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Mãe diz que jovem, que abandonou a escola, é inocente

Lugar de dificílimo acesso; meninas ao serem jogadas caíram em uma vala - João Brito Jr/"O Olho"
Lugar de dificílimo acesso; meninas ao serem jogadas caíram em uma vala Imagem: João Brito Jr/"O Olho"

Orlando Berti*

Em Castelo do Piauí

10/06/2015 15h30

B.F.O. é o mais novo dos quatro adolescentes acusados de terem cometido um dos crimes mais chocantes da história recente do Piauí. Também é o menor em tamanho e, ao menos visualmente, é confundido facilmente com uma criança.

Franzino e quase raquítico, dividia um dos quatro cômodos da pequena casa do conjunto Vila Nova, também na periferia de Castelo do Piauí, com o irmão de 16 anos, e a irmã, de 14 anos. Mora também com a mãe, a dona de casa Paula (todos os nomes de parentes são fictícios), 40 anos, e o pai, o vendedor de peixes e galinhas, Bruno.

Ele reside ali há pouco tempo, desde outubro de 2014. A casa, localizada em uma rua sem pavimentação e sem saída, foi dada à família, muito pobre, em um dos programas assistenciais do governo. Também recebem o Bolsa Família, principal renda da casa. Há poucos utensílios domésticos e o único eletrodoméstico é um rádio. Mesmo muito pequena tem muito espaço sobrando. O único utensílio grande é um guarda roupa bem castigado pelo tempo e uso.

B.F.O. só virou cidadão brasileiro de verdade quase dois anos depois que veio ao mundo. Nasceu em 21 de janeiro de 2000, mas só obteve certidão de nascimento em 31 de outubro de 2001.

Depois do crime, dona Paula passa o dia na porta de casa. Suas únicas companhias são três cachorras (uma delas muito valente e outra muito simpática) criadas pela família. Ela, que sofre de depressão há quase 15 anos (inclusive com internações no hospital psiquiátrico Areolino de Abreu, em Teresina) chora e se entristece. É dependente de três tipos de medicamentos psiquiátricos. Ainda não viu o filho após a prisão.

De todos os parentes entrevistados dos quatro adolescentes acusados pelo crime Paula é a única a dizer que tem certeza absoluta que o filho é inocente.

Ela diz que o filho parou de estudar na 5ª série. “Ele não queria ir mais”, comentou, sobre o fato de B.F.O. não frequentar a escola e passar o dia ocioso. “Ele gostava de sair”. A mãe também diz que não sabia que o filho tinha sido preso outras vezes e que respondia a vários crimes, inclusive o espancamento e assalto a um idoso.

No momento da entrevista com dona Paula, o irmão do adolescente chegou à residência. Ele diz que algumas pessoas da cidade o confundem com o irmão. Visivelmente irritado também acha que o irmão é inocente. “Ele fazia era dispensar as meninas que queriam ficar com ele. Então por que iria fazer isso?”, indagou.

A mãe de B.F.O. diz temer vingança com a família. Ela lembra que nunca tirou uma foto com o filho e também que nunca soube do envolvimento do filho com entorpecentes.

Confira as outras histórias dos acusados de envolvimento no caso:

*Reportagem publicada originalmente no site “O Olho”