Promotoria irá denunciar 19 por tortura no caso Tayná; 17 são policiais
O MPE (Ministério Público Estadual do Paraná) irá denunciar à Justiça 19 pessoas --entre elas um delegado de polícia, 15 policiais civis, um soldado da PM e dois guardas municipais-- por prática de tortura durante a investigação do assassinato de Tayná Adriane da Silva, 14. Dois deles também são acusados por crimes contra a dignidade sexual.
Se a Justiça acatar o pedido e abrir o processo, os 19 serão julgados pelo crime de tortura, que prevê reclusão por até oito anos. Lei federal de 1990 considera a tortura um delito equiparado a crime hediondo --em que é mais rigorosa a progressão para o regime semi-aberto.
O Judiciário tem dois dias a partir do recebimento da denúncia para decidir se acata ou não o pedido do MP. A denúncia será protocolada nesta sexta-feira (2).
Todos são acusados de torturar quatro rapazes para que confessassem o estupro e o assassinato de Tayná, encontrada morta em 28 de junho em Colombo, região metropolitana de Curitiba. Posteriormente, laudos periciais desmentiram a versão apresentada pela polícia.
Outro policial também será denunciado por falso testemunho, e um agente carcerário por lesão corporal.
“Toda tortura é grave. Mas este caso é mais grave que o habitual, pois ocorreu em vários lugares, momentos e envolveu várias pessoas. [Os suspeitos de matar Tayná] Foram reiteradamente submetidos a agressões”, informou o coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação especial de Combate ao Crime Organizado) do MPE, o promotor Leonir Batisti.
A reportagem procurou os advogados Claudio Dalledone Junior, que defende o delegado Silvan Rodnei Pereira, e Marluz Dalledone e André Luiz Romero de Souza, contratados pelos demais policiais civis, mas nenhum deles atendeu às ligações a seus telefones celulares nem retornou às chamadas até o fechamento deste texto, às 18h50.
Pereira e outros oito policiais civis agora acusados de tortura seguem sob prisão preventiva, a pedido do Gaeco. Outros dois policiais que estavam detidos foram soltos pela Justiça na segunda (29), a pedido de Romero de Souza.
O caso
Tayná desapareceu em 25 de junho, após avisar a mãe que estava voltando para casa. No dia 27, a delegacia do Alto Maracanã, em Colombo, prendeu quatro suspeitos, que segundo o delegado Silvan Rodney Pereira teriam confessado que estupraram várias vezes a jovem e em seguida a mataram.
No dia seguinte, o corpo dela foi encontrado submerso num poço na região. Dias depois, porém, veio à tona que o sêmen encontrado nas roupas de Tayná não pertencia a nenhum dos suspeitos. Em seguida, os suspeitos disseram que confessaram os crimes após serem torturados.
O caso gerou uma “crise” na “legitimidade da atuação” da Polícia Civil, segundo o secretário da Segurança Pública do Paraná, Cid Vasques. Ele anunciou, no dia 23 do mês passado, a substituição do delegado-geral da corporação.
Antes, a pedido do MPE (Ministério Público Estadual), 15 pessoas foram presas preventivamente – entre elas o delegado Silvan Pereira, outros nove policiais civis e um soldado da PM, além de dois guardas municipais de Araucária (região metropolitana de Curitiba).
Os quatro suspeitos que confessaram o crime sob tortura foram levados para fora do estado, protegidos pelo Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas.
Sob novo comando e sigilo, a polícia segue investigando a morte de Tayná.
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