Bonde chegou a Pinheiros em 1909 após pressão de lideranças do bairro, diz neto de morador
A antiga linha de bonde que passava pelo bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, cujos trilhos foram revelados nesta terça-feira (6) por uma obra na rua Teodoro Sampaio, só chegou ao largo de Pinheiros --próximo ao largo da Batata-- em 1909, após pressão de moradores da região.
Quem conta a história é o bancário aposentado Benedito de Andrade Beu, 81, neto de Matheus Ferreira de Andrade, comerciante e líder político.
“O bonde descia do cemitério do Araçá até a rua Oscar Freire, não chegava ao largo de Pinheiros. Pra isso era preciso fazer um aterro, por causa da baixada que tem ali. Meu avô e outros líderes do bairro pediram a construção desse aterro”, diz.
E eles conseguiram. Em 1909 o bonde chegou ao largo de Pinheiros, “trazendo desenvolvimento”, afirma Beu, que nasceu em 1932, mas sempre as histórias dos pais e do avô. “O meio de transporte era só carro de boi e carroça, raramente carro. O bonde, assim como a luz elétrica, ajudou a desenvolver o bairro. A cidade terminava na região da [avenida] Paulista, da [avenida] Dr. Arnaldo. Depois era só o cemitério e a faculdade, até a rua Oscar Freire. Não tinha mais nada para baixo.”
Beu diz ainda que a influência do avô rendeu a ele o título de capitão: capitão Matheus de Andrade. “Ele não era militar. Esse título de capitão era porque era uma pessoa influente.” Hoje faz exatamente 57 anos que o capitão morreu.
O aposentado Benedito Beu, hoje com 81 anos
Hoje, o neto do homem que ajudou a levar o bonde para Pinheiros se diz espantado com o rápido crescimento da cidade. “Acho engraçado que a cidade de São Paulo seja uma das maiores do mundo. Em 1950 eu tinha 18 anos. Sabe quantos prédios havia na avenida Paulista? Nenhum. Eram só os casarões dos barões do café”, relembra Benedito Beu, que saiu de São Paulo aos 24 anos para se casar com uma moça de São Vicente, na Baixada Santista, onde vive até hoje.
História
De acordo com a Secretaria Municipal dos Transportes, São Paulo chegou a ter 104 linhas de bonde, que circularam de maio de 1900 a março de 1968.
A obra que revelou os trilhos da antiga linha faz parte do plano de “reconfiguração geométrica e adequação do pavimento da região do largo da Batata”, de acordo com a Prefeitura de São Paulo. O arqueólogo Juliano Meneghello, coordenador dos trabalhos de campo, confirma a existência de um aterro no local. “Esse aterro existe mesmo. Já observamos durante a escavação”, afirma.
Meneghello conta que os trilhos serão retirados de lá e que uma parte será remontada na praça do largo de Pinheiros, em frente à igreja Nossa Senhora de Monte Serrat. “O trilho que encontramos tem cerca de 170 metros. Não vamos remontar tudo, mas uma parte, para ficar na praça da mesma forma como o original, com placas informativas contando a história do bonde.” Segundo ele, a previsão é que todas as obras sejam concluídas até dezembro.
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