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Apreensão de drogas sobe mais de seis vezes na Lapa entre 2012 e 2013

Fachada do bar da Boa, situado na avenida Mem de Sá, no bairro boêmio da Lapa - Marco Antônio Cavalcanti/UOL
Fachada do bar da Boa, situado na avenida Mem de Sá, no bairro boêmio da Lapa Imagem: Marco Antônio Cavalcanti/UOL

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

04/05/2013 06h00

Números de apreensões de drogas e detenções de menores dispararam na Lapa, bairro boêmio da região central do Rio, do primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período em 2012. Levantamento feito pelo 5º Batalhão da Polícia Militar para o UOL mostra que, no primeiro trimestre de 2013, em relação ao mesmo período do ano passado, a apreensão de maconha cresceu 586% em comparação com o trimestre de 2012. Foram recolhidos 659 porções de maconha neste ano, contra 96 no mesmo período no ano passado.

A PM também apreendeu cocaína. Entre janeiro e março deste ano, foram apreendidos 415 papelotes da droga. Nessa mesma época em 2012, foram 190 - crescimento de 118%. Segundo o comandante do 5º Batalhão, o tenente-coronel Sidney Camargo, o aumento dos índices pode ser atribuído à intensificação no policiamento da região após a troca de comando --em outubro do ano passado, policiais foram presos por suspeita de envolvimento na exploração do jogo do bicho no centro do Rio. "Quando assumi, em outubro, vi que tinha muitas notícias de trafico, de roubo, então resolvi que tínhamos que dar uma atenção especial", afirmou o comandante do batalhão.

Apesar da mudança no policiamento, frequentadores ainda reclamam da falta de segurança e da ação de ladrões que se misturam à multidão. Moradores evitam falar do tráfico, que aproveita de casarões abandonados e alicia menores para vender drogas na área. O uso de crack na região próxima aos Arcos da Lapa também incomoda moradores e boêmios.

 

Boa parte dessa droga é encontrada com menores, que fazem o "tráfico formiguinha", como explica o comandante. "O tráfico de maneira geral é aquele 'formiguinha', de forma pulverizada, com pouca droga nas mãos do traficante. Assim, quando são pegos a quantidade é pouca e a prisão é como usuário, não como traficante. Mas, a maioria é de menores. São presos e soltos", disse Camargo.

Apesar da grande quantidade de drogas, o volume de prisões de adultos e detenções de adolescentes parece pequeno. Foram 30 menores apreendidos no primeiro trimestre deste ano, contra 13 neste período no ano passado. Já os números de prisão de adultos não sofreram muito impacto se comparado os períodos - de janeiro a março deste ano foram 31 prisões, e na mesma época em 2012 foram 27. 

Além do tráfico, os adolescentes são responsáveis por grande parte dos furtos que acontecem no bairro, principalmente nos dias de maior movimento, a partir de sexta-feira, quando se aproveitam da multidão para agir. 

"Eles agem em grupos de dois, três ou mais. Tomam geralmente o celular e às vezes os cordões das pessoas e correm, se espalham. Passam para outro rapidamente para fugirem o flagrante se forem presos", afirmou o comandante.

Segundo Camargo, a maioria dos adolescentes presos é solta e volta a agir na Lapa. Dos números de detenções, há casos de reincidência, o que é muito comum, segundo o comandante, que não informou quantas das 30 apreensões são de reincidência.

"Temos de respeitar a legislação e trabalhar de acordo com ela. Temos que reprimir e levar para a delegacia e fazer o que tem de ser feito. Às vezes tem maiores junto. O receptador das coisas roubadas geralmente é maior", explicou o comandante.

Apreensões de crack têm menor volume na Lapa. Nos três primeiros meses desse ano, foram 60 pedras. No ano passado nesse período, foram três. "Hoje em dia, a Lapa está melhor do que antes, mas quando eu vejo gente fumando crack na rua me incomoda", disse Karina Pinheiro, 27, frequentadora dos bares do bairro.

Ruas fechadas

De julho de 2010 a março deste ano, parte das ruas Mem de Sá e Riachuelo foram fechadas ao trânsito durante a noite para facilitar a movimentação dos frequentadores dos bares e casas noturnas da Lapa. Porém, dificultou a atuação da PM e facilitou a ação dos criminosos, disse Camargo. Com as ruas livres, ambulantes tomavam as ruas e a aglomeração dificultava o policiamento, explicou o comandante.

A assessora de imprensa Carla de Gonzales foi furtada no ano passado quando tomava cerveja no trecho fechado para carros na rua Riachuelo. Ela disse ter a impressão de o garoto que furtou seu cordão ter 13 anos, já que ele foi tão rápido que ela nem conseguiu observá-lo direito.

"Ele pulou para chegar ao meu pescoço. Quando isso aconteceu, ouvi um cara gritar. O garoto roubou o celular do bolso desse homem antes de me roubar. Foi muito rápido. Ele levou meu cordão que eu usava havia 15 anos, que eu amava", disse Carla.

 

Camargo explica que celulares são o principal alvo dos ladrões e diz que as pessoas devem tomar certos cuidados com esses aparelhos na Lapa, evitando ostentação. A reabertura das ruas foi uma reivindicação dos moradores e comerciantes da Lapa, que apontaram para a prefeitura as dificuldades enfrentadas durante esse período em que as vias ficaram livres para o público.

"Era muito prejudicial para nós. Eu tinha que descer do táxi ou do ônibus e ainda andar 15 minutos para chegar em casa. Era perigoso e constrangedor", disse Bruno Sereno, 29, que mora no bairro.

Tráfico x policiamento

Camargo disse que quando assumiu o comando do batalhão observou pelo noticiário que eram constante os problemas da Lapa, e por isso disse ter traçado um esquema especial de policiamento para a área.

Às sextas e sábados, o policiamento é feito com 20 viaturas e 50 poliaciais na operação Lapa Segura. Esse efetivo cai de domingo a sexta e passa a ser feito com quatro carros e 12 policiais. Nos últimos dois meses, a Lapa também ganhou o reforço do policiamento do BPTur (Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas) com agentes de bicicleta.

Dois pontos onde a PM sabe da atuação de traficantes recebem um policiamento mais ostensivo, segundo Camargo. Um deles é a escadaria do Convento de Santa Teresa, também conhecida como escadaria Selarón, ponto de venda de drogas. O comandante diz que, há dois meses, colocou policiais no topo e aos pés da escadaria para monitorar o movimento pelo local.

"Nós fazemos o possível, mas eles [traficantes] sempre encontram um jeito de fazer escondido", diz o comandante.

Outro ponto é em frente a um casarão na rua do Lavradio, invadido por moradores de rua. Segundo o comandante, traficantes aproveitam da ocupação irregular para esconder drogas no local. "Ali é um ponto crítico. Sempre fazemos prisões ali. Coloquei policiamento 24 horas para tentar inibir", disse o comandante.

Delegacias

De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, os policiais de delegacias especializadas e da 5ª DP (Mem de Sá), realizam ações de repressão a criminalidade na região da Lapa. As ações acontecem com agentes da Delegacia de Combate às Drogas; da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima; da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo e da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente fazem operações no bairro. 

Nos últimos 12 meses, 174 menores foram apreendidos na área de circunscrição da 5ª DP. Na região da Lapa, 97 pessoas foram presas por crimes ligados ao tráfico ou ao porte de entorpecentes, segundo levantamento da Polícia Civil.

Os números de ocorrências podem até ser maiores já que, assim como o caso da assessora de imprensa, muitas vítimas de pequenos furtos não procuram a delegacia para registrar a ocorrência.