Túnel Santos-Guarujá terá trincheira submersa e moverá 500 mil m³ de terra
Para os mais de 17 mil motoristas que trafegam entre as cidades de Santos e Guarujá pelos 40 km da rodovia Cônego Domenico Rangoni, no litoral de São Paulo, a construção de um túnel submarino ligando os dois pontos acena com a possibilidade de menos trânsito e redução de tempo na estrada. O túnel, batizado de Submerso, começará a ser construído em 2015, com previsão de término em 2018.
É a última versão de um projeto que começou com a maquete de uma ponte em 2010 e passou por vários desenhos de túneis de 2012 até agora. Mudou o projeto e também o preço, que passou de R$ 1,3 bilhão para um orçamento atualizado de R$ 2,8 bilhões. Mais de 4.000 pessoas devem ser desalojadas.
O túnel terá 1.700 metros de comprimento e ficará a 21 metros de profundidade, alojado em uma trincheira no leito marinho. A tecnologia, nova no Brasil, permitirá que o projeto seja construído em partes. Seis módulos que irão compor parte da estrutura, cada um com 120 metros, serão fabricados em uma doca seca que, posteriormente, será inundada, possibilitando assim o deslocamento e o transporte das estruturas.
De acordo com Laurence Casagrande Lourenço, presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), a escavação da trincheira dentro da água para conseguir a profundidade exigida de 21 metros representará o maior impacto ambiental da obra. Serão retirados cerca de 564.300 m³ de terra, o que equivaleria a 80.614 caminhões basculantes, que podem transportar, segundo o DNIT (Diretoria de Infraestrutura Rodoviária), 7 m³ por vez.
Este material terá como destino o mesmo local que o material de dragagem de manutenção e de aprofundamento do canal do porto de Santos, já licenciado. E representará apenas 0,6% da capacidade total, que é de 9 milhões de m³.
De acordo com um relatório em resposta às audiências públicas, tanto em Santos quanto no Guarujá está previsto que 4.230 pessoas sejam afetadas pela desapropriação de áreas e pela necessidade de reassentamento. Este ainda é um dado preliminar, já que o cadastro de imóveis e das famílias afetadas só poderá ser realizado na próxima fase de detalhamento do projeto, após a edição do Decreto de Utilidade Pública.
Tecnologia comum no exterior
Nova no Brasil, a tecnologia de construção do túnel submerso já é comum em países como Suécia, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Turquia, Coreia do Sul e Japão.
Segundo o professor e engenheiro Roberto Kochen, do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica da Escola Politécnica da USP, a obra é, de fato, a melhor opção para o local, que também é área de tráfego de aviões e navios.
"O túnel submerso é empregado em mais de cem países e é uma tecnologia inovadora que merece ser implantada no Brasil", diz.
Kochen também já projetou um túnel entre Santos e Guarujá, mas de proporções muito menores, para ligar o sistema de água entre as cidades. O professor considera a iniciativa “louvável”, já que trará conhecimento para as empresas brasileiras.
A primeira estimativa era que a obra custasse R$ 1,3 bilhão. Já em 2013, quando o estudo de impacto ambiental foi apresentado, o custo saltou para R$ 2,4 bilhões. Atualmente, a obra está orçada em R$ 2,8 bilhões, devido à correção inflacionária e a ajustes no projeto, e contará com recursos do Tesouro do Estado, além de financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Em Santos, o acesso ao túnel situa-se na região do cais de Outeirinhos e, no Guarujá, no distrito de Vicente de Carvalho.
A obra ganhou uma licença ambiental prévia em abril de 2014. Esta licença aprova a localização e a concepção do empreendimento, mas ainda não autoriza a sua instalação. O início da obra está marcado para janeiro de 2015 e deve ter duração de 44 meses.
Quem optar por usar o túnel também pagará um pedágio, assim como já é cobrado para quem usa a rodovia e a balsa. O valor ainda não foi divulgado, mas deve se igualar ao das outras opções de trajeto.
Projetos descartados
Em março de 2010, o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), colocou de lado a ideia inicial de um túnel submerso por causa dos "altos custos e longos prazos" e apresentou a maquete de uma ponte que ligaria Santos ao Guarujá para "quebrar um gargalo" na região, como afirmou à época.
O complexo orçado em cerca de R$ 700 milhões seria executado em dois anos e meio e teria 4,6 km de extensão. A ponte teria que ter 80 metros de altura para permitir a passagem das embarcações do porto de Santos, entretanto esta metragem acabaria por interferir no espaço da Base Aérea, que põe como limite 75 metros.
Foi justamente a questão da altura da construção que o atual governador Geraldo Alckmin (PSDB) usou como argumento para desistir do projeto do colega de partido e retornar à ideia do túnel.
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