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"Aqui ninguém está pensando em Copa", dizem metroviários após demissões

Gil Alessi

Do UOL, em São Paulo

12/06/2014 09h38

"Ninguém aqui está pensando em futebol. Estamos com gosto amargo na boca pelos colegas demitidos". Foi neste clima que os metroviários da estação Sé, linha 3-vermelha do metrô, foram trabalhar nesta quinta-feira (12), dia do início da Copa do Mundo.

Dois funcionários que trabalhavam estação estavam na lista de 42 metroviários afastados pelos governo do Estado  após a greve do dia 5 de junho, que acabou na última segunda-feira (9).

"O que o governo fez foi uma grande sacanagem. Não dá nem pra pensar em futebol quando colegas foram demitidos injustamente”, afirmaram metroviários que não quiseram se identificar por medo de represálias.

Segundo funcionários entrevistados, após aplicar multa, o governo não deveria ter demitido. "Aplicar as duas medidas juntas mostra que intenção era realmente política. Nós estávamos no nosso direto de fazer greve. Após as demissões qualquer reajuste passou a não ter mais valor. Nosso único objetivo agora é a reintegração dos colegas". 

Luto no Itaquerão

Já na estação Corinthians Itaquera, linha 3-vermelha do metrô, que atende o estádio Itaquerão (Arena Corinthians), local da abertura da Copa do Mundo, o clima também é de luto.

Metroviários ouvidos pela reportagem , que também não quiseram se identificar por meio de represália, afirmaram que o desfecho da greve e a demissão dos colegas deixou "um gosto amargo".

"Como vamos torcer pelo Brasil no torneio sabendo que colegas perderam o emprego?", disse uma controladora.

Um operador afirmou à reportagem que "vai tentar torcer pelo Brasil", apesar do clima ruim. "Eu conhecia dez operadores de trem desta linha que foram mandados embora apenas por reivindicar melhorias".

De acordo com uma funcionária, “a festa vai ser linda, a população está toda feliz, mas os problemas continuam aí. O transporte continua horrível, assim como a saúde e a educação. E o pior é saber que colegas que lutavam para mudar isso, agora têm justa causa na carteira de trabalho”.

Ela afirmou ainda que irá assistir à partida “porque lá em casa todo mundo vai ver”, mas que “a minha empolgação é zero”.

'Aqui não tem agitadores', diz demitida

Percurso livre

A reportagem demorou 26 minutos para ir da estação da Sé até a estação Corinthians Itaquera, que dá acesso a arquibancada leste do estádio.

As estações ainda estão vazias e o trânsito na Radial Leste , nos dois sentidos, é tranquilo nesta manhã. 

O movimento também está normal nas estações Sé e Luz (linha 1-azul) do metrô, de onde partem os expressos para o estádio do Itaquerão.

A greve

Em assembleia na noite desta quarta-feira (11), os metroviários de São Paulo desistiram de retomar a greve da categoria durante a Copa do Mundo. Com isso, o Metrô está funcionando normalmente para a abertura do Mundial com o jogo entre Brasil e Croácia. Agora, a categoria fará uma campanha para rever as 42 demissões dos trabalhadores que participaram de piquetes durante a greve.

Hoje, às 10h, o Sindicato dos Metroviários realizará uma reunião para discutir a situação dos demitidos, na sede da entidade, no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse na última terça (10) que as demissões não estão relacionadas à greve em si, mas ao que o governador chamou de "fatos graves", como "invasão de estação, depredação e vandalismo". O governo estadual teria uma nova lista de funcionários a serem demitidos, com 300 nomes, caso os metroviários decidam por mais uma greve.