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Suspeito de liderar vandalismo em SP é preso, ouvido e liberado; polícia busca outros três

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

19/06/2013 16h23Atualizada em 20/06/2013 02h44

A Polícia Civil prendeu nesta quarta-feira (19), ouviu e liberou um dos suspeitos de liderar os atos de vandalismo contra o edifício Matarazzo, sede da prefeitura de São Paulo, na noite dessa terça (18). O rapaz, identificado como Tiago Ciro Tadeu Faria, participou da confusão na apuração do carnaval paulistano em 2012, quando rasgou as notas dos jurados. De acordo com a polícia, no entanto, a participação dele nas ações de ontem, durante o sexto protesto contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, foi descartada. Mais tarde, ainda nesta quarta, Pierre Ramon Alves de Oliveira, 20, se entregou a polícia como o autor dos ataques à prefeitura.

Segundo o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, do Decade (Departamento de Capturas e Delegacias Especializadas), o jovem foi levado preso até o 3º DP (Santa Ifigênia) após “relatos em redes sociais” o terem apontado como líder do vandalismo e da incitação de outros vândalos contra guardas civis metropolitanos.

Conforme o delegado, a polícia está em busca de outros três suspeitos com a mesma descrição.

“Não só o Tiago negou que fosse ele, como está barbudo”, disse Gonçalves. Nas imagens compartilhadas em redes como Facebook e Instagram desde ontem à noite, o jovem de camisa branca que usa as grades da prefeitura para quebrar os vidros das portas de acesso está com máscara e não aparenta ter barba.

O caso também é investigado pelo Deic (Departamento de Investigações do Crime Organizado), que ainda não se pronunciou sobre as investigações.

Mais cedo, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) havia informado que a polícia foi até a casa de Tiago, mas que ele não havia passado a noite no local. 

69 são detidos por saques e depredações

A polícia deteve 69 pessoas após os protestos de ontem. Segundo a SSP, 47 pessoas foram indiciadas. A secretaria não divulgou o motivo do indiciamento e também não informou se algum dos detidos já foi liberado. 

Os detidos foram distribuídos em seis distritos policiais. Eram, ao menos, 16 detidos no 1º DP (Liberdade), 30 no 8º DP (Brás), 15 no 78º DP (Jardins), um no 2º DP (Bom Retiro) e um no 3º DP (Campos Eliseos). Presos também foram levados para o 5º DP (Aclimação) 

O sexto protesto contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, realizado na noite desta terça-feira (18), foi marcado por saques a lojas, destruição de agências bancárias e a depredação do edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo. Tanto os saques quanto a passividade da Polícia Militar durante ações de vândalos diferenciaram o ato dos demais, que ou ocorreram pacificamente, como nessa segunda (17), ou foram fortemente reprimidos pela PM, como na quinta-feira (13).

Demorou cerca de três horas entre o início da ação dos vândalos, perto das 18h30, e a chegada dos primeiros carros da Força Tática ao local, por volta de 21h30, quando lojas já estavam saqueadas e danificadas, e as vidraças laterais e frontais da prefeitura, destruídas.

Segundo o instituto Datafolha, cerca de 50 mil pessoas participaram da sexta manifestação. De acordo com a polícia, ao menos 56 foram presos por saques, no centro, e por atos de vandalismo na região da rua Augusta, para onde parte dos manifestantes se dispersou.

Aglomeração começou na Sé

Os participantes da passeata começaram a se aglomerar na praça da Sé por volta de 17h. Pouco antes de 18h, saíram em passeata rumo à prefeitura, na junção da praça do Patriarca com o viaduto do Chá. Outro grupo saiu da Sé e foi até o Parque Dom Pedro, para depois retornar à prefeitura. Após o encontro dos grupos, houve uma nova divisão e a maior parte dos manifestantes se dirigiu, de forma pacífica, até a avenida Paulista.

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Os primeiros atos de vandalismo começaram por volta de 18h30, com pequenos grupos atirando pedras e morteiros nos portões e janelas da prefeitura, além de fazer pichações na parede do prédio, mesmo diante do repúdio da maioria dos presentes, que apelavam com gritos “sem vandalismo” e “sem violência”. A maior parte das vidraças das fachadas frontal e lateral do prédio da administração municipal foi quebrada.

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Na tentativa de invadir a sede da prefeitura, duas placas de sinalização foram arrancadas e utilizadas para tentar arrombar uma porta de madeira localizada na lateral do edifício. Carros que estavam estacionados ao lado da prefeitura, na rua Doutor Falcão Filho, também foram depredados. Na sequência, um furgão da TV Record foi depredado e incendiado, assim como uma base da PM que estava vazia. Uma moto levada de uma loja saqueada nas imediações também foi incendiada.

Vandalismo é assistido pela PM

Enquanto os atos de vandalismo começavam a tomar grandes proporções, policiais militares que estavam a menos de 200 metros do local, em frente à sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP), na rua Libero Badaró, assistiam à ação. Uma base móvel da PM, estacionada ao fundo da praça do Patriarca, também acompanhava as cenas sem intervir.

