Artigo: 'Foi a população de SP que se levantou', diz o Movimento Passe Livre
Os protestos em São Paulo têm demonstrado que há um novo e velho agente político na cidade: a população.
Cenas do protesto em SP
Elio Gaspari: Os distúrbios começaram pela ação da polícia, mais precisamente por um grupo de uns 20 homens da Tropa de Choque, que, a olho nu, chegou com esse propósito Leia mais |
Existe terror em SP: "Fosse você manifestante, transeunte ou jornalista a trabalho, não havia saída pela via nem pelas transversais, todas cercadas pelo Choque. A cada arremesso de bomba, alguém pedia por vinagre ou o oferecia". Leia mais |
Ataque à imprensa: Diversos jornalistas foram feridos e presos pela polícia durante a cobertura do ato. Vídeo mostra que um grupo se identifica e pede para que não seja atingido, mas os policiais ignoram e disparam tiros de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Assista |
Vídeo gravado durante os protestos em São Paulo mostra um policial quebrando, com socos, um dos vidros do próprio carro da polícia. Assista |
É claro que o Movimento Passe Livre não tem 15 mil militantes e nem nenhuma das outras entidades envolvidas. É a população de São Paulo que outra vez se levantou.
Assim como, no início dos anos 1980, grandes revoltas populares levavam milhares de pessoas a protestar (com ênfase nos bairros de periferia da zona sul) contra as demissões em massa e os altos preços dos alimentos, agora o transporte público se torna alvo dessa força explosiva.
Após 30 anos, voltamos a ver as manifestações ganharem peso na imprensa, juntamente com o ascenso da violenta repressão policial.
A grande diferença é que, se antes as revoltas e saques eram realizados por trabalhadores adultos, normalmente pais de família desesperados com as condições impostas por uma grande crise econômica deixada pela ditadura militar, agora a maioria dos manifestantes é mais jovem.
Jovens estudantes, jovens trabalhadores, jovens da periferia, jovens secundaristas. Forma-se na cidade uma nova geração que não aceita as péssimas condições do transporte coletivo e, mais ainda, compreende a necessidade de sair às ruas para lutar pelo direito à cidade e à mobilidade urbana.
Os governantes tentam deslegitimar como podem a disputa política colocada pelo povo. Eles denunciam os danos à propriedade causados por alguns manifestantes e deixam de lado a violência provocada pelo próprio poder público: em primeiro lugar, o aumento da tarifa, que faz crescer a exclusão urbana e a camada da população marginalizada pelos custos da sobrevivência e, em segundo lugar, a violência militar que proíbe a manifestação política daqueles que não querem se arriscar a tomar um tiro de borracha, um estilhaço de bomba de efeito moral, ou que simplesmente não conseguem respirar em meio às nuvens de gás lacrimogêneo.
A grande verdade é que o poder público se nega a dialogar com o movimento, virando as costas para a população que não aceita o aumento das passagens de um transporte público caótico, indecente e que tem como única função manter os altos lucros dos empresários do ramo.
Nem as tentativas do Ministério Público, nem o pedido de reunião com o prefeito protocolado pelo MPL conseguiu sensibilizar as autoridades para que negociem a revogação do aumento.
- 9772
- http://noticias.uol.com.br/enquetes/2013/06/13/voce-e-a-favor-da-repressao-policial-a-manifestantes.js
Nesse último ato, como já havia sido anunciado pelos governantes, a repressão cresceu. Cresceu tanto que ultrapassou a violência contra a integridade física e o direito de manifestação política da população e atingiu repórteres, cinegrafistas e jornalistas que cobriam o protesto.
Fotos e vídeos independentes surgem a todo momento nas redes sociais mostrando o bom preparo para a truculência da Polícia Militar, que iniciou a tarde de ontem efetuando detenções completamente arbitrárias – sem acusações formais – de dezenas de manifestantes e transeuntes.
Diante desse quadro de repressão em tal medida descarado, nenhum órgão de comunicação é capaz de fazer vistas grossas, e os eventos chegam a ser denunciados por entidades internacionais como a Anistia Internacional e o Repórteres sem Fronteiras.
O Movimento Passe Livre entende que este se trata de um dos momentos de maior relevância da história recente das lutas populares em todo o país e vai continuar com as mobilizações até a tarifa cair. Revogar o aumento das passagens não é só uma medida de reparação do aumento da exclusão urbana pelo poder público, como também é uma demonstração de respeito à vontade popular própria de um Estado democrático, em que o poder emana do povo.
* Rafael Siqueira e Matheus Preis fazem parte do Movimento Passe Livre SP
Confira os quatro dias de protesto em imagens
Policial atinge cinegrafista com spray de pimenta
PM agride clientes de um bar na avenida Paulista
Policial atira bombas contra manifestantes
Cartaz faz referência à música Cálice, de Chico Buarque, escrita durante a ditadura
Manifestantes se ajoelham para tentar se proteger de ação policial
Mulher anda de bicicleta em meio a confronto entre policiais e manifestantes
Garota segura flor enquanto usa orelhão pichado durante protesto
Mulher é ferida na cabeça ao passar por confronto entre polícia e manifestantes
Policial atira contra manifestantes em rua do centro de São Paulo
Vídeo mostra policial quebrando o vidro do próprio carro da polícia em SP
Manifestante faz sinal da paz para policiais
Policial Militar aponta arma para se defender de agressores
Manifestantes se ajoelham diante de PMs durante protesto na avenida Paulista
Policial tenta apagar fogo provocado por manifestantes
Manifestantes fazem fogueira durante protesto contra o aumento das passagens
Manifestantes tomam a avenida Paulista no segundo protesto
Multidão participa do primeiro protesto contra a aumento na tarifa de ônibus
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