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Em dois meses, 11 capitais aumentaram as tarifas do transporte

Aliny Gama e Wellington Ramalhoso

Do UOL, em Maceió e São Paulo

05/01/2015 06h00

As tarifas de ônibus, metrô e trem sobem de R$ 3 para R$ 3,50 nesta terça-feira (6) em São Paulo. Com isso, já chega a 11 o número de capitais do país com passagens de transporte público reajustadas em um período de apenas dois meses.

Moradores de outras grandes capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, já estão pagando tarifas reajustadas. A onda de aumentos, inaugurada em novembro com altas em Curitiba e Campo Grande, vem um ano e meio depois dos protestos de junho de 2013. À época, governos municipais e estaduais recuaram e decidiram cancelar aumentos.

As prefeituras alegam que os reajustes são necessários para compensar a inflação dos últimos anos e o aumento dos custos. O prefeito de Porto Alegre e presidente da Frente Nacional de Prefeitos, José Fortunati (PDT), afirmou recentemente ao UOL que os reajustes são inevitáveis. "Se congelarmos as tarifas do transporte coletivo, nós começamos a sucatear o sistema. Ou então começamos a ter que tirar [dinheiro] da saúde, da educação", disse Fortunati ao programa “Poder e Política”.

Em São Paulo, em contraponto à elevação da tarifa, a prefeitura decidiu conceder gratuidade nos ônibus a estudantes da rede pública e de baixa renda matriculados na rede privada.

A tarifa de ônibus na capital paulista não subia desde fevereiro de 2012. O reajuste atual é de 16,7%. O governo estadual decidiu fazer reajuste idêntico nas passagens do Metrô e dos trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

Protesto

O MPL (Movimento Passe Livre) marcou para as 17h da próxima sexta (9) o "1º Grande Ato Contra a Tarifa". A concentração do protesto acontecerá em frente ao Theatro Municipal, no centro de São Paulo.

Marcus Quintella, engenheiro especializado em transportes e professor dos MBAs da FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse não acreditar que os protestos terão a mesma força de 2013, mas entende que os reajustes devem ser questionados.

“São tarifas altas. Os governos municipais e estaduais privilegiam muito os aumentos de tarifas”, afirma. Os reajustes dos últimos 20 anos, prossegue o professor, superam a inflação do período em muitos casos. Ele cita como exemplo o Rio de Janeiro, onde a tarifa custava R$ 0,35 em julho de 1994, quando o plano Real entrou em vigor.

Levando em consideração a inflação acumulada desde então, a passagem na capital fluminense deveria estar em R$ 2,12, mas subiu de R$ 3 para R$ 3,40 no último sábado (3), uma alta de 13,3%, mesmo tendo sido elevada há menos de um ano, em fevereiro de 2014.

De acordo com a prefeitura, o componente que provocou um impacto maior na tarifa foi o óleo diesel – teve uma alta de 12%.

A administração municipal diz que os consórcios que operam o sistema na cidade se comprometem a disponibilizar ônibus com ar condicionado em metade das viagens realizadas. As empresas devem investir na modernização dos veículos das linhas mais utilizadas.

Na opinião de Quintella, as planilhas e os contratos das empresas de ônibus precisam ser revistos na maioria das cidades. Os assalariados, diz ele, são os mais penalizados com o aumento das tarifas. “Quem paga é sempre a população. O transporte não poderia representar uma fatia significativa nas despesas pessoais”.

Em breve, moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro também terão de pagar passagens mais caras nos ônibus intermunicipais, nos trens e nas barcas. Os intermunicipais passarão de R$ 2,80 para R$ 3,15 já no próximo sábado (10). As novas tarifas dos trens e barcas devem vigorar a partir de fevereiro.

Alta de quase 21%

Rio Branco, capital do Acre, teve o reajuste mais elevado: a passagem de ônibus subiu de R$ 2,40 para 2,90 em dezembro, uma alta de 20,8%.  A tarifa para estudante permanece em R$ 1.

A RBTrans (Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito) alegou que a tarifa não era reajustada desde 2011 e que os salários e o óleo diesel, entre outros componentes, tiveram reajustes nos últimos anos. A prefeitura da capital acreana também disse que a cidade passou a contar, recentemente, com 50 novos ônibus e dois terminais.

Em Aracaju, a tarifa subiu em dezembro. Em Belo Horizonte, as passagens dos ônibus municipais e intermunicipais subiram no fim de mês passado. Salvador e Boa Vista elevaram as tarifas no começo do ano. A passagem na capital baiana, que não subia desde 2012, passou de R$ 2,80 para R$ 3 na sexta-feira (2).

A prefeitura de Salvador informou que 700 novos ônibus entrarão em circulação na capital até o fim do mês. A média da idade dos veículos cairá de oito anos para três anos e meio.

“Os ônibus já chegam 100% adaptados para atender pessoas com deficiência e terão a entrada de passageiros pela dianteira, invertendo o funcionamento atual do sistema, onde os usuários têm acesso pela parte traseira”, disse a Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte.

“Serviço ineficiente”

As prefeituras de Florianópolis e Fortaleza não aumentaram as tarifas municipais, mas houve aumentos nas passagens dos ônibus intermunicipais.

Na Grande Fortaleza, os preços subiram no último dia 29. As passagens, que custavam entre R$ 2,30 e R$ 8,25, variam agora de R$ 2,55 e R$ 9,20. Segundo o Detran-CE, as tarifas intermunicipais não eram reajustadas desde 2011.

“Esse aumento foi absurdo, pois o serviço continua ineficiente. Ônibus mal conservados e, além de tudo, é rotina eles passarem atrasados, causando muito transtorno. Já fiquei esperando ônibus por 50 minutos no sol quente, e a justificativa é sempre que foi o trânsito”, disse a funcionária pública Helany Holanda, que pega diariamente a linha Fortaleza-Pacatuba.

As tarifas também têm aumentado em outras cidades do país e podem subir, em breve, em mais capitais. Prefeituras como as de Teresina e Manaus estudam reajustes.