O próximo alvo de depredação foi uma agência do Itaú, situada na esquina da praça do Patriarca com a Líbero Badaró, que foi totalmente destruída. O prédio do Othon Palace, atualmente ocupado por famílias sem-teto, também foi atacado. Os moradores reagiram com paus e até uma foice para evitar que vândalos entrassem lá. Parte dos moradores evacuou o prédio e também o que fica sobre o Itaú devido à fumaça causada por um princípio de incêndio no Itaú, contido pelo Corpo de Bombeiros.

Outra agência também do Itaú, no fundo da praça do Patriarca, também foi completamente depredada. Computadores e outros equipamentos das agências foram atirados nas ruas.

A destruição prosseguiu pela rua Direita, onde uma agência da Caixa Econômica Federal foi apedrejada e lojas tiveram os portões arrombados, o que provocou os primeiros saques. Neste momento, por volta de 21h, um grupo de aproximadamente 20 PMs, que apareceu para tentar coibir as ações de vandalismo e os saques, teve de correr dos manifestantes, que atiravam pedras e outros objetos contra eles. Com a chegada de reforço, eles foram para cima dos manifestantes e os agrediram com cassetetes.

A Tropa de Choque, acompanhada por equipes da Força Tática, só chegaram à rua Direita e à praça do Patriarca por volta de 21h30. Com bombas de gás lacrimogêneo, conseguiram dispersar a maioria dos presentes. A ação dos PMs, que durou cerca de meia hora, inibiu novos saques e depredações. Depois disso, todos os PMs deixaram a rua Direita, o que fez com que os saques retornassem.

Estabelecimentos que não foram saqueados ficaram marcados por pichações; na praça do Patriarca, a igreja de São Francisco teve vidros quebrados e as paredes pichadas.

Lojas de departamentos e bancos são alvos preferidos

Os principais alvos dos saques foram as lojas Magazine Luiza, Americanas, Marisa e Pernambucanas. Foram levados aparelhos de som, televisões, eletrodomésticos, roupas, brinquedos e alimentos por dezenas de pessoas –entre as quais, moradores de rua ou de áreas ocupadas do centro.

A reportagem presenciou que, enquanto os furtos ocorriam, uma equipe da PM, composta por quatro homens e dois carros, abordava moradores de rua a poucos metros dali, na rua Quintino Bocaiúva. Três deles foram presos naquele momento por portarem produtos eletroeletrônicos. Um policial rasgou a barraca de uma mulher que estava com o grupo; ela admitiu ter pego um televisor que disse ter encontrado “no chão”.

Depois que as lojas já haviam sido saqueadas, a Tropa de Choque fez uma varredura nas ruas do centro velho; parte desse rescaldo foi acompanhado pelo lançamento de bombas e gás lacrimogêneo.

Destruição na Barão de Itapetininga e pichações no Theatro

O rastro de destruição também atingiu lojas da rua Barão de Itapetininga e da praça Ramos de Azevedo, em frente ao Theatro Municipal –onde os cerca de 300 espectadores de uma ópera permaneceram durante toda a ação dos vândalos na prefeitura. O teatro teve a fachada pichada e vidros de luminárias trincados.

“A ópera teve um intervalo, e, nele, avisamos o público do que ocorria do lado de fora. O público ficou até o fim; não registramos ninguém tentando entrar  --creio que o teatro fosse um ponto fora da curva, pois as pessoas têm uma relação de respeito com o lugar”, avaliou o diretor-geral da Fundação Theatro Municipal, José Luiz Herencia. “Não vimos PMs aqui no entorno entre as 17h e as 22h”, completou, ao lado de Herencia, o chefe de gabinete da secretaria municipal de Cultura, Rodrigo Savasoni.

Na Barão de Itapetininga, os estragos mais evidentes foram em uma agência do banco Itaú Personnalité, em um prédio da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) onde fica a diretoria, em uma unidade do McDonald’s e em uma loja da operadora Claro, onde todos os aparelhos celulares e os computadores de atendimento ao público foram roubados.

Lojas são saqueadas e bancos destruídos no centro de SP

Os saqueadores ainda tentaram derrubar as portas de uma loja das Casas Bahia localizada em frente ao teatro, mas só conseguiram quebrar os vidros, graças a paralelepípedos. Em uma das portas, restou a pichação: “O gigante acordou de mal humor”. Na manifestação de segunda, pacífica, os participantes exibiam cartazes com “O gigante [o Brasil] acordou”.

PM não agiu para “não prejudicar maioria pacífica”, diz SSP

Em nota, a SSP informou que "os poucos episódios de depredação registrados" no centro da cidade foram "fatos isolados, provocados por uma pequena minoria. Os responsáveis estão sendo monitorados e serão investigados."

Também na nota, a secretaria citou que, "a pedido da prefeitura", a "PM havia posicionado uma equipe da Força Tática no interior do prédio, mas avaliou que intervir em meio à multidão poderia prejudicar parte da maioria pacífica de manifestantes."

O Movimento Passe Livre marcou para a próxima quinta-feira (20) a sétima manifestação: será às 17h, na Praça do Ciclista, na Paulista.

* Com reportagem de Guilherme Balza, em São Paulo

OS PROTESTOS EM IMAGENS (Clique na foto para ampliar)

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  • PM espirra spray de pimenta em manifestante durante protesto no Rio

  • Em Brasília, manifestantes conseguiram invadir a área externa do Congresso Nacional

  • Milhares de manifestantes tomam a avenida Faria Lima, em SP

  • Após protesto calmo em SP, grupo tenta invadir o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo

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