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Parto, incêndio e confronto marcam reintegração de posse de prédio de Eike

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

14/04/2015 11h23Atualizada em 14/04/2015 17h17

Antes mesmo das 6h desta terça-feira (14), horário marcado pela Polícia Militar para a reintegração de posse do edifício Hilton Santos, no Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, ainda durante a madrugada, uma mulher entrou em trabalho de parto dentro do prédio, já cercado pela PM, e deu à luz seu sétimo filho, que nasceu prematuro, com 34 semanas, dentro do prédio.

A mãe, Fernanda Aldeir, 35, e o bebê foram levados para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Botafogo, também na zona sul e, em seguida, para o Hospital Municipal Couto, na Gávea. Segundo a Secretaria de Saúde do Rio, o bebê, que pesa pouco mais de 1,5 kg e mede 40 cm, passa bem e se encontra na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal do Hospital Miguel Couto. A mulher ainda não tem previsão de alta.

Horas depois, o pai da criança, Carlos Souza, deixava o local em circunstâncias também turbulentas. O grupo de cerca de cem pessoas que ocupava o prédio há uma semana começou a sair após negociações com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. No entanto, alguns ocupantes atearam fogo em colchões no interior do edifício, o que levou os policiais do Batalhão de Choque que estavam no local a invadir o prédio. O fogo nos dois primeiros andares foi rapidamente apagado pelos bombeiros.

Houve tumulto e correria –ocupantes jogaram pedras conta os policiais, que revidaram com gás de pimenta. Alguns sem-teto correram para a praia do Flamengo, enquanto outros ocuparam a praça Cuauhtémoque, que fica ao lado do prédio. Onze pessoas foram levadas para hospitais públicos após o incidente por ferimentos ou princípios de intoxicação. Três pessoas foram detidas, sendo que uma delas foi um PM, por uso de força excessiva. Eles foram encaminhados para a 10ª DP.

Durante a varredura no prédio, os policiais encontraram um coquetel molotov, de acordo com a assessoria de imprensa da PM.Os policiais permanecem na região para  garantir a ordem no local.

A reintegração de posse do imóvel foi determinada na última quinta-feira. A Defensoria Pública do Estado tentou, sem sucesso, reverter a decisão.

O imóvel pertence ao Clube de Regatas Flamengo e foi arrendado em 2012 pela Rex Hotel, imobiliária do grupo EBX, do empresário Eike Batista, para a construção de um hotel cinco estrelas.

Quando foi ocupado, o edifício se encontrava abandonado, com sinais visíveis de degradação. Na madrugada da última terça-feira, o cenário dos dois primeiros andares se transformou radicalmente.

Nos amplos corredores e salões do prédio, os novos moradores se instalaram em colchões encontrados nos apartamentos vagos e degradados dos andares superiores. De acordo com ocupantes, cerca de 250 pessoas se revezaram no edifício desde o início da ocupação, que é feita majoritariamente por removidos em 26 de março de terreno da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) na zona portuária.

Na decisão em favor da Rex Hotel, proferida pela juíza Martha Elisabeth Sobreira, da 47ª Vara Cível, a invasão do prédio é classificada como um problema "nitidamente social". "Mas não se pode preterir o direito de propriedade em função de uma coletividade que deveria estar assistida pelo Estado, exercendo sua cidadania com dignidade", diz o texto.

De acordo com o diretor jurídico do Flamengo, Bernardo Accioly, que esteve no local nesta terça, o clube considera "a falta de segurança que possibilitou a ocupação do edifício "foi uma falta grave no contrato". "Vamos estudar o que vamos fazer, mas por enquanto, a posse volta para a Rex", declarou. Segundo ele, durante a reintegração, houve danos no prédio e muitas janelas quebradas, "mas nada estrutural". A reportagem não conseguiu entrar em contato com representantes da Rex Hotel ou do grupo EBX. (Com Efe e Estadão Conteúdo)