"Não sei se vale a pena recomeçar", diz dono de academia atingida por avião
O porte atlético e a pele bronzeada praticamente sem rugas quase escondem, mas Benedito Juarez Câmara revela sua idade: ele tem 69 anos. A queda do avião que matou o candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) e outras seis pessoas, em Santos (litoral de São Paulo), também matou parte do sonho do professor de educação física e empresário.
"Isso aqui era a minha vida. Não sei o que vou fazer agora”, diz Juarez, como é conhecido, olhando fixamente para a academia vazia. Neste sábado (13), o acidente completa um mês.
A academia Mahatma era uma das mais tradicionais da cidade. Fundada em 1975, o local ocupava um amplo terreno na rua Alexandre Herculano, no bairro Boqueirão, uma área residencial de Santos.
Até o dia 13 de agosto, a academia contava com aproximadamente 800 alunos e tinha 16 funcionários. Agora, apenas dois funcionários ficam no prédio se revezando entre a limpeza e o atendimento dos alunos que vão lá em busca de informação.
O Citation XL560 caiu em um terreno vizinho à academia. Ainda não se sabe se por coincidência ou por perícia do piloto, mas o avião caiu na única área descampada da região. Mesmo assim, os destroços da aeronave e o incêndio que ocorreu depois da queda causaram danos em diversos prédios no entorno, incluindo a academia de Juarez.
Parte do teto da academia foi destruída, um muro foi danificado, equipamentos de musculação inutilizados e pelo menos duas das três piscinas da academia apresentam rachaduras e deverão ser reformadas. “Eu tinha acabado de dar uma aula no local que foi mais atingido pelos destroços. Foi muita sorte não ter acontecido nada com a gente”, lembra Juarez.
O prédio foi interditado e só foi liberado pela Prefeitura de Santos na última segunda-feira (8) apenas para obras. É justamente aí que Juarez se encontra paralisado. Ele ainda não sabe estimar o valor financeiro do prejuízo, mas diz que não tem como iniciar as obras agora.
“Eu não tinha seguro do prédio e não tenho dinheiro para tocar as reformas. Estou conversando com bancos para ver financiamentos, mas é tudo muito difícil”, diz.
Sem seguro do prédio, Juarez tem três opções: espera o julgamento sobre as causas e responsáveis pelo acidente e pede indenização; aceita acordos extrajudiciais oferecidos pelos responsáveis pelo acidente; ou inicia as obras com recursos próprios e tenta, posteriormente, algum ressarcimento.
O problema agora é tempo. “Eu tenho 69 anos, cara. Não sei nem se vale a pena. Uma coisa é você começar tudo de novo quando você tem 20, 30 anos. Mas eu tenho 69. Não sei se vou conseguir”, diz.
Diante da incerteza em relação aos verdadeiros proprietários e responsáveis pela aeronave, Juarez diz que fica ainda mais apreensivo.
Logo após a queda do avião, surgiram informações de que a aeronave havia sido irregularmente arrendada por um grupo de empresários de Recife e que parte do pagamento pela transação teria sido feita por intermédio de empresas-fantasma.
"Isso tudo deixa a gente ainda mais preocupado. Esse processo todo pode demorar anos e eu não sei o que vou fazer até que seja resolvido", diz.
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