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Delegado que registrou sumiço diz que estranhou PMs não terem visto Juan

Carolina Farias

Do UOL, no Rio

10/09/2013 17h05

A terceira testemunha a prestar depoimento nesta terça-feira (10), no julgamento de policiais militares acusados da morte do menino Juan Moraes, 11, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o delegado Claudio Nascimento, que na época era titular da 56ª DP (Comendador Soares), afirmou, ao ser questionado pela promotoria, ter achado estranho os PMs não terem visto o garoto. O distrito registrou o caso alguns dias antes de a DH (Delegacia de Homicídios) assumir as investigações.

Inicialmente, a ocorrência foi registrada como auto de resistência. Apenas no dia segjuinte a mãe do menino, Rosineia Maria Moraes, relatou o desaparecimento. Nascimento chegou a fazer diligências para busca o corpo do menino, já que a mulher havia informado que seu outro filho, Wesley Moraes, viu Juan caído no chão.

"Achei estranho [não terem visto], porque os policiais comunicaram o fato ao batalhão e foram inúmeros policiais para lá. Achei estranho com tantos policiais, tendo o domínio do local absoluto por parte dos policiais. Uma pessoa que ficou lá, caída, fica difícil ser levada sem ser visto", afirmou o delegado. 

Na noite da ocorrência, o delegado plantonista não fez a perícia e justificou ao titular não ter feito o procedimento "porque o local fora desfeito [não preservado] e os policiais tinham socorrido as vítimas".

Por ser usual ocorrerem tiroteios nas proximidades, disse o delegado, os moradores do beco não viram o crime, já que temem olhar do lado de fora das casas.

"O que foi relatado pelos moradores era de que não viram o fato. Moradores que moram ali, com paredes furadas de tiros, não ficam olhando do lado de fora porque têm a liberdade tolhida. Mas, ouvindo tiros, [depois] viram várias viaturas da polícia", disse o delegado. 

Perguntado pela defesa sobre a presença de traficantes no local, Nascimento disse ter conhecimento de que criminosos fugidos do morro do Urubu atuavam na área, mas que abandonaram o local pois não havia mais lucratividade para o tráfico. O adolescente Igor de Sousa, 17, morto na ocasião, teria assumido a gerência da venda de drogas na localidade.

A quarta testemunha a prestar depoimento foi o perito Fernando Antonio de Almeida Gaspar, que examinou a ossada do menino quando foi encontrada, dez dias depois, e também após ser exumada.

Como faltavam vários ossos do corpo, ele disse ser difícil afirmar se as lesões foram provocadas por disparos. "Por estar incompleto e com fraturas não típicas, não tina como afirmar com precisão", afirmou.

Uma moradora da comunidade do Danon, que teve o filho morto por traficantes há nove anos, foi arrolada pela defesa. Ele foi enforcado por traficantes e teve o corpo desaparecido.

A moradora ouviu os tiros naquela noite e disse temer falar sobre o tráfico por ser moradora da região. "As pessoas somem frequentemente, e quem fala demais vai para o mesmo destino".

Julgamento

Os policiais militares Isaías Souza do Carmo, Edilberto Barros do Nascimento, Ubirani Soares e Rubens da Silva são acusados das mortes dos adolescentes e da tentativa de mais outros dois jovens.

Os PMs também são acusados de tentativas de homicídio contra Wesley Felipe Moraes da Silva, irmão de Juan, e Wanderson dos Santos de Assis e ocultação de cadáver, pois o corpo de Juan foi encontrado somente dez dias após os crimes, que ocorreram na noite de 20 de junho de 2011 na comunidade do Danon, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

As vítimas foram mortas em uma suposta ação do 20º Batalhão da Polícia Militar na favela. Sete jurados vão avaliar as teses da acusação e defesa para decidir sobre o futuro dos acusados. Ao todo, Promotoria e defesa chamaram 35 testemunhas. A previsão é de que o julgamento dure quatro dias.