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Policiais presos no Rio dividiam propina entre batalhões, diz secretaria

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

30/04/2013 17h33

O subsecretário de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública, Fábio Galvão, afirmou nesta terça-feira (30) que dois policiais civis acusados de cobrarem propina roubavam mercadorias piratas de vendedores de Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, e Honório Gurgel, na zona norte, para depois revenderem a outros comerciantes na mesma área. Segundo a investigação da Operação Comadre, parte da propina recebida pelos policiais era dividida dentro de batalhões e delegacias da região.

Até as 16h30, 45 policiais militares, seis policiais civis, um funcionário terceirizado que atuava como administrador da 34ª DP (Bangu) e outras 14 pessoas envolvidas no esquema haviam sido presos.

De acordo com Galvão, os presos atuavam em diversas quadrilhas na região e se conheciam. O subsecretário afirmou também que não é possível mensurar o quanto foi recebido de propina pelos policiais, que segundo ele atuavam "há muito tempo" nos locais.

"Eles chamavam as vítimas de 'padrinhos'. No Calçadão de Bangu, a propina cobrada era de R$ 70 semanais, podendo ser divididos em duas parcelas, cobradas sempre às quartas e quintas-feiras. Na Feira de Marechal Marciano, também em Bangu, o valor variava entre R$ 5 e R$ 50, de acordo com o poder de comercialização dos camelôs”, explicou Galvão. “Quem vendesse mais, pagava mais. Se fosse [venda de] material ilícito, mídia pirata, [os policiais] cobravam mais caro."

"Dois membros da DRCPIM [Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial] foram denunciados por roubo. Quando os comerciantes não cumpriam o acordo, eles roubavam roupas e mídias piratas, um material avaliado em R$ 4.000, e revendiam depois para outros comerciantes. Eles recolhiam o dinheiro nas feiras e dividiam para viaturas do dia, dentro dos batalhões e delegacias", disse o subsecretário.

De acordo com a investigação, os policiais também cobravam propina de empresas de mototáxi da região. Os valores variavam entre R$ 50 e R$ 100 por ponto, para cada equipe de transporte.

Relembre: Corregedoria flagra PMs pedindo propina em blitz no RJ

"Eles não atuavam fiscalizando o mototáxi. Muitos deles não tinham habilitação, documentação regulamentada e nem autorização da prefeitura para atuar. E esses policiais legitimavam a atuação", informou o subsecretário.

Cerca de 400 policiais, entre militares e civis, participaram da Operação Comadre, que segundo Galvão "pode assumir dimensões ainda maiores", caso seja descoberta a participação de oficiais no esquema.

Os policiais presos vão responder ao crime de concussão na Justiça Militar, pois o praticaram em serviço. Todos os presos responderão também por formação de quadrilha e os dois policiais civis, por roubo. Pelo crime de quadrilha, a pena varia entre dois e seis anos; pelo de concussão, dois a oito anos; e pelo de roubo, a quatro a dez anos.

O civis atuavam ajudando os policiais na arrecadação de propina e passando informação sobre pessoas que se negavam a pagar, para que os policiais os ameaçassem. Entre os que participavam do esquema estava um funcionário do Degase, que andava armado e se identificava como Policial Civil.

Segundo a Corregedoria da Polícia Militar, 317 PMs foram excluídos da corporação apenas em 2012. "Aqueles que não acreditarem que podem ser pegos, se continuarem [a praticar crimes] perderão o emprego", disse o comandante-geral da PM, coronel Edir Costa Filho.