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Em cidade de SP com racionamento, morador perde emprego por falta de banho

O pedreiro Nelson da Costa, de 51 anos, perdeu um emprego porque não tinha água para tomar banho em Valinhos, interior de São Paulo - Fabiana Marchezi/UOL
O pedreiro Nelson da Costa, de 51 anos, perdeu um emprego porque não tinha água para tomar banho em Valinhos, interior de São Paulo Imagem: Fabiana Marchezi/UOL

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas (SP)

17/05/2014 06h00

O racionamento de água em Valinhos (a 89 km de São Paulo) já afeta o dia a dia dos moradores e a situação pode piorar. A Prefeitura pode estender nas próximas semanas o racionamento de água de 36 horas para 48h semanais, caso a captação da cidade continuem baixos.

Muitos moradores já perderam compromissos importantes por não terem água para tomar banho, como o caso do pedreiro Nelson da Costa, de 51 anos. “É triste essa situação, eu deixei de pegar uma obra porque não tinha como ir conversar com a pessoa todo sujo. Passei o dia inteiro trabalhando em uma outra construção e estava sujo. Não dava pra ir falar com ninguém daquele jeito. Se o tempo sem água aumentar mesmo, nossa situação vai piorar ainda mais. A gente chega do trabalho cansado, sujo e não pode tomar banho”, lamentou.

A filha dele, Daniele da Costa, contou que deixou de ir ao aniversário de 15 anos de uma amiga pelo mesmo problema. “Perdi um festão. O aniversário caiu bem no dia do nosso rodízio. Aí acabei não indo”, disse. A família tem tentado economizar água ao máximo. “Mesmo enchendo a caixa na noite anterior, está bem difícil. Não podemos usar água pra nada. A louça fica toda suja na pia, as plantas estão todas morrendo. Eu tinha bananeira, abacateiro, mangueira, mas está tudo seco. A água que eu bato a roupa no tanquinho, aproveito para lavar os braços e jogar um pouco no chão pra tirar a poeira”, disse o pai.

Racionamento há três meses

Segundo o Departamento de Água e Esgoto (Daev), a medida tem o objetivo de garantir abastecimento aos moradores no inverno, período típico de estiagem. O racionamento na cidade começou há mais de três meses.

Neste período, Valinhos reduziu a oferta diária de água em 7 milhões de litros, o que gerou economia de 679 milhões de litros, volume suficiente para abastecer o município por 17 dias. Em abril, o Daev confirmou que o racionamento deve continuar ao menos até setembro.

No esquema atual, o município foi dividido em sete regiões e cada uma delas tem o abastecimento interrompido por 18 horas, duas vezes por semana, ou seja, cada morador fica 36 horas semanais sem água. Caso a medida seja ampliada, o fornecimento será suspenso nos mesmos dias, mas com acréscimo de seis horas diárias, somando 48 horas semanais.

Segundo o Daev, a situação dos mananciais é monitorada diariamente, inclusive do Sistema Cantareira, que é responsável por metade do abastecimento da cidade por meio do Rio Atibaia. Para o departamento, a opção de aumentar o número de horas no mesmo dia é melhor do que ampliar o número de dias com abastecimento suspenso, mesmo que houvesse diminuição do período de corte no serviço aos consumidores.

"Caso seja preciso, é melhor ficar mais horas sem água em um mesmo dia para não alterar ainda mais a rotina e os moradores terem de se adaptar novamente a ficar mais um dia sem água. Até porque os imóveis que têm caixas d’água proporcionais ao total de moradores suportam um dia de desabastecimento. Mas tudo ainda é possibilidade. Caso haja mesmo a necessidade, faremos a devida divulgação à população para que ninguém seja pego de surpresa", explicou a assessoria.

Uma outra medida adotada pela Prefeitura para tentar amenizar a crise hídrica é levantar a documentação para pedir ao Daee a outorga que permite captação de água dos córregos Ponte Alta e Invernada, que hoje não têm água aproveitada. A aplicação de multa por desperdício de água também foi uma opção encontrada pela Administração que, segundo o Daev, vem dando resultados positivos. “Desde o início do racionamento foram cerca de 120 multas, mas depois disso, a população se conscientizou e as denúncias diminuíram bastante”, afirmou a assessoria. O valor da multa, de R$ 336, pode dobrar em caso de reincidência.

Por causa das multas, Rosangela Aparecida Assis Rocha, 40 anos, responsável pela limpeza de uma igreja no bairro São Bento, está sentindo na pele os efeitos da falta d` água. Desde o início do rodízio, ela está proibida de lavar os vitrais do templo com a mangueira, o que dificulta o trabalho e leva muito mais tempo. “O trabalho não rende. Com a mangueira é rapidinho. Limpar só com pano e água não é a mesma coisa. Além de ser mais demorado e mais cansativo, parece até que não limpa direito. Está bem difícil, mas a gente precisa fazer a parte da gente pra não faltar água de vez, né?”, reclamou.