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Com gaviões e falcões, Galeão não tem colisão de pássaro e avião há 3 meses

Jacyara Pianes

Do UOL, no Rio

07/03/2014 06h00

Uma turma de 16 aves de rapina – entre falcões e gaviões – está se destacando entre os funcionários mais dedicados do Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro. Juntos, eles participam do trabalho de falcoaria iniciado em 2013, que, com a ajuda dessas aves, tem a missão de afugentar e capturar pássaros que rodeiam a região e podem colidir com as aeronaves.

O resultado tem sido tão eficiente que há três meses o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) não registra colisões entre aviões e pássaros no aeroporto.

De acordo com o relatório de risco aviário de 2012 do Cenipa – o último disponível--, só naquele ano foram registradas 1.604 ocorrências de choque entre aves e aviões. E o Galeão estava em quinto lugar entre os aeroportos de todo o Brasil, com 67 colisões.

O primeiro lugar em colisões em 2012 foi Guarulhos, com 117 ocorrências, e o segundo foi o aeroporto internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, com 114. Eles não têm falcoaria. Já o terceiro lugar neste ranking é o Salgado Filho, em Porto Alegre, com 106 ocorrências. Este, assim como o Galeão, trabalha com a falcoaria. Além dos dois, apenas Pampulha, em Minas Gerais, conta com o trabalho permanente das aves de rapina, segundo a Infraero.

O caso mais famoso de acidente desse tipo aconteceu há cinco anos, em Nova York, nos Estados Unidos. Depois de se chocar contra um bando de pássaros, as turbinas de um avião perderam a potência e o piloto teve que realizar um pouso de emergência sobre o rio Hudson.

A coordenadora de Meio Ambiente do Galeão, Priscila da Silva Souza, conta que a falcoaria, já exercida em outros países e aeroportos do Brasil, chegou extensivamente ao Galeão em maio, mas que o Cepar (Centro de Preservação de Aves de Rapina), empresa terceirizada que executa o serviço, só teve a licença para capturar os pássaros –e não apenas afugentá-los-- em junho de 2013. “Desde que começou esse trabalho, já tem diminuído em 90% as aves vistas no sítio aeroportuário”, diz.

Com a nova vigilância, mais de 300 pássaros que colocavam em risco a segurança dos voos, principalmente durante pouso e decolagem, já foram remanejados. De acordo com Uitamar Abreu Júnior, falcoeiro e sócio do Cepar, depois de capturados, eles são identificados, passam por veterinários e são soltos no parque do Gericinó, em Nilópolis.

Trabalhadores exemplares

Umas das aves de rapina do Galeão se destaca: a gavião Sora, de 700 g, sete meses de vida e instinto aguçado. Segundo Júnior, ela é a única da falcoaria brasileira que caça urubus –ave grande, sem predador natural, que leva maior risco à aviação por conta do porte (pesa cerca de 3 kg), sendo inclusive maior que o gavião. Sora já soma dez capturas em sua lista, número que ainda deve aumentar bastante.

Outro exímio trabalhador do aeroporto é Thor, um falcão de apenas 190 g e dois anos de vida, mais tranquilo no trato, mas também bom de serviço. Suas presas principais são os quero-queros –espécie que, em 2012, conforme o Cenipa, era a que mais havia colidido com as aeronaves, em cerca de 20% das ocorrências.

Segundo o falcoeiro e veterinário Danilo Braghero, as habilidades de falcões e gaviões são diferentes. A turma de Thor é menor e mais rápida. Além disso, concentra sua força no bico. Já a família de Sora é naturalmente maior e mais forte, com força principalmente nas garras.