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"Nunca vi isso, mas ficaremos aqui, é nossa terra", diz morador de Itaoca

Cidades vizinhas disponibilizaram caminhões e retroescavadeiras para auxiliar na limpeza de Itaoca (SP) - Edson Lopes Jr./Divulgação
Cidades vizinhas disponibilizaram caminhões e retroescavadeiras para auxiliar na limpeza de Itaoca (SP) Imagem: Edson Lopes Jr./Divulgação

Rafael Motta

Do UOL, em Santos (SP)

15/01/2014 06h00

"Graças a Deus, estamos todos bem. As perdas foram só materiais, mas ficamos sem móveis, eletrodomésticos, colchões... Em 12 anos que moro aqui, nunca vi isso”. O relato é do farmacêutico Victor Rafael Martins Borges, um dos 332 desalojados pela chuva e pelo transbordamento do rio Palmital em Itaoca, no Vale do Ribeira (SP) (a 344 km da capital paulista), entre a noite de domingo (12) e a madrugada de segunda-feira (13). O temporal causou a morte de ao menos 12 pessoas, segundo a Defesa Civil do Estado.

A casa onde mora com os pais e o irmão, no centro da cidade, foi uma das cerca de 100 moradias atingidas pela enxurrada. A 50 metros dali, na mesma avenida, fica a farmácia da qual é proprietário –e onde “nada se estragou” porque a porta de aço impediu a entrada de barro no estabelecimento.

“Eram umas 22h30, 23h de domingo quando a chuva começou. A água subiu muito rápido, em uns 15 minutos. Começamos a pôr no carro as coisas que pudemos e saímos. Estamos na casa de uma irmã, também no centro. Mas pretendemos permanecer aqui [em Itaoca]. É nossa terra”, diz Borges.

O comerciante Ricardo dos Santos, dono de uma oficina mecânica e de autopeças na região mais atingida pelas chuvas –a avenida Professor Elias Lages de Magalhães, no centro– calcula que terá de investir entre R$ 8.000 e R$ 10.000 na compra de novos equipamentos.

Ajuda

As cidades vizinhas ao município de Itaoca (344 km de São Paulo) na região do Vale do Ribeira, no interior de São Paulo estão recebendo donativos para as vítimas das chuvas que castigaram a região

“Vou ter de comprar uma desmontadora de pneus e um balanceador de rodas. No elevador [para veículos], é só limpar o motor. Mas está tudo cheio de lama. Estamos puxando tudo com enxada e rodo porque não temos água”, relata Santos, que tem dois funcionários no estabelecimento.

Nascido em Itaoca, o comerciante viveu 16 anos em Curitiba (PR) e afirma ter retornado à terra natal há um ano e meio. Jamais viu chuva parecida, e comemora por sua casa não ter sido afetada: ele vive ali com os pais e três irmãos. “Ela também fica no centro, mas numa rua mais para dentro”.

Reflexo no turismo

O comerciante Ivan Edson, proprietário de uma pousada, não sofreu diretamente com a enxurrada. Apesar de seu estabelecimento se situar na região central, localiza-se num ponto a uma altura de cinco metros em relação ao local mais prejudicado pelas cheias, segundo ele.

CIDADE FICA NO VALE DO RIBEIRA (SP)

Edson, porém, acredita que terá prejuízo financeiro com o provável decréscimo de visitantes à cidade –cuja recuperação deverá levar pelo menos seis meses, como disse nesta terça-feira ao UOL o prefeito Rafael Rodrigues de Camargo (PSD).

“Tanto por causa da chuva quanto do noticiário [sobre a inundação], deve haver menos turistas que vêm a Itaoca para visitar cavernas, cachoeiras, fazer rapel [descida de montanhas e morros com auxílio de cordas] e aonde motoqueiros vêm fazer trilhas”, conta o comerciante, que afirma ter abrigado pessoas na pousada durante o temporal.

Apoio à reconstrução

A Prefeitura de Itaoca pede doações de água, colchões, cobertores e alimentos, mediante contato com o Fundo Social de Solidariedade do município, pelo telefone (15) 3557-1143.

O município também solicita doações em dinheiro. Há uma conta corrente para depósitos em nome do Fundo Social de Solidariedade no banco Bradesco - agência 2027-13, conta número 1003321-7.

De acordo com a prefeitura, o prejuízo total causado à cidade foi de R$ 13,5 milhões, considerados danos a bens públicos e particulares.