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Construção é o 2º setor com o maior número de mortes em acidentes de trabalho no país

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

06/12/2013 06h00

A construção de edificações, segundo a Previdência Social, é o segundo setor com o maior número de mortes em acidentes do trabalho no país, perdendo apenas para área de Transporte Rodoviário de Carga. Na segunda-feira (2), o desabamento de um prédio em construção na região da Vila Leonor, em Guarulhos, na Grande São Paulo, provocou a morte do operário Edenilson de Jesus dos Santos, 24.

Em 2011, conforme o último levantamento do órgão federal, foram registrados 177 óbitos nos canteiros de obras espalhados pelo Brasil. O número é 28,26% maior do que o registrado no ano anterior, quando 138 profissionais morreram. Em 2010, o número de mortos era de 124, mais de 40% menor do que o apontado dois anos depois.

Mas, apesar do constatado crescimento, Haruo Ishikawa, vice-presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), disse que esse aumento é inferior à expansão do setor. "Em 2006, a Construção Civil tinha 1,6 milhão de funcionários com carteira assinada. Em 2013, esse número tinha praticamente dobrado para 3,5 milhões", apontou ele ao justificar que o aumento dos acidentes nas obras não foram "tão substanciais".

"A questão é que esses acidentes acabam tendo uma exposição muito maior na mídia", acrescentou Ishikawa. Segundo ele, no entanto, essa exposição acaba sendo benéfica para o aperfeiçoamento do setor, que, na opinião do engenheiro, precisa investir cada vez mais no treinamento de sua mão-de-obra, bem como nos investimentos relacionados aos equipamentos de segurança.

A queda é a causa morte mais comum entre os profissionais da engenharia civil, como apontou Ishikawa. Na sequência, aparecem o soterramento --como no caso do acidente nas obras do estádio do Itaquerão, na zona leste de São Paulo, assim como nas obras de uma loja na mesma região da cidade, que deixou 10 mortos-- e o choque elétrico.

Para Ishikawa, muitos dos acidentes de trabalho poderiam ser prevenidos mediante o uso de equipamentos de segurança e mediante da capacitação de todos os profissionais envolvidos na obra --desde o engenheiro até o pedreiro. "É essencial também seguir a risca todas as normas técnicas do setor. E, mediante a qualquer irregularidade, é importante que os profissionais envolvidos questionem os responsáveis e até se neguem a continuar o trabalho em lugares inseguros."

Local do acidente

Em 2012, o Brasil registrou 705.239 acidentes de trabalho, sendo 22.330 relacionados ao setor da construção de edificações. O índice apresenta uma pequena redução se comparado ao ano anterior, quando foram notificados 22.382 acidentes na área. Em 2010, no entanto, o número era de 20.336.

Ainda que reconheça que estatisticamente as probabilidades de acidente cresçam proporcionalmente ao aumento do setor, Paulo Eduardo Fonseca de Campos, superintendente do Comitê Brasileiro de Construção Civil da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) afirma não ser correto tratar as ocorrências como algo natural. "Não podem acontecer e quando ocorrem, é preciso averiguar o que aconteceu", relata ele, que acrescenta que a atividade da construção civil, como muitas outras, envolve risco, mas "um risco calculado".

E para justificar essa afirmação Campos cita o desabamento de três edifícios no centro do Rio de Janeiro, no dia 25 de janeiro de 2012, bem como o desabamento da obra de São Matheus. "A primeira ocorrência foi provocada por uma reforma clandestina, já a segunda se tratava de uma obra irregular", cita. Na opinião do especialista, os riscos do setor podem ser perfeitamente evitados com a contratação de profissionais qualificados e com o uso do extenso acervo de norma técnicas existentes.

O principal problema, segundo Campos, é de cunho social. "Os usuários e os contratantes precisam ter a consciência de que executar uma obra envolve vidas. E que, assim como procuramos um médico mediante qualquer problema de saúde, é preciso contratar um engenheiro qualificado para tocar uma edificação", disse o superintendente da ABNT, que evitou falar das possíveis causas do recente desabamento de Guarulhos, mas que não descartou a existência de possíveis falhas profissionais.