Testemunhas dizem ter visto vigas furtadas no Rio serem cortadas e içadas em guindastes
Duas pessoas ouvidas pela DRF (Delegacia de Roubos e Furtos) da Polícia Civil do Rio de Janeiro disseram ter visto as seis vigas que desapareceram do depósito da Concessionária Porto Novo, na região central da capital fluminense, serem cortadas, içadas por guindaste e colocadas em caminhões, que saíram em direção à avenida Brasil, uma das vias expressas mais utilizadas da cidade.
As testemunhas deram à polícia as pistas mais concretas sobre o sumiço das vigas do Elevado da Perimetral, segundo o delegado Rodrigo Santoro, que comanda as investigações do caso. O desaparecimento foi descoberto no dia 9 de outubro.
De acordo com Santoro, as testemunhas contaram que viram as vigas sendo retalhadas com o uso de maçarico. Uma delas disse acreditar que o guindaste usado para içar as partes cortadas da viga era o mesmo que havia levado os materiais para o terreno. A outra, no entanto, disse que se tratava de outra equipe, mas não soube descrever os envolvidos. O delegado disse que as informações vieram de pessoas que “residem ou trabalham nas redondezas” do terreno onde se encontravam as vigas.
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A empresa responsável pelo transporte de 18 vigas - retiradas do Elevado da Perimetral, em fevereiro deste ano - até o local é a Transreto Logística e Locação de Guindastes. A mesma companhia foi contratada pela Porto Novo em maio para levar 12 das 18 vigas para a Via Binário do Porto, onde o material foi reutilizado para a construção de nova rampa de acesso à Perimetral.
“Como a empresa realmente levou parte dessas vigas para ser reaproveitada e a testemunha não soube precisar a data em que viu o material sendo levado, ela pode ter se confundido, mas estamos apurando. As 12 vigas retiradas por eles estavam inteiras e, segundo os depoimentos, as seis roubadas foram cortadas”, afirmou Santoro.
Em nota, a Transreto afirmou que “todas as informações disponíveis foram apresentadas à autoridade policial, incluindo os comprovantes da totalidade da prestação dos serviços”, e disse que está à disposição para auxiliar e colaborar com qualquer autoridade competente. O delegado, no entanto, disse ao UOL que ainda aguarda documentos e os aparelhos de GPS instalados no guindaste e no caminhão da Transreto. “Solicitamos muita coisa e ainda não chegou tudo”, disse.
A data exata do desaparecimento das vigas ainda não é conhecida. Por imagens de satélite, a polícia delimitou que o roubo ocorreu entre 10 de junho, quando foi tirada a foto mais recente com as vigas no terreno, e 12 de agosto, quando os materiais não estão mais no local.
As vigas, cada uma com 40 metros de comprimento, são feitas com uma combinação especial de metais (aço, nióbio e cromo) chamada de aço corten. Elas são altamente resistentes à corrosão e projetadas para terem uma duração de até 400 anos.
O delegado afirmou que tentou obter mais informações sobre o caso por meio de imagens de câmeras de monitoramento da CET-Rio (Companhia de Engenharia de Tráfego do município) na região, mas o órgão não mantém um arquivo com os vídeos. “Há pouco tempo, surgiu a possibilidade de solicitar as imagens das viaturas da UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] do Caju, que possuem câmeras. Já pedimos, mas ainda não chegaram”, declarou Santoro.
O inquérito, que já tem mais de 320 páginas, segundo o delegado, conta com depoimentos de aproximadamente 40 pessoas, entre representantes do Consórcio Porto Novo, da Cdurp (Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio), da Transreto, entre outros. “Também chegaram cerca de dez denúncias para a gente, mas sem nenhuma pista concreta.”
Santoro afirmou ainda que a perícia no local foi atrapalhada pela colocação de britas no terreno onde estavam as vigas por um ferro-velho clandestino, que já foi retirado da área. “Queríamos que a perícia apontasse se realmente houve o corte das vigas ali, mas as britas atrapalharam”, disse.
Valor de mercado
Conforme estimativa do presidente do Senge-VR (Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda), João Thomaz Araújo, o valor de mercado das seis vigas que desapareceram do depósito da Concessionária Porto Novo, no Rio de Janeiro, pode chegar a cerca de R$ 1,44 milhão. O prefeito Eduardo Paes, no entanto, atribuiu o valor de R$ 150 mil às vigas roubadas.
Na terça-feira (2), a prefeitura publicou edital de leilão das 232 vigas que serão retiradas no trecho de 1.050 metros do Elevado da Perimetral a ser implodido no próximo dia 24. Com um peso total de 5.104 toneladas, elas serão leiloadas no próximo dia 21.
Cada tonelada teve preço mínimo de R$ 320 definido pelo edital. O leilão renderá, portanto, no mínimo R$ 1,6 milhão, que serão reinvestidos nas obras da zona portuária. O prefeito informou que três empresas já manifestaram interesse. A vencedora terá que arcar com os custos do transporte do material comprado.
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