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Com medo, família de Eduardo passa 24 horas sob escolta policial no Piauí

Teresinha de Jesus diz que tem medo até de pegar o que deixou no Complexo do Alemão - Paula Bianchi/UOL
Teresinha de Jesus diz que tem medo até de pegar o que deixou no Complexo do Alemão Imagem: Paula Bianchi/UOL

Paula Bianchi

Do UOL, em Corrente (PI)

12/04/2015 08h00

Desde que viu o filho Eduardo, 10, morrer após ser atingido por um tiro de fuzil na cabeça na soleira da porta de casa, durante uma ação da Polícia Militar no complexo de favelas do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, a diarista Terezinha de Jesus não sabe o que é andar sozinha pela rua. Após a morte, conta, "virou onça", e se jogou sobre um dos PMs. Com um fuzil apontado para a sua cabeça, ouviu, "matei o filho, também posso matar a mãe".

No começo, eram os amigos e parentes que faziam questão de acompanhá-la. Ao chegar ao Piauí no dia 5 para enterrar o filho em sua cidade natal, a pequena Corrente, a cerca de 850 quilômetros de Teresina, passou a ser escoltada por um policial à paisana, cortesia do governo do Estado, que também cedeu um carro à família.

"Depois dessa tragédia toda, não consigo mais viver lá [no Alemão]. Tenho medo até de ir até a minha casa pegar as minhas coisas", diz Terezinha. "Na hora, gritei tanto que todo o morro todo correu para lá. Se eu pudesse, tinha pegado de volta o fuzil e atirado no PM que matou o meu filho."

Do começo ao fim do dia, o policial, que preferiu não se identificar, acompanha a rotina da família, hospedada na casa de quatro cômodos e chão de terra batida de Lurdes, uma das irmãs de Terezinha, no bairro do Vermelhão, na periferia da cidade. Lá ela, o marido José Maria e suas duas filhas dividem o espaço com Lurdes e os seis filhos da irmã que ainda moram junto à mãe. Ela conta que preferiu dispensar o hotel, oferecido pelo governo, por se sentir mais segura "em casa".

O policial também faz às vezes de motorista. Às vésperas da missa de sétimo dia da morte de Eduardo, realizada neste domingo (12), levou todos ao mercado para comprar flores e velas. No fim da noite, ajudou a carregar uma cruz confeccionada especialmente para a ocasião.

"Ele se tornou um amigo, também é pai de família, ficou comovido com a situação", diz José Maria, pai de Eduardo. "Me dói perceber que as pessoas que deveriam nos defender são as que menos fazem isso. Nunca fomos ameaçados por bandidos, sempre pela polícia."

Na quarta-feira (15) a família, que pretende voltar a morar no Piauí o mais breve possível, retorna ao Rio a fim de acompanhar as investigações da morte de Eduardo e organizar a mudança.

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