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Para idealizador do Tarifa Zero, manifestações contra aumento são históricas

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

15/06/2013 06h00

Lúcio Gregori, 77, tem acompanhado atentamente os recentes protestos contra o aumento do preço das passagens de transporte público em várias cidades do país. Ele é o idealizador do projeto Tarifa Zero, que inspirou a criação do MPL (Movimento Passe Livre), entidade que organiza as manifestações. Para ele, os jovens estão fazendo história.

"Os moços do Brasil estão nos dando uma lição. Eles usam uma das formas clássicas de fazer política na democracia, reivindicando, indo para a rua. E eles não fazem um protesto genérico. Querem participar dos debates sobre a política tarifária [do transporte público], algo que não se discute no Brasil", afirma.

Cenas do protesto em SP

Elio Gaspari: Quem acompanhou a manifestação ao longo dos 2 km que vão do Theatro Municipal à esquina da rua da Consolação com a Maria Antônia pode assegurar: os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais
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Lúcio classifica como "corajosa" a atitude dos jovens de sair às ruas e critica a forma como a polícia tem lidado com os atos. "Burra. É burra a maneira que a polícia está enfrentando a questão", atesta.

O engenheiro civil acredita que o vandalismo é resultado da repressão policial. "Existe uma massa de pessoas caminhando e gritando palavras de ordem, pacificamente. Então, a polícia resolve dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Quando a multidão se dispersa, não se tem mais controle do protesto. Ações totalmente desarticuladas começam a acontecer", detalha.

"Um exemplo da 'burrice' aconteceu na quinta. Para evitar que a avenida Paulista fosse interditada [pelos manifestantes], a polícia foi lá e ela mesma paralisou a via, bloqueando o trânsito", critica. Lúcio Gregori acredita que a negociação seja a saída.

Bandeira de protesto

Os protestos que se espalham pelo país são contra o reajuste das passagens de ônibus, metrô e trem. Além disso, os manifestantes defendem uma bandeira mais ambiciosa: a tarifa zero.

A ideia não é nova. Foi concebida em 1990 pelo então secretário de Transportes de São Paulo, Lúcio Gregori, que apresentou a proposta à prefeita Luiz Erundina (PT). Consiste basicamente em parar de cobrar passagem dos usuários. De acordo com o projeto, o serviço seria custeado pelo conjunto dos impostos pagos pela população.

"Recolher tarifa custa caro. Cerca de 30% do dinheiro que se arrecadava [com transporte público] na época era gasto com catraca, cobrador, controle. É mais inteligente fazer a cobrança do ônibus da mesma forma que se faz a do lixo: indiretamente", argumentou à época. Antes da Secretaria de Transportes, Lúcio havia ocupado a pasta de Serviços e Obras.

A posposta do ex-secretário previa uma ampliação progressiva na cobrança do IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano). "Os imóveis menores, com até 60 m², continuariam isentos de cobrança, mas os maiores seriam obrigados a pagar valores que aumentariam de acordo com o tamanho e a natureza do imóvel. Bancos pagariam duas vezes mais", detalha. Ele explica que o dinheiro arrecadado seria destinado ao Fundo Municipal de Transporte, possibilitando a gratuidade.

O projeto foi encaminhado pela prefeitura à Câmara de Vereadores, mas não chegou nem a ser votado. O que Lúcio Gregori conseguiu negociar com os vereadores foi a aprovação da municipalização do transporte, que substituiu o contrato via concessão pela contratação de frota.

Proposta viável

Passados 23 anos, o engenheiro ainda acredita que a proposta é viável. "Existem várias cidades no mundo que adotam a tarifa zero. Temos exemplos na China, na Europa, nos Estados Unidos e até aqui no Brasil, como por exemplo Porto Real (RJ) e Agudos (SP)", elenca.

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Lúcio defende o aumento dos subsídios como uma das formas de concretizar a ideia. Segundo ele, a tarifa zero pode ser um objetivo final. "Você pode ter um caminho em direção a ela com subsídios crescentes. O problema é que no Brasil o percentual de subsídio é muito pequeno, varia entre 12% e 15%. Na Cidade do México, a tarifa de metrô custa R$ 0,65, a de ônibus, R$ 0,80. Por quê? Porque eles têm uma montanha de subsídio. Na França, o subsídio do transporte público chega a 60%", afirma.

 
Protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo
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