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Sem-teto incendeiam colchões, e Choque entra em prédio de Eike no Rio

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

14/04/2015 06h55Atualizada em 14/04/2015 10h55

Uma semana depois de mais de cem pessoas ocuparem o edifício Hilton Santos, no Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, os sem-teto começaram a deixar o prédio, escoltados por policiais militares, por volta das 10h desta terça-feira (14). Durante a saída, colchões foram incendiados no segundo andar do edifício e, com isso, PMs do Batalhão de Choque entraram no local para retirar os ocupantes que haviam resistido. Pelo menos três pessoas foram detidas.

Um ônibus e mais de 20 carros da Polícia Militar foram deslocados para o local para cumprir a decisão. A reintegração de posse do imóvel foi determinada na última quinta-feira. A Defensoria Pública do Estado tentou, sem sucesso, reverter a decisão. Os sem-teto resolveram sair após a chegada de agentes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, que levaram lanches e água.

A Polícia Militar interditou a avenida Ruy Barbosa, e a circulação dos carros está bloqueada. O desvio de trânsito é feito pelo Aterro do Flamengo e pela praça Nicarágua. Também há veículos do Corpo de Bombeiros no local. Após saírem do prédio, muitos dos ocupantes correram para o Aterro do Flamengo.

A Defensoria Pública do Estado tentou judicialmente que os ocupantes fossem cadastrados em um programa de aluguel social antes da reintegração. "Levando em conta que o prédio sempre esteve abandonado e não havia proveito econômico nenhum, a reintegração está sendo feita de forma insensível, extremamente rápida. Isso não tem sentido", afirmou o defensor público João Helvécio de Carvalho, que está no local.

O imóvel pertence ao Clube de Regatas Flamengo e foi arrendado em 2012 pela Rex Hotel, imobiliária do grupo EBX, do empresário Eike Batista, para a construção de um hotel cinco estrelas.

Quando foi ocupado, o edifício se encontrava abandonado, com sinais visíveis de degradação. Na madrugada da última terça-feira, o cenário dos dois primeiros andares se transformou radicalmente.

Nos amplos corredores e salões do prédio, os novos moradores se instalaram em colchões encontrados nos apartamentos vagos e degradados dos andares superiores. De acordo com ocupantes, cerca de 250 pessoas se revezaram no edifício desde o início da ocupação, que é feita majoritariamente por removidos em 26 de março de terreno da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) na zona portuária.

Na decisão em favor da Rex Hotel, proferida pela juíza Martha Elisabeth Sobreira, da 47ª Vara Cível, a invasão do prédio é classificada como um problema “nitidamente social”. “Mas não se pode preterir o direito de propriedade em função de uma coletividade que deveria estar assistida pelo Estado, exercendo sua cidadania com dignidade”, diz o texto.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com representantes da Rex Hotel ou do grupo EBX.