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Motorista falou que estudante "rebolava", diz testemunha de queda de ônibus no Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

18/11/2013 15h51

A discussão seguida de agressão física que provocou, segundo denúncia do Ministério Público, a queda de um ônibus do viaduto Brigadeiro Trompowski na avenida Brasil, no Rio de Janeiro, se agravou depois que o motorista do veículo supostamente afirmou que o estudante Rodrigo Freire havia perdido o ponto no qual pretendia descer por caminhar "rebolando".

A versão é da sobrevivente Simone Nepomuceno Campos, 18, que prestou depoimento na primeira audiência de instrução e julgamento do caso, nesta segunda-feira, no TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio). O motorista André Luiz da Silva Oliveira, 33, e o estudante Rodrigo do Santos Freire, 25, foram indiciados por homicídio doloso (com intenção de matar) após a queda do ônibus. O acidente, que ocorreu no dia 2 de abril, matou nove pessoas e feriu outras 11.

"O Rodrigo foi falar com o motorista normalmente, que ele não havia deixado todo mundo descer no ponto e que ele não podia fazer isso. O motorista então disse pra ele que ele não tinha descido porque tinha andado rebolando pra porta", afirmou. Os dois teriam iniciado uma discussão e o jovem teria pulado a catraca e chutado o rosto do condutor, que perdeu o controle do veículo.

Simone disse à Justiça que o motorista provocou a ira do estudante universitário ao agredi-lo verbalmente, mas classificou a atitude do jovem como "irresponsável". Na ocasião, Freire pulou a catraca do ônibus e golpeou o condutor do coletivo com pelo menos dois chutes, na versão das testemunhas e da denúncia do MP. "O Rodrigo se pendurou no ferro da frente, depois da roleta, e começou a dar chutes no motorista", disse Simone.

A depoente declarou ainda que, no momento mais acalorado da discussão, Oliveira chegou a chamar Freire para luta corporal. "Ele percebeu que estava provocando muito o Rodrigo, e que ele estava realmente ficando muito nervoso, e olhou para ele e disse: 'Você quer me bater? Então vem me bater'”, relatou. “Antes de ele pular a roleta, eu achei que seria apenas mais uma discussão dentro de um ônibus."

Dois são julgados por queda de ônibus e morte de nove pessoas

A também sobrevivente Amanda de Santana, 20, que prestou depoimento pouco antes de Simone, deu a mesma versão sobre a suposta postura do motorista. "Ele meio que tentou chamar o garoto 'para a mão' no sentido literal mesmo. Ele fez gestos para chamar o garoto para a mão, só que ele estava dirigindo. O garoto provavelmente perdeu a cabeça e acabou agredindo o motorista", afirmou.

Outra testemunha, Dorenilde Souza, afirmou que o motorista do veículo "olhou várias vezes para trás", desviando a atenção da direção, durante discussão com o estudante. A depoente afirmou à Justiça que o motorista "discutia e dirigia", e "virava a cabeça para trás o tempo todo".

Se condenado, o motorista poderá cumprir pena de até dez anos de prisão. Já o estudante estará sujeito a até 30 anos de reclusão em regime fechado.

O acidente

Segundo a denúncia, o motorista dirigia o ônibus, cuja linha é operada pela empresa Paranapuan, em velocidade acima do permitido, como demonstrou o laudo de exame do tacógrafo do veículo. Ele também procedeu de maneira inadequada em diversos pontos de parada ao não aguardar a descida cautelosa dos passageiros.

No acesso à UFRJ, a conduta se repetiu, impedindo a descida de Rodrigo, com quem iniciou uma discussão. O estudante foi até a frente do ônibus reclamar sobre o procedimento do motorista, que procurou parar no ponto seguinte para o desembarque dos passageiros. Nesse momento, Rodrigo quis a abertura da porta da frente para descer, já que havia pulado a roleta para discutir com Oliveira.

O motorista não atendeu ao pedido do estudante e acelerou o veículo sem que ele desembarcasse. Rodrigo então agrediu o condutor com chutes, deixando-o desacordado ao passar pelo viaduto de saída da Ilha do Governador, na zona norte. Desgovernado, o coletivo subiu o acostamento, rompeu a grade de proteção e caiu de uma altura de oito metros na pista lateral da Avenida Brasil, sentido Centro.