota.
Mais cedo, durante audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília, o diretor de Controle e Monitoramento Sanitário da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária), José Agenor da Silva, afirmou que o órgão regulador não foi comunicado oficialmente do problema, assim como as secretarias de Saúde de Minas Gerais e do município de Pouso Alegre (MG), onde a contaminação ocorreu.
A nota divulgada pela Unilever não cita quais autoridades foram alertadas. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da empresa afirmou que irá levantar quais autoridades foram avisadas.
Na mesma nota, a empresa diz que “a falha foi um fato isolado quando por, 80 segundos, foram embaladas até 96 unidades de AdeS, sabor maçã de 1,5 litro (lote AGB25) com solução de limpeza.”
Presidente da Unilever pede desculpas
Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", o presidente da Unilever Fernando Fernandez justificou que uma combinação de falha humana e mecânica que durou 80 segundos levou à contaminação do lote do suco AdeS. Segundo ele, o operário não detectou o final da produção de um lote e colocou o equipamento para funcionar de novo, quando foi envasada uma solução de higienização. Fernandez reconheceu o erro e pediu desculpas. Na sexta-feira (22), a Secretaria de Saúde de Minas Gerais concluiu que as unidades do suco AdeS foram afetadas por hidróxido de sódio a 2,5% -- soda cáustica diluída
A contaminação ocorreu no último dia 25 de fevereiro, quando houve uma falha na linha TBA3G --uma das 11 linhas da fábrica de Pouso Alegre-- onde foi fabricado o lote AGB25, que seriam de suco de maçã de 1,5 l. No lugar do suco, o líquido envasado era soda cáustica diluída.
Versões divergentes
Mais cedo, na audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor, o vice-presidente da Unilever Brasil, Newman Debs, havia dito que a empresa comunicou oficialmente as autoridades competentes tão logo soube da falha ocorrida na fábrica em Minas.
Debs disse que assim que a empresa teve conhecimento da falha foram tomadas todas as medidas para divulgar o fato à população pela imprensa e por meio dos órgãos competentes.
O diretor da Anvisa, no entanto, afirma que a agência soube do caso pela imprensa e, a partir daí, pediu explicações da empresa.
"A Unilever está presente no Brasil há 83 anos. Há 40 anos existe a fábrica de Pouso Alegre (MG) e há 15 anos a fábrica produz o suco de soja. Este fato, do qual estamos conversando, é um fato pontual de um produto de 15 anos de existência", afirmou Debs aos deputados.
O diretor da Anvisa reconheceu, no entanto, que a legislação brasileira não obriga a empresa a comunicar imediatamente a agência em casos como este. “Falamos da gravidade da Anvisa não ter sido comunicada e é um fato que realçamos. A legislação não determina que comunique, mas com a parceria que temos com o setor, achamos que deveríamos ter sido comunicados”, afirmou José Agenor.
O vice-presidente da empresa argumenta que tratou primeiro com os consumidores, seguido pelos órgãos de fiscalização locais e depois atendeu aos pedidos da agência.
“A Anvisa foi recebida na nossa fábrica. Ficou vários dias lá dentro, nos pediu informações adicionais e nós estivemos na Anvisa prestando os esclarecimento adicionais”, emendou o vice-presidente da empresa.
José Agenor afirmou que a Anvisa estuda se cabe penalização à empresa. “Não posso antecipar se haverá multa ou não”, disse. Ele informou ainda que a Secretaria de Saúde de Minas está finalizando um relatório de inspeção sobre o caso.
Nova norma
O diretor da Anvisa afirmou ainda que a agência está concluindo uma norma relativa a recall de produtos alimentícios. Essa norma está sendo avaliada pelo setor jurídico da Anvisa e, depois, será posta em consulta pública.
De acordo com José Agenor, desde 2007 a Anvisa detecta problemas no recall desse tipo de produto, por isso a norma está sendo aperfeiçoada.
Histórico
Segundo a Unilever, desde o último dia 13 de março nenhum outro produto fabricado na linha TBA3G foi distribuído e a linha de produção afetada pela contaminação está inativa.
A empresa afirma que já adotou as medidas corretivas e está "colaborando com a Anvisa com o fornecimento de todas as informações necessárias para a revogação da interdição cautelar que possibilitará o retorno da fabricação, bem como a liberação para a distribuição, comercialização e consumo dos lotes da AdeS com as iniciais AG (exceto AGB25).
A Anvisa e o Departamento de proteção e defesa do consumidor do Ministério da Justiça disseram que ainda é cedo para calcular quais as punições a empresa poderá ter em função da falha. Com relação ao pagamento de multa, o valor máximo previsto pela Anvisa é de R$ 1,5 milhão, e, pelo Código de Defesa do Consumidor, pode chegar a R$ 6,2 milhões.
Orientações ao consumidor
A orientação da Anvisa é que os consumidores não utilizem os produtos já adquiridos e, em caso de queimaduras ou outros sintomas após consumo, procurem um médico. A solicitação de troca, reembolso ou reparo a quaisquer danos decorrentes do consumo do produto contaminados deve ser feita pelo SAC (serviço de atendimento ao cliente) da empresa por telefone no 0800 707 0044, das 8h às 20h, ou por e-mail pelo sac@ades.com.br.
A Anvisa também dispõe de uma canal de atendimento ao cidadão no 0800 642 9782. (Com informações da Agência Câmara)
